Estudiosos dos Ideogramas Chineses
12 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo no China Daily sobre Richard Sears, estudioso dos ideogramas chineses, website sobre o assunto
Apesar do conhecido conceito de que um intelectual japonês precisa conhecer 10.000 ideogramas e um chinês 40.000 ideogramas, um interessante artigo publicado por Zhang Lei no China Daily, informa que um estudioso norte-americano chamado Richard Sears, nascido no Tennessee e atualmente residente na China, lecionando física na Beijing Normal University, chegou a relacionar a surpreendente quantidade de 96.000 ideogramas, incluindo os arcaicos, mantendo hoje um website sobre o assunto mais acessado que os oficiais daquele país. Todos sabem que os chineses utilizam somente os ideogramas, enquanto os japoneses e coreanos simplificaram suas escritas, utilizando também alfabetos silabáticos.
Richard Sears
Seu interesse sobre o assunto começou quando de sua visita a Taiwan, em 1972, e a sua pesquisa já se estende por 20 anos, custeada por si. Atualmente, com 62 anos, adotou a filosofia chinesa que “viva até ficar velho, aprenda até ficar velho”. Ele utilizou três livros antigos como base do seu banco de dados. 11.109 ideogramas vieram principalmente do que chamam de “seal character”, algo como ideogramas dos selos – que são utilizados nas assinaturas ou autenticações, encontrados nos antigos textos de ShuoWenJiezi. Outros 31.876 ideogramas que chamam de “Oracle bone characters", algo como ideogramas religiosos, do XuJiaGuWenBian. E, finalmente, 24.223 ideogramas do chamado “bronze characters”, também como ideogramas gravados em bronze, do JinWenBian.
Richard Sears providenciou as falas fonéticas em mandarim, taiwanês e cantonês para os ideogramas, e como alternativa ao “seal characters”, aproveitou também o de LiuShuTong.
O seu website vem sendo elogiado pelos chineses e permite chegar às formas iniciais destes ideogramas, que começaram dos desenhos simples, e foram evoluindo, permitindo obter informações etimológicas. No entanto, o levantamento é complexo, pois as informações disponíveis são contraditórias entre os diversos autores. 6.552 análises etimológicas completas foram efetuadas sobre os mais comuns e modernos ideogramas. Ele entende que existem muitos trabalhos a ainda serem feitos, com correções e aperfeiçoamentos. Acaba recebendo subsídios adicionais dos que acessam o seu website.
Na digitalização que foi efetuando, descobriu que 90% dos ideogramas permitem ser rastreadas até a sua etimologia, mas muitos contam com opiniões diferentes de diversos autores, e cerca de 10% não se sabe sobre a sua forma original. Para os que não estão familiarizados com os ideogramas, pode-se esclarecer que muitos são compostos de diversas raízes em que cada um tem um significado claro, podendo se conhecer o significado sem se conhecer o ideograma composto.
Neste sentido, as palavras chinesas, e de onde se originaram as japonesas e coreanas, são precisas nos seus significados, não havendo possibilidade de discussões semânticas como as que ocorrem em outros idiomas.
Em muitos museus chineses encontram-se pedras onde foram gravadas algumas formas originais de alguns ideogramas, bem como trabalhos caligráficos com estas antigas escritas. Também como curiosidade, um bom intelectual japonês que conheça muitos ideogramas mais difíceis, pode-se comunicar com um chinês escrevendo-os, ainda que não saiba como são lidos em mandarim, cantonês ou taiwanês, ou ainda os mais de três dezenas de idiomas que são utilizados na China. E pode receber a resposta, também escritos em ideogramas.
Passei por experiências concretas deste tipo, quando na companhia de um professor japonês negociamos o preço de um selo com o meu nome com um artesão chinês. E também quando solicitei a um famoso calígrafo chinês que escrevesse “tigre”, que corresponde ao ano do meu nascimento.
Apesar de toda a complexidade para um chinês que precisa ter o conhecimento de muitos ideogramas, é preciso ter a consciência que os seres humanos costumam utilizar somente uma pequena parcela dos seus neurônios. Na medida em que as crianças chinesas são submetidas ao conhecimento de maior número de ideogramas, bem como os sons correspondentes às suas leituras, ou suas leituras oculares, acabam sendo induzido a utilizarem mais dos seus neurônios, o que pode lhe proporcionar algumas vantagens.
Tudo isto não deixa de ser fascinante, podendo estimular estudiosos como Richard Sears. Além de reduzir a demência entre os idosos, como os provocados pelo Alzheimer, havendo algumas possibilidades de menos vítimas de Parkinson, diante da elevada atividade mental. São meras hipóteses, pois não sou um médico neurologista nem geriatra, não desejando ser processado pelo exercício ilegal da medicina.