Cinquenta Anos de MPB no Japão
5 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, webtown | Tags: anos sessenta, gravações, influências, Joyce até os últimos anos, MPB no Japão, Nara Leão em 1985
Assisti a um show da Joyce no Sesc Pompéia, onde ela se prepara para escolher entre lançar no Brasil o álbum “Rio”, com as canções consagradas que cantam a sua cidade natal ou o “Tudo”, que ela explica que incorpora novas músicas, ambos gravados no Japão, como a maioria dos seus discos importantes, nesta sua volta ao país. O bom programa me levou a refletir um pouco da história do MPB – Música Popular Brasileira naquele país. Quando visitei o Japão, ainda nos anos sessentas do século passado, há cerca de cinquenta anos, este movimento ainda estava começando a se esboçar. Conhecia-se um pouco do sucesso que Sérgio Mendes já fazia nos Estados Unidos e alguns japoneses que já conheciam o jazz e que se encantavam com o samba e a nova batida da Bossa Nova.
Já em 1985, quando morei um tempo no Japão, tive a oportunidade de levar Nara Leão para lá, que estava acompanhada por Roberto Menescal. Depois desta época, o Japão passou a ser um dos principais mercados para bons músicos brasileiros, onde todos procuravam gravar seus discos, contando com as melhores instalações e equipamentos possíveis, visando também o mercado internacional. Todos os nomes importantes do Brasil passaram pelo Japão, alguns com temporadas mais longas como Joyce, outros por apresentações pontuais. A maioria dos brasileiros gravou no Japão nas três últimas décadas, aproveitando para apresentar shows. Muitas salas no Japão se especializaram na MPB, inclusive a filial do Blue Note de Nova Iorque que é melhor que a matriz, além de pequenos estabelecimentos que proliferam em Tóquio, alguns de alto luxo.
Joyce Nara Leão Blue Note Tokyo
A música brasileira tornou-se popular no Japão, havendo até um desfile carnavalesco, todo ano, no bairro de Asakusa, em Tóquio. Alguns eventos, como os promovidos pela Câmara de Comércio Brasileira no Japão, atraem dezenas de milhares de japoneses, onde a música é um dos itens mais importantes.
Muitos estabelecimentos japoneses dedicados ao jazz também costumam receber consagrados artistas brasileiros que sempre contaram com um mercado atrativo no Japão. Qualquer deles de renome internacional reconhece que é lá que contam com as melhores condições para gravar seus discos voltados para o mercado mundial, ainda que sejam mais caros que os gravados no Brasil. A qualidade dos mesmos não permite comparações.
Alguns compositores japoneses reconhecidos internacionalmente também gravam músicas brasileiras, notadamente os instrumentais. Recentemente, alguns jovens, descendentes de brasileiros ou não também gravam e trabalham no Japão, conseguindo sucesso.
O que se estranha é que este intercâmbio parece de uma só mão. Dos brasileiros para os japoneses, sendo que os japoneses entram somente com suas instalações, equipamentos e alguns músicos para o acompanhamento, além do público. Poucos são os brasileiros que cantam ou tocam produções dos japoneses, mesmo os que são considerados bons em termos internacionais, próximos do jazz. É o caso dos dois álbuns da Joyce, “Rio” e “Tudo”, onde pouco se observa do que ela absorveu do Japão, talvez uma pitada de um jazz que é mais internacional que japonês.