Observações Críticas Sobre a Economia Brasileira
25 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: as limitações, aspectos positivos, novas situações, observações críticas | 4 Comentários »
Mesmo admitindo que se viva uma nova economia no mundo com acentuadas flutuações na economia, alguns países desenvolvidos apresentando crescimentos ainda modestos enfrentando agudos problemas, outros enfrentando grandes dificuldades para sair do vermelho como muitos europeus, emergentes acusando expansões mais modestas junto com novas dificuldades como a China e a Índia mais marcadamente, até os que registram os aspectos positivos do Brasil passam a também enfatizar suas limitações. Um exemplo é o artigo publicado por Helga Jung, da Allianz da Alemanha, publicado no Valor Econômico. Ela credita o país pelo crescimento da última década, a ampliação do seu sistema de liberdade democrática e uma significativa melhoria na distribuição de renda, o que seriam invejados por outros países.
Mas, quando muitos países procuram ampliar os seus entendimentos com outros do exterior com acordos de parcerias econômicas, ela registra que o Brasil e a Alemanha não conseguem um acordo mínimo que facilitem os investimentos alemães no Brasil. Mesmo sem concordar com posições como o de Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, de que a economia brasileira já esteja em declínio ou outros brasileiros que lamentam as dificuldades de gestão, sem que o governo tenha uma clara política de médio e longo prazo, parecendo atender somente pontualmente os seus problemas mais agudos.
Helga Jung Ruchir Sharma,
Todos observam que o Brasil vinha crescendo beneficiado pela melhoria da economia mundial, cresceu 7,5% em 2010, apesar da crise mundial de 2007/2008, mas foi reduzindo a sua dinâmica com 2,7% de crescimento em 2011 e com menos de 2% em 2012. Suas contas externas começam a enfrentar dificuldades com o seu câmbio valorizado, e os recursos internos disponíveis aparentam ser inferiores aos necessários para atender todas as demandas consideradas prioritárias. Muitos apontam os aumentos das pressões inflacionárias sem que os investimentos sejam suficientes para atender as procuras que continuam elevadas.
Muitos admitem que os juros reais no país fossem realmente exagerados, mas já existem os que achem que as condições locais não suportam as baixas que foram provocadas, principalmente com o uso de instituições oficiais. Mesmo admitindo que a carga tributária no país seja elevadíssima, as baixas pontuais acabam sendo criticadas pela falta de um planejamento mais amplo.
Mesmo que os que efetuam análises mais cuidadosas admitam que algumas tarifas fossem elevadas, as reduções das rentabilidades do segmento financeiro e de alguns aplicadores em valores mobiliários como no setor elétrico, acabam se manifestando contrariados com as atuais cotações das bolsas, influenciando inclusive os meios de comunicação social.
Neste quadro de aumento das incertezas, aumentam as desconfianças de alguns setores privados com relação ao governo brasileiro, sentimento que parece recíproco. O fato concreto é que em todo o mundo as disponibilidades financeiras exageradas não se transformam em investimentos que aumentem a capacidade de produção e geração de empregos. O governo procura atrair os investimentos privados para atender as gritantes insuficiências da infraestrutura disponível, mas as respostas ainda aparentam ser tímidas, diante de editais de concorrência que parecem deixar pontos obscuros. Ou de atitudes que podem ser interpretadas como falta de firmeza do governo com relação às promessas que foram formuladas, como revisões para as importações adicionais para a exploração do petróleo e gás.
Tudo indica que a comunicação social das autoridades tanto com relação aos empresários como a opinião pública merece ser melhorada, notadamente com relação aos analistas do exterior. A acumulação das dívidas em nada contribui para a melhoria do quadro. Mas também medidas mais claras do governo poderiam ajudar na melhoria do ambiente, antes que se tornem obstáculos intransponíveis para as pretensões de novos mandatos, ainda que as oposições aparentem estar igualmente desarticuladas.
Mesmo que este aumento das incertezas não seja um privilégio brasileiro, para as agudas necessidades brasileiras do momento, parece que uma série de esforços necessita ser implementada, passando do mero discurso para ações concretas, que sempre acabam sendo mais convincentes.
