Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Riscos da Superficialidade das Informações

15 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: critérios sempre difíceis na seleção, os riscos das superficialidades das informações rápidas, separando o joio do trigo

Uma acirrada discussão provocada por um artigo postado neste site sobre o filme Lincoln obrigou-me a refletir sobre a disseminação de visões que são transmitidas por poderosos instrumentos como o cinema, bem como os divulgados pelos muitos serviços disponíveis na internet. Uma revista semanal brasileira, a Veja, publicou uma matéria sobre o lamentável sucesso na Facebook do chamado Bang with Friends, onde centenas de milhares de pessoas se tornaram usuários, procurando primordialmente relacionamentos sexuais eventuais, que podem até resultar em outros mais profundos. Para os que já atingiram uma idade madura este novo mundo acaba nos assustando, com a esperança que as avaliações de toda natureza sejam mais cuidadosas, não se limitando a alguns poucos parágrafos ou imagens.

Já postei um comentário neste site expressando a minha opinião apesar de não ser especialista na história norte-americana, que Thomas Jefferson e seus companheiros que redigiram a Declaração de Independência de 1776 tiveram mais importância que o expressivo papel desempenhado por Abraham Lincoln, tanto para os Estados Unidos como para o resto do mundo. Até mesmo Lincoln reconheceu esta importância e procurou adicionar a sua contribuição. Um livro publicado por David Armitage, doutor em história pela Universidade de Princeton e professor de Harvard, que teve o título original “The Declaration of Independence: a Global History”, 2007, editado em português em 2011 pela Companhia das Letras, São Paulo, parece recomendável para leitura de todos, pois permite uma avaliação mais isenta e profunda de suas repercussões.

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Ainda, o que é apresentado no cinema é pouco interativo, não permitindo que os espectadores expressem suas opiniões diretamente, como já se torna possível em alguns sistemas televisivos, mas somente utilizando outros meios de comunicação social. No caso da internet e todos os meios semelhantes, as mensagens parecem mais instintivas, não permitindo uma análise mais profunda, que não parece atrair muitos jovens.

Mesmo os “pais da Pátria” dos Estados Unidos receberam algumas contribuições europeias e o que já vinha acontecendo em alguns estados americanos, segundo David Armitage. Mas, além da Declaração de Independência referir-se aos motivos que levaram os Estados Unidos da América a esta decisão, observa-se que Thomas Jefferson e seus companheiros incluíram muitos princípios dos direitos humanos que vieram sendo minimamente aperfeiçoados até hoje naquele grande país que criaram.

O livro em referência lista as muitas dezenas de declarações de independência de países que se seguiram, até 1993, mostrando que a grande maioria delas recebeu alguma influência da norte-americana. A independência brasileira, que foi sui generis, é apresentada no apêndice do livro, sem sofrer a influência direta da Declaração americana.

No entanto, consta do livro que “o próprio Jefferson já havia começado a fomentar resistências contra os impérios ibéricos quando, em 1786, encontrou-se clandestinamente em Nimes com José Joaquim Maia e Barbalho, estudante de medicina brasileiro que atendia pelo pseudônimo de ‘Vendek’. Mais tarde, Vendek levaria a Declaração americana ao Brasil”, segundo consta dos papers de Thomas Jefferson a John Jay, em 4 de maio de 1787, compilados pela Universidade de Princeton.

Tudo isto visa sugerir que assuntos sérios deveriam ser cuidados com análises de maior profundidade, para examinar os diversos ângulos envolvidos, com base em documentações históricas, e não somente em romances ou postagens superficiais, para que erros não sejam induzidos. Mesmo com todo o cuidado, sempre fica difícil separar o que merece credibilidade, daqueles que são plantados.