Interpretação das Relações Sino-Japoneses na Era Meiji
26 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: abordagem biográfica, contradições da época, publicado no The Japan Times, resenha do livro Ásia para os Asiáticos | 2 Comentários »
Florian Coulmas, reconhecido como um profundo conhecedor do Japão e da Ásia, publicou no The Japan Times uma resenha do interessante livro “Asia for the Asians: China in the Lives of Five Meiji Japanese”, de Paula S.Harrell, publicado pela Mervin Asia em 2012. Como é do conhecimento geral, a Era Meiji caracteriza-se pela abertura do Japão para o Ocidente. Mas, segundo o articulista, esta absorção da tecnologia e cultura ocidental era para os japoneses uma defesa contra o potencial imperialismo dos Estados Unidos e países europeus. Os chineses confiavam na sua longa história e cultura como defesa, ainda que a dinastia Qing estivesse em evidente decadência. A surpreendente vitória militar japonesa sobre a China em 1895 teria aumentado o desdém dos japoneses pelos chineses da época. O livro se baseia na biografia de cinco japoneses da época, muito diferentes entre eles, que tinham interesses no desenvolvimento da China da época. Reflete também as contradições existentes neste período no Japão como na Ásia sobre a política de fortalecer suas relações, diante da ameaça Ocidental, problema que parece perdurar até hoje.
Segundo a resenha, a autora baseou-se na vida do príncipe Atsumaro Konoe, político influente na atual Gakushin University, na época Peers School, um forte defensor da política Ásia para os Asiáticos. Do pedagogo Unokichi Hattori, que criou uma instituição de ensino superior em Pequim e que testemunhou a revolta dos Boxers. Da professora Misako Kawahara que aceitou ensinar em Xangai, e passou depois para a Mongólia para incutir o tipo de ensino japonês naquele país ocupado. De Naniwa Kawashima, um aventureiro antiocidental que ascendeu a uma posição influente junto à burocracia Qing. E Nagao Ariga, professor da atual Universidade de Waseda, na época Senmon Gakko de Tóquio, que assessorou os chineses sobre a reforma constitucional.
Todos eram indivíduos talentosos que viveram uma época turbulenta, e a autora Paula S.Harrell consegue descrever o drama em evolução, com o Japão procurando consolidar-se como uma nação civilizada, travando guerras que achavam justas, contra a China e a Rússia.
O Japão, que tentava conter a influência ocidental, numa das contradições, acabou se juntando a elas para subjugar um levante antiocidental na China. Proclamando a solidariedade à China, fazia apologia ao separatismo da Manchúria. Abraçando as instituições de governança dos Ocidentais, procurava as orientações de Confúcio, ao mesmo tempo em que se envolvia em atrocidades.
Ao mesmo tempo em que os personagens escolhidos admiravam a cultura chinesa, levavam para lá seus conhecimentos técnicos, de educadores e diplomatas. Alegando o desejo da expansão do Estado de Direito, encarnavam a ambição japonesa de se tornar um global player, utilizando a força militar. O sucesso nos campos de batalha conduziu-os ao mesmo cinismo da natureza oportunista dos ocidentais.
Em 1911, segundo o autor da resenha, a cortina caiu sobre o período Meiji e a dinastia Qing. Enquanto o Japão tinha conseguido modernizar-se, a China ficou hesitante. O papel exercido pelos cinco personagens, apesar de suas boas intenções com a China, acabaram por ajudar no novo papel que o Japão exerceu na Ásia e no mundo.
Pelo visto, o mundo continua o mesmo, e a leitura deste livro pode ajudar na compreensão de muitos problemas atuais.
Parece que depois da derrrota na guerra do Pacífico, o Japão abriu mão de um papel mais ativo na Ásia, tornando-se muito passivo em relação as mudanças na região. É uma pena tal política externa tímida, pois não só perde o país, em termos de oportunidades, como a região poderia ganhar mais com uma opção democrática de desenvolvimento econômico e social.
Caro Mike,
Obrigado pelo seu comentário.
Paulo Yokota