Alcançada a marca de 10 anos seguidos frente à presidência da República, o PT se prepara para iniciar uma série de eventos em busca do autoelogio
e de uma espécie de autoavaliação de seus atos frente ao Executivo federal. É evidente que um partido ou outra associação de pessoas qualquer
têm o direito de comemorar, fazer avaliações e traçar rumos para o futuro — mas sabemos que não é o que está em curso.
Durante todo o tempo em que esteve no poder, e até nos últimos três anos nos bastidores, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva jamais se
furtou a fazer comparações levianas entre o seu governo e o do tucano Fernando Henrique Cardoso. O marco dos 10 anos de gestão petista, pelo
visto, terá o mesmo teor. Pelo que se lê na imprensa, a ideia de comemoração do PT é nada mais do que demonizar o PSDB e fechar os olhos
perante as tristes realidades dos governos Lula e Dilma. Para metaforizar e simplificar como se fosse em um jogo de futebol, do jeito que
Lula gosta de fazer: o partido age como um torcedor que anseia a derrota do maior rival e acaba esquecendo da sua própria condição ruim.
( Atenção na capa da cartilha comemorativa de 10 anos do PT, chega até a lembrar os pôsteres soviéticos e nazistas…)
Será mesmo?
O senso comum aponta duas grandes realizações do PT nesses últimos dez anos. Seriam elas: a redução da pobreza e o crescimento da economia.
É evidente que houveram avanços exponenciais no combate à pobreza nos tempos de Lula e Dilma. Negar tal afirmação é ir contra os fatos e a
lógica dos números. No entanto, sabemos que o Bolsa Família é nada mais do que a união de outros projetos sociais, criados durante os governos
Itamar e FHC. Lula possui os créditos de tê-los juntado e ampliado satisfatóriamente o benefício, mas é certo que não o teria feito caso o
Plano Real não tivesse sido implementado, como queriam os petistas. É questão de conjuntura, simples e óbvia. Sem estabilização, nada de investimentos.
Outro fato que chama a atenção, é puramente estatístico/metodológico. O teto da pobreza extrema no país é de R$70. Se um indivíduo passa a
ganhar R$71, ele está oficialmente fora da linha da pobreza, de acordo com os burocratas petistas que creem na vida com R$280 mensais,
enquanto José Dirceu gasta seus últimos dias de liberdade na praia, utilizando uma bermuda importada de R$600. O governo, já se anuncia,
concederá um aumento no Bolsa Família para 2,5 milhões de famílias — apenas o suficiente para que elas ultrapassem a linha da pobreza.
Atingindo os R$70, eles se dão por satisfeitos! A questão deixa de ser de qualidade de vida, de erradicação da miséria, para se transformar
em uma máquina de estatísticas furadas para ganhar eleição. Ademais, não precisamos de estatísticas para constatarmos como ainda existem
pessoas na miséria neste país — basta uma breve caminhada pelas nossas cidades.
Quando o assunto é crescimento da economia, o ex-presidente Lula adora utilizar os dados de seu governo para mostrar a sua “vantagem”
perante seu antecessor. A verdade, no entanto, é que o governo FHC enfrentou sucessivas crises internacionais, e os índices de crescimento
do PIB, quando comparados com os números internacionais, nos dizem muita coisa. A ver: o crescimento mundial durante o governo FHC, foi de
2,75% ao ano, enquanto o do Brasil foi de 2,28%. No período Lula, o crescimento mundial foi de 8,27% ao ano, enquanto o do Brasil foi de
3,55%. Concluímos, portanto, que o país cresceu mais com Lula, mas perdeu na proporcionalidade quando levados em conta os números de todo o
mundo. A economia, como sabemos, não funciona de forma individualizada a cada país, mas como um organismo que recrudesce ou desacelera de
acordo com um todo.
Corrupção
A marca do governo do PT, para milhões de brasileiros, será a corrupção. Não estou aqui a afirmar que o partido inventou a prática. O
fato é que alguns de seus principais membros, que sempre ditaram as regras na sigla — e este é o problema mais grave –, ajudaram a
profissionalizá-la. José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e João Paulo Cunha são petistas graúdos, que viram suas biografias
manchadas pela corrupção, após comprovada a existência do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Neste momento, inclusive, o
Ministério Público de Minas Gerais apura denúncias que podem levar o ex-presidente ao banco dos reus.
