Continuam Sacrificando a Sustentabilidade
24 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dois exemplos lamentáveis, mesmo com as declarações oficiais em contrário, produção de gás do xisto nos Estados Unidos, tráfego de vida selvagem no Oriente
Mesmo aqueles que não são conservacionistas radicais ficam assustados com a acelerada continuidade dos danos ao meio ambiente praticado em nome da necessidade do desenvolvimento ou outras dificuldades como dos seus controles e punições. Os Estados Unidos e a China continuam apontados como os principais poluidores, além de outros fatos que sacrificam a sustentabilidade, apesar dos discursos oficiais pelas suas reduções. Os asiáticos figuram entre os que mais fazem estragos aos animais e plantas que se encontram com risco de extinção.
Um dos casos alarmantes é a exploração do gás do xisto que se tornou a base da política para os Estados Unidos atingirem a sua independência energética e conseguirem a ativação de sua economia como perseguida pelo governo Barack Obama. O site do Bloomberg publica um artigo de Mark Dragem informando que o atual indicado para a Secretaria de Energia, Ernest Moniz, que deverá se examinado pelo Senado no dia 9 de abril próximo, está em situação desconfortável, mas deve ser aprovado. Ele que é atualmente chefe do Instituto de Energia do Massachusetts Institute of Technology – MIT. Esta organização publicou um relatório de 2011 afirmando que os riscos ambientais desta exploração “são desafiantes, mas gerenciável”. Descobriu-se que o relatório foi escrito por representantes da indústria de petróleo e gás daquele país, que possuem interesses profundos nesta discutível posição, que deveria ser independente.
Ernest Moniz
Um outro artigo publicado por High Paxton no The Japan Times informa que os negócios com a fauna da vida selvagem rende igual a drogas e armamentos. O CITES – a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagem está comemorando 40 anos, ele que conta com a adesão de 177 países e lista as espécies que se encontram em risco de extinção.
Os chamados dugongos da Tailândia são decapitados, pois suas lágrimas são consideradas por alguns como essencial para as porções de amor; elefantes são caçados pelos seus marfins; tigres são mortos, pois suas partes são importantes para a cura da letargia na China; tubarões estão sendo dizimados pelas suas barbatanas; primatas conhecidos como Loris são transformados em animais de estimação no Japão; paus-rosa são utilizados para guitarras e pisos aromáticos; chifres de rinocerontes estão em moda no Vietnã para remédios para a ressaca, e assim por diante numa longa lista.
Nos últimos dias 3 a 14 de março foi realizada uma reunião do CITES em Bangkok para ver o que estava se fazendo para impedir estes negócios que envolvem animais vivos ou mortos, todos nas listas de risco de extinção, empobrecendo a biodiversidade mundial.
Existem três listas com os graus de risco, e muitas são as mudanças diante da piora na preservação. Muitas espécies ainda nem são conhecidas. Existem conhecidas 34 mil espécies, sendo que 29.000 são plantas. Mas o CITES não tem poder de punição, que depende dos diversos países, e os participantes só podem lamentar a insanidade que está sendo cometida, mesmo que não possam atuar, deixando um clima desolador. Os participantes, ainda assim, entendem que melhor apontar os problemas do que nada fazer.
No caso do xisto (shale), que são rochas fragmentadas com o auxílio de água e fortes produtos químicos, todos estão conscientes das contaminações do subsolo, bem como os riscos envolvidos na sua manipulação, inclusive no ar. Kevin Connor, diretor do Public Accountability Iniciative, um grupo de pesquisas que estimula a cobrança dos eleitores sobre os eleitos, opina que todos deveriam ser informados que o relatório foi elaborado por profissionais que não podem ser considerados acadêmicos, por estarem sendo pagos pelas companhias de gás.
O presidente Barack Obama vem apoiando o desenvolvimento do barato gás de xisto pela sua fragmentação, e o Departamento de Energia dos Estados Unidos não regulamenta o assunto, que foi deixado para a Agência de Proteção do Meio Ambiente e para o Departamento do Interior.
O próprio indicado para a Secretaria de Energia, Ernest Moniz, não registrou no relatório divulgado que ele estava no conselho da companhia de gás, que prestava consultoria às operadoras de gás. Levantam-se problemas de ética sobre os que elaboraram tais relatórios. O Environmental Defense Fund apóia Ernest Moniz com a posição que no gás de xisto trata-se de uma ponte para energias limpas como a solar.
O artigo da Bloomberg adiciona uma série de outras informações sobre os envolvimentos com a indústria de petróleo e gás. Há que se ponderar que isto não vem acontecendo somente agora, mas que a poderosa indústria deste tipo de energia poluente vem utilizando todo o seu imenso poder em todo o mundo, defendendo os seus interesses nos mais variados setores, ainda que os danos ecológicos sejam evidentes.
Lamentavelmente, para ser realista, é o que acontece também em outros setores que causam danos não somente aos seres humanos como o meio ambiente, como na indústria do fumo e dos armamentos. Há que estar consciente que existem limites para o desenvolvimento, e que os avanços tecnológicos ainda não são suficientes para superar estas restrições, como já temos postado neste site, destacando o pioneirismo do economista Nicholas Georgescu-Roegen, que foi excluído por isto pelo mainstream.