Ofensiva Chinesa na Comunicação Social Internacional
20 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: entrevista à imprensa internacional, ofensiva externa chinesa na comunicação social, prioridade para os Brics, representante do Brasil
O presidente chinês Xi Jinping concedeu a primeira entrevista à imprensa internacional, para a qual foi convidada uma jornalista brasileira, Claudia Safatle, chefe da sucursal de Brasília do Valor Econômico. Constata-se a clara prioridade que a China vai dar ao mundo emergente nos seus reacionamentos internacionais, começando com a primeira visita à Rússia, país com que tem uma grande fronteira internacional, potencialidades de intercâmbio, mas também problemas políticos passados. A próxima visita internacional está prevista para a reunião dos BRICS na África do Sul, tendo revelado na entrevista que deseja entrevistar-se com a presidente Dilma Rousseff para aprofundar os intercâmbios que já começaram com sua visita a Lula da Silva, e deste à China. Não se trata somente do comércio de matérias-primas e produtos primários, mas avançar para setores de intercâmbio tecnológico e produções industriais complementares.
Segundo o artigo públicado pela Claudia Safatle no Valor Econômico, além das perguntas que foram programadas e as respostas na sua íntegra, existem apreciações do seu comportamento que se mostrou objetivo, pragmático e confiante, revelando o domínio que ele conseguiu nos assuntos do país. Ficou claro que a China não tem pretensões hegemônicas, mas é possível concluir que procura se livrar da pinça que os Estados Unidos e seus aliados armam pelo sul, via Oceano Índico e Pacífico, e ao norte pela Aliança Atlântica com a Comunidade Europeia.
Xi Jinping durante entrevista coletiva para diversos órgãos de imprensa internacional
Apesar da entrevista ter sido rigorosamente organizada, nota-se que as prioridades chinesas no campo internacional ficaram claras, com a próxima visita à Rússia, no dia 22, onde deve negociar algumas questões críticas, pois o relacionamento bilateral está relativamente morno nos últimos anos.
A China vem concedendo uma grande prioridade para a África, não somente aos grandes países e onde eles já possuem um bom relacionamento, como uma ofensiva de investimentos como nunca vista, incluindo pequenos países. Não contam ainda com fortes simpatias populares, mas os investimentos que estão sendo feitos acabam atraindo muitos dirigentes africanos. Mas Xi Jinping vai aproveitar a reunião de cúpula dos BRICS que ganha nova dimensão com a sua participação.
Na entrevista, ele se manifestou também sobre os relacionamentos com a Índia, que juntos somam uma população de 2,5 bilhões de habitantes, mais de um terço do mundo. Reconhece algumas dificuldades de fronteira que enfrentam, mas nenhum dos dois países pode ficar indiferente às potencialidades existentes.
Detalhou os relacionamentos com o Brasil, com evidente preparo diante das perguntas anteriormente enviadas. Mas mostrou que pretende incentivar, além do fornecimento de matérias-primas primárias, complementaridades industriais e continuar com algumas pesquisas que estão sendo efetuadas em conjunto. Há indicações que se oferecem para investir em setores básicos, tirando partido de suas disponibilidades econômico-financeiras, como tecnologias que já acabaram desenvolvendo para atendimentos de suas amplas necessidades internas, que se assemelham às brasileiras.
Xi Jinping, como muitos dos novos dirigentes chineses, possui um preparo e conhecimento internacional respeitável e, pelo visto, deseja intensificar as comunicações sociais com o exterior, e os primeiros passos dados são promissores, ainda que tenha muitos obstáculos a serem superados internamente, como os direitos humanos, liberdade de imprensa, corrupções, poluição, péssima distribuição de renda e toda a transformação de sua economia que dependia muito do exterior e que terá que ser transferida para a melhoria do seu mercado interno. A evolução do seu sistema democrático, que já tratamos em outros artigos postados neste site, completa o quadro, mostrando que os novos dirigentes estão conscientes das longas e duras tarefas que têm pela frente.
A integra da entrevista, como publicada no Valor Econômico pode ser acessado no: http://www.valor.com.br/internacional/3052278/china-rica-e-forte-ainda-esta-distante-diz-xi-jinping