Lula, em um momento inicial, chegou a pedir desculpas pelo maior esquema de corrupção da história do país, que ocorreu no seio de
seu partido e do governo — uma mistura, aliás, incestuosa. Mais tarde, chegou a dizer que, ao sair do poder, trataria de “desvendar
a farsa do Mensalão”. E não adianta culpar a imprensa pela contradição em suas palavras, pois está tudo documentado. José Dirceu,
certa vez nomeado chefe da Casa Civil, certa vez nomeado chefe da quadrilha, foi além. Para ficar apenas em uma nauseante declaração:
“Estou cada vez mais convencido da minha inocência”. Certamente, no lugar em que ele passará alguns de seus próximos anos de vida,
existem muitos outros com a mesma ideia espúria e cínica na cabeça.
Mas o Mensalão foi só um dos episódios que comprovam essa profissionalização da corrupção e do envolvimento da cúpula do partido e
de seus aliados alugados no assalto aos cofres públicos. É importante também citar a queda de quase uma dezena de ministros no início
do governo Dilma, todos com fortes suspeitas de desvio de recursos públicos nas costas. O marqueteiro oficial de Dilma tentou colar em sua
imagem a ideia de gestora que não suporta a corrupção, o que é obviamente uma ilusão. A presidente foi a responsável direta por todas as
nomeações. O chamado “presidencialismo de coalisão”, no governo do PT, se transformou em uma feira de chantagens e troca de vantagens.
Agora, no caminho difícil rumo à reeleição, sabemos que Dilma volta a receber aqueles que outrora foram rejeitados pela sua ilusória “faxina”.
Surpresa? Não.
Não é raro ver nomes importantes da crônica política se lamentando por um suposto “desvio de conduta” a que o PT teria se rendido
quando chegou ao poder máximo da República. Trata-se de uma mentira bastante influente, mas óbvia quando analisada a conduta do
partido como oposição. A começar pela recusa ao nome de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral — aqueles que eram da sigla e
depositaram a confiança no mineiro e na democracia, foram sumariamente expulsos –, passando pela recusa a ajudar a colher os
“cacos” da democracia nos tempos pós-Collor… E finalmente chegamos à era FHC, iniciada com as medidas essenciais para a
instalação do Plano Real — ainda no governo Itamar — e marcada também pela aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal: o
PT se opôs a tudo isso. Uma coisa, então, fica clara: quando tiveram de escolher entre o PT e o Brasil, sempre escolheram o
PT. Voltando ao presente: o que é o Mensalão, senão a escolha do partido e de um projeto de poder em detrimento do país?
Com as privatizações que ajudaram a modernizar o Brasil, o PT continuou a sua história de mentiras didáticas e fáceis de
serem engolidas. Quem nunca ouviu a expressão “a Vale foi vendida à preço de banana”, provavelmente não conversou muito
sobre política na vida, não cursou uma escola de segundo grau e nem passou um tempo na academia, onde o petismo também
fincou suas raízes em uma estratégia gramscista poucas vezes observada no mundo. E no entanto, uma pesquisa rápida nos
alimenta de uma informação importante e crucial: em um ano após a privatização, a Companhia Vale do Rio Doce já rendia
mais em tributos ao governo brasileiro do que gerava receita em momento anterior ao leilão.
Recentemente, o PT se rendeu às privatizações, como no caso dos aeroportos. No entanto, apostando na ignorância geral,
o tema surgirá a cada período eleitoral, como forma de denegrir a imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e
de sua equipe. O livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. — acusado de vários crimes, diga-se de passagem —
é um exemplo das contradições do PT. O partido aponta centenas de irregularidades nos processos de privatização, e, no entanto,
nada fez para revertê-las quando no poder, além de jamais ter encontrado algo que estivesse, de fato, errado. Ou não hesitariam em
dar o grito… Você tem dúvidas?
E daqui pra frente?
A Petrobrás, como se noticia diariamente na imprensa, vai de mal a pior. O lucro da empresa sofreu um recúo de 36% em 2012,
colocando um patrimônio que é de todos os brasileiros em risco. Para se ter uma ideia, uma empresa belga comprou uma refinaria
americana ultrapassada por US$42,5 milhões e a nossa empresa, sabe-se lá porque, decidiu entrar em sociedade, comprando 50% das
ações por US$360 milhões (!). O petróleo brasileiro, considerado muito pesado, não poderia ser refinado no local, o que necessitaria
de um investimento de mais US$1,5 bilhão. Uma cláusula do contrato dizia que, em caso de desentendimento, uma das partes teria de
comprar a parte da outra. Pois bem: é óbvio que houve desentendimento, e agora, após perder na justiça dos EUA, a Petrobrás teve de
pagar US$839 milhões (!!!) aos belgas. Exemplo de gestão? São mesmo 10 anos gloriosos no poder? Quem mesmo criticava as privatizações
e a “entrega do patrimônio de todos os brasileiros ao capital estrangeiro”?
