Política Econômica Japonesa Segundo Martin Wolf
7 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: cachimbo entorta a boca, outros aspectos importantes, visão de Martin Wolf, visão de um analista financeiro | 2 Comentários »
O editor e principal comentarista econômico do Financial Times teve seu artigo publicado em português no Valor Econômico enfocando principalmente a política que será adotada pelo Banco Central do Japão, o Bank of Japan. Ainda que seja um dos melhores analistas de questões econômicas, o seu artigo parece viesado pela sua posição num jornal de enfoque eminentemente financeiro. Ele informa que o novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, objetiva conseguir passar da atual deflação para uma inflação de dois por cento ao ano. Para tanto, teria designado para o comando da política monetária Hakuhiko Kuroda, ex-vice-ministro de finanças para assuntos internacionais e ex-presidente do Asian Development Bank, um duro crítico da inércia da antiga política econômica japonesa, que será secundado pelos dois vice-presidentes no Bank of Japan, Kikuo Iwata e Hiroshi Nakaso. E o autor pergunta se isto vai funcionar?
Por tudo que se observa na nova política econômica japonesa, que está ficando conhecida no exterior como “Abeconomics”, não parece se concentrar num objetivo de inflação de dois por cento ao ano, ainda que a dívida pública japonesa, que já é das mais altas no mundo, continue crescendo. Na realidade, já está se conseguindo uma forte desvalorização do yen japonês perante as demais moedas, principalmente o dólar norte-americano, que já supera a vinte por cento desde a designação do novo governo japonês. Como existe uma credibilidade nas autoridades que se perseguirá a competitividade da economia japonesa no mundo, mesmo sem a atuação do Bank of Japan, já se conseguiu este que parece um dos objetivos mais importantes desta política.
Shinzo Abe Hakuhiko Kuroda
O autor do artigo, o conhecido Martin Wolf, utiliza tudo que é conhecido em matéria de política monetária tradicional, com todos os seus efeitos sobre a política fiscal, apontando os riscos desta política. Com maior respeito à sua opinião, o seu artigo parece ter sido elaborado há algum tempo, pois os resultados já obtidos são surpreendentes, mas não se centra no objetivo inflacionário.
A grande mudança de política econômica no Japão parece centrar-se no retorno da posição do Japan Inc. que já funcionou nas épocas áureas da economia daquele país, com um forte crescimento que ficou conhecido como milagre japonês. O governo deixou uma posição liberal para se tornar claramente intervencionista, dando retaguarda às ativas posições dos seus grupos econômicos privados, notadamente com relação ao exterior.
Os seus ministérios setoriais, como o de infraestrutura, volta-se a ousados projetos no exterior do seu setor privado, inclusive no Brasil. Usando a sua tecnologia desenvolvida e capacidade de financiamento, com a retaguarda como do JBIC – Japan Bank for International Cooperation, mostram-se dispostas a competir nas concorrências de grandes projetos de transportes, energias e tudo que aparecer pela frente, notadamente nas economias emergentes.
Esta é uma mudança radical, pois a desvalorização cambial desta magnitude torna os seus produtos, mesmo da indústria de material pesado, competitivos, principalmente com a coordenação governamental e suporte financeiro dos seus bancos. Recursos não faltam no Japão, tanto tecnológicos, humanos como financeiros.
O Bank of Japan já parece engajado nesta política, antes mesmo que o seu novo presidente tenha sido examinado pelos parlamentares. Não se trata da economia interna, mas de sua competitividade internacional, que vai acabar ativando sua economia interna e suas empresas, tanto para substituir as importações que vinham se efetuando, como atender os acréscimos de exportação que se tornaram possíveis. E tudo isto acabou sendo aproveitado até pelo G20, pois todos desejam o Japão ativo no mundo, ajudando na recuperação mundial.
Esta parece ser o cerne da nova política econômica, que conta com boas chances para dar certo.
Luz no fim do túnel, finalmente?
Caro Mike,
Uma famosa economista sempre ensinou: a prova do pudim é quando se come. Há possibilidade de sucesso desta política, mas ainda depende do adequado entendimento do governo japonês com o setor privado, bem como dos´projetos que esperam executar no exterior. Há muita água a correr ainda.
Paulo Yokota