Os Cem Anos da Tomie Ohtake
27 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a First Lady das Artes Plásticas Brasileiras, dificuldades para compreendê-la totalmente, exposições, muitas reportagens
Como neste ano de 2013 comemora-se os cem anos de vida da Tomie Ohtake, muito se escreverá sobre ela, inúmeros eventos serão realizados, variadas versões serão dadas sobre a sua personalidade e a sua contribuição, tanto para as artes plásticas brasileiras como para o exterior. Só no Instituto que leva o nome dela informa-se que estão programadas três exposições sobre seus trabalhos. Além do muito que já foi publicado, inclusive livros sobre ela e sua obra, dos críticos mais abalizados.
Mas, como uma boa japonesa que ela é, ainda que tenha vivido a maior parte de sua vida no Brasil, onde se consagrou como artista plástica, todos nós só teremos possibilidade de entendê-la em partes de suas muitas facetas, tão rica é a sua personalidade. Na Serafina, suplemento dominical da Folha de S.Paulo, está sendo apresentada uma entrevista, com visita à sua residência e ateliê, tentando dar uma visão panorâmica de Tomie Ohtake e sua obra, numa matéria elaborada por Cadão Volpato e fotos de Ludovic Carème, como que inaugurando esta maratona.
Tomie Ohtake: escultura na Avenida 23 de Maio e Vermelha, acrílica de 1985
Conheci Tomie Ohtake ainda na época do saudoso grupo Seibi, convivendo com nomes já mais conhecidos na época como Yoshiya Takaoka, Yuji Tamaki, Tomoo Handa, Manabu Mabe e Tikashi Fukushima, entre muitos outros, pois ela começou a pintar tardiamente, diferindo do usual entre os grandes artistas. Acompanhei a sua evolução para um abstrato diferenciado dos outros que tinham traços gesticulares mais claros, de origem na caligrafia oriental, chinesa e japonesa.
Sua obra sempre me deu a impressão de algo zen, decorrente de uma introspecção profunda, para se chegar a uma síntese de formas e cores, que sempre me pareceu mais universal. Onde está sua forte marca brasileira? Como nos impressionistas, os artistas de origem japonesa ficavam maravilhados com o Brasil pela força de suas cores que estava no ar, que não os inspiravam tanto como nas regiões de clima temperado. A luz é diferente, é o que afirmam muitos deles…
Sua popularidade decorre, na minha modesta opinião, não somente pela qualidade do seu trabalho, mas da simpatia no relacionamento com as pessoas, ainda que o seu forte seja o que consegue transmitir com sua arte. Evidentemente, falando em japonês ela é mais fluente.
Apesar de ser uma grande intelectual, Tomie Ohtake é simples, principalmente nos contatos com os que lhe são mais íntimos, que sabem que estão com ela pela simples amizade, sem os interesses e as badalações que sempre existem nas atividades artísticas, em qualquer lugar do mundo. Era comum, mesmo nas altas horas depois de um vernissage, ela perguntar aos amigos: “onde vamos agora?…”
Ela gosta de um simples e bom missogiru, se possível preparado por um missô caseiro, como continua sendo do seu cotidiano. Mas também lembro-me de uma viagem que fizemos para o Japão, onde ela apresentava seus trabalhos numa famosa, mas pequena instituição. Jantamos juntos com os seus filhos Ruy e Ricardo, num restaurante que ficava no alto de um edifício junto ao Parque Hibiya, em Tóquio. Ela se encantou com um tempura que vinha com uma escultura feita com algumas massas, como costuma ser apresentado no Japão.
Muitos artistas brasileiros ficaram conhecidos no exterior pelas divulgações com que contaram, com os patrocínios e as estratégias que escolheram. É o caso como do Manabu Mabe, que, além do Japão, contou com o reconhecimento a partir de Washington, com muitas de suas obras nos acervos de grandes museus internacionais, que parte substancial se perdeu num desastre aéreo.
Tomie Ohtake parece ser uma unanimidade no Brasil, ainda que não conte com esquemas semelhantes no nível internacional. Mas o título de First Lady das Artes Plásticas Brasileira é legitimamente dela, não se restringindo à pintura, como muitos monumentos espalhados pelo país. Vamos continuar a ter grandes alegrias durante o ano.