O Fator Escasso Água
8 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a disponibilidade de água, fator restritivo em muitas regiões, o declínio da civilização maia, outras considerações
Fernando Reinach é um consagrado biólogo que escreve regularmente para o jornal O Estado de São Paulo, onde mantém a sua coluna. No última, ele relata os estudos que informam que o declínio da civilização maia decorreu de uma grande seca que afetou a região dos Andes, onde habitavam. Segundo ele, estudos efetuados na caverna de Yok Balum, que fica em Belize, a 1,5 quilômetro de Uxbenká, uma cidade maia, comprovam que a sua decadência ocorreu com as fortes secas que se observaram no passado, o que foi obtido por correlação.
Segundo o autor, as estalagmites surgem no solo das cavernas quando gotas de água caem do teto regularmente, durante milhares de anos, no mesmo lugar. Estas gotas de água contêm minerais dissolvidos, e quando as águas se evaporam os minerais se acumulam no topo das estalagmites. Formam-se colunas que são registros temporais confiáveis sobre o clima por longos períodos.
Biólogo Fernando Reinach e foto de estalagmites
Os cientistas estudaram estas formações de estalagmites na região citada em 2006, compreendendo um período de 2.050 anos, que permitiram identificar a quantidade de chuvas, por semestre. Elas foram fatiadas em camadas de 0,1 milímetro de espessura, segundo o autor.
Utilizaram um método que permite identificar a quantidade de urânio e tório, que possibilitaram identificar as idades de cada uma delas, com precisão. Outra amostra de cada fatia foi utilizada para determinar a presença de isótopo 18 do oxigênio, e sua maior quantidade está relacionada com maior quantidade de água, e da mesma forma o seu inverso.
Estabeleceu-se um gráfico com a quantidade chuvas, por semestre, por 2.050 anos. As maiores secas ocorreram em 1535 e em cinco anos de 1765 e 1800, como demonstrados neste gráfico.
Como os maias dispunham de um sistema sofisticado de calendário, eles registraram os principais eventos políticos e as construções de pirâmides e outras obras. O período áureo da sua civilização ocorreu em torno dos anos 300, e suas grandes obras em torno de 400.
A primeira grande seca ocorreu em 820 e durou 15 anos. Outra ocorreu em 910 e durou dez anos. A civilização maia ainda viveu na região até 1000, quando nova seca de cerca de 100 anos provocou a sua decadência.
Estes estudos demonstram que a falta de água pode determinar a decadência de uma importante civilização como a dos maias. Muitos povos vivem em regiões de baixas precipitações pluviométricas, desenvolvendo técnicas para a utilização eficiente das águas.
O Brasil, como conta com abundância de águas em algumas regiões como a Amazônica, tende a utilizá-las com grandes desperdícios, ainda que suas captações estejam passando para longas distâncias das grandes metrópoles. Mas a água potável está se tornando escassa no mundo, e a transformação das salgadas implicam em elevados custos.
Parece necessário que a população esteja acompanhando com cuidado as recomendações de algumas autoridades, para que o seu uso não provoque desperdícios.