Como já disse anteriormente, não tive surpresas com o modo petista de governar. Nunca esperei qualquer ética vinda deles, dados os
comportamentos anteriores. É evidente que casos como o Mensalão nos aterrorizam, mas não são atitudes que colocaríamos como impensáveis
com o PT no poder — afinal, vimos o estranho desenrolar do Caso Celso Daniel em 2001. A corrupção está aí para quem quiser ver — e,
acreditem, muita gente fecha os olhos! — e a infraestrutura do país vê poucos investimentos — vide as “rodovias da morte” pelo país e a
bilionária transposição do Rio São Francisco que não sai do papel. Infelizmente, parece, tudo continuará da mesma forma… E quais são mesmo
são as pautas do partido daqui para frente?
Quem já leu algumas das proposições do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), sabe bem o que o partido quer em relação à reforma política.
Financiamento público de campanha é um dos motes principais. Na prática, o financiamento privado não deixaria de ocorrer via caixa dois,
o que nos faz pensar no óbvio: este mecanismo só serviria para aumentar a sangria nos cofres públicos no momento de pagar a conta.
A lista fechada, por sua vez, é só mais uma artimanha do caciquismo político para enganar o eleitor. Votando no PT, o sujeito elegeria
um mensaleiro ou corrupto qualquer que figuraria entre os primeiros da lista petista para o parlamento.
O dito “Controle Social da Mídia” também é uma tara do partido. No poder há 10 anos, eles continuam criticando a elite, esquecendo que
a elite dominante hoje é a dos companheiros. Se vitimizam a cada suspiro, colocando a culpa na “imprensa golpista” que eles insistem em
querer regular através de seus conselhos loteados e que atendem aos seus próprios interesses. As faculdades de jornalismo Brasil afora,
aliás, contam com professores favoráveis ao regime tanto quanto suficiente para formar profissionais que escrevem com os trejeitos do petismo.
Quando falamos de tomar decisões importantes sofre o futuro da nação, o PT só escorrega. Recentemente, o governo federal se recusou a
discutir a questão dos royalties do petróleo com a sua base no Congresso Nacional, gerando impasses até hoje não resolvidos. O medo de
ferir aliados importantes foi maior do que a vontade de construir um acordo que fosse menos danoso aos envolvidos e à democracia.
O mesmo se deu quanto às regras de repasses do Fundo de Participação dos Estados e Municípios. O governo se omitiu e não buscou uma
resolução para um problema apontado pelo STF, e que agora mergulha os municípios na miséria.
Com tantos escândalos, tantas mentiras e tantos malfeitos — para utilizar o linguajar da presidente Dilma –, fica difícil o PT organizar
algo para mostrar ao Brasil e às suas bases como legado. De toda forma, o partido mostrará mais um produto embelezado pelo seu já
conhecido marketing, que certamente deixaria Joseph Goebbels no genuflexo. Cabe aos que não concordam com esse estilo de governar,
se ater sempre à verdade dos fatos e denunciar todas as práticas ilegais e imorais que venham a ser cometidas. Não podemos ter medo
de falar e escrever as verdades, de forma alguma! Ou teremos mais 10 anos de mentiras contadas como se fossem verdades.
Caro Jefferson,
Estou autorizando a inclusão do seu longo comentário, mas não acho que a paixão política ajude em qualquer debate. Não tenho intensão de defender nem os que apoiam o atual governo como o que o combate, pois acho que todos os eles têm seus méritos e suas falhas. Resumidamente, os problemas de corrupção sempre existiram, e foram mais sofisticados no período FHC, talvez de montantes maiores. Na sua política econômica “congelou-se” o câmbio por diversas vezes, levando o Brasil a falta de competitividade internacional. No regime democrático do qual nos orgulhamos, mesmo no período autoritário, sempre houve mudanças no comando do país.
Paulo Yokota
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Obrigado pela menção.
Paulo Yokota