Mudanças Econômicas Difíceis de Serem Compreendidas
8 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: difícil para os brasileiros, mais para os estrangeiros, mudanças no mundo, o que acontece no Brasil
Quando acontecem fenômenos inusitados na economia brasileira ou mundial, mesmo os melhores analistas ficam perplexos. Quanto mais os jornalistas estrangeiros, muitas vezes carregados de preconceitos. Louise Lucas e Samantha Pearson, do Financial Times, não conseguem avaliar corretamente a substancial melhoria da distribuição de renda no Brasil, usando expressões ofensivas como “colônia de escravos” que se tornaram componentes da classe média, passando a consumir no que certamente seria uma “bolha”. E rachaduras começam a aparecer na economia brasileira, que corre o risco iminente de entrar numa depressão.
O prêmio Nobel de Economia, Joseph E. Stiglitz, publica um artigo no Project Syndicate, referindo-se as “Crises pós-crises”, apontando as dificuldades que ainda estão por vir. Mas admitindo também que no mundo ocorreu uma significativa redistribuição de renda. O fosso entre os países emergentes e os avançados diminuiu muito nas últimas três décadas, o que nem sempre é apontado pelos analistas, com um dado novo fazendo com que no mundo industrializado perca de importância, quando novos países ganham maior projeção.
Ninguém pode negar que existem problemas na economia brasileira como na mundial. Mas deveria haver um mínimo do benefício da dúvida, para desconfiar que algumas coisas novas estão ocorrendo, e nem sempre as análises mais tradicionais conseguem captar as mudanças.
O artigo do Financial Times lista as mudanças de consumo que estão ocorrendo na nova classe média. Mas será que eles imaginam que depois desta “bolha” os consumidores deixarão de usar os celulares? Que as jovens que ingressaram no mercado, que passaram a utilizar cosméticos de qualidade, voltarão a utilizar somente o sabão? Que os que passaram a consumir yogurtes voltarão ao simples leite? Que estão consumindo nas lojas voltadas aos produtos para pets acabarão abandonando estes animais?
Muitos atribuem o aumento do consumo somente a programas sociais como a Bolsa Família, sem perceber que houve uma significativa mudança qualitativa. Atribuem ao governo o estímulo ao consumo, como se houvessem indústrias que produziriam produtos que não contam com demanda. Mesmo que alguns sejam importados, a tendência é que a produção local procurará atender estas novas demandas. O processo de desenvolvimento é uma contínua perseguição da produção para atender demandas que se diversificaram e aumentaram.
O mundo está passando por um novo ciclo de migrações, com os milhões de desempregados nas economias avançadas procurando oportunidades novas nos países emergentes. Muitas indústrias estão se deslocando e os seus empresários acabarão encontrando formas mais eficientes de aproveitar os recursos naturais disponíveis no mundo emergente.
Certamente existirão muitos problemas e as pressões para resolvê-los aumentarão, tanto da parte dos consumidores como dos produtores. E os governos serão obrigados a atendê-los, inclusive com parcerias público-privadas.
E em países como a China e o Brasil, há uma interiorização crescente das atividades industriais, como de produção primária e de serviços, pressionando por preparos mais adequados dos recursos humanos. O mundo não está estagnado, mas transformando-se de forma dinâmica. Não seria isto o desenvolvimento, com consequências política, sociais e culturais?