Problemas de Infraestrutura Para Escoamento da Safra
26 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: compreensão e necessidades, os duros gargalos no escoamento da safra, os portos, problemas rodoviários e ferroviários
São lamentáveis as notícias veiculadas em toda a imprensa sobre os problemas que estão sendo enfrentados pelas deficiências na infraestrutura para escoamento da safra brasileira. Tanto as rodovias como as ferrovias, bem como os portos, são hoje gargalos que causam pesados prejuízos para os agronegócios, mesmo que se tenha contado com uma das melhores safras brasileiras. Isto vem sendo motivo de críticas às autoridades brasileiras que não providenciaram as mesmas facilidades, no que todos têm razão parcialmente. Mas o irônico é que seria pior se a infraestrutura estivesse mais que disponível e não houvesse o que transportar. As suas melhorias serão forçadas pelos fortes desperdícios em que está se incorrendo, que somente serão sanadas com grandes investimentos que demandam um apreciável prazo para a sua implantação.
As deficiências rodoviárias, desde as zonas produtoras, são gritantes, exigindo-se que se cogite de alternativas, tanto com o transporte ferroviário como hidrográfico, mas começa pelo aumento da capacidade de estocagem nos silos destas zonas, que tenham possibilidade de reduzir os picos das necessidades de transportes. Novas rotas de escoamento estão sendo consideradas como as saídas co Centro Oeste para o Norte, utilizando portos como o de Santarém no rio Amazonas. Ou rodovias em direção à costa leste, por novos portos como na Bahia. Os projetos ferroviários estão atrasados, pois grandes volumes de grãos exigem transportes a granéis, que precisam contar com contrapartidas de volta, como os fertilizantes. A logística só fica eficiente na medida em que contar com cargas nos dois sentidos.
Engarrafamento de caminões rumo ao Porto de Santos / Navio sendo carregado com gãos de soja
Um dos primeiros grandes projetos em que estive envolvido pessoalmente chamava-se Corredores de Exportação, ainda nos anos sessenta do século passado com a ajuda dos japoneses. Estávamos passando do transporte de sacarias para granéis sólidos, providenciando silos no interior para manter os cereais estocados com as umidades adequadas. Do transporte rodoviário passamos para os ferroviários, que contavam com vagões graneleiros, que chegando aos portos contavam com moegas para a transferência rápida para os silos portuários.
Destes silos, por correias transportadoras, os cereais eram transferidos para os navios graneleiros. Isto foi providenciado para os diversos portos que eram importantes naquele período, como o Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, Paranaguá, no Estado do Paraná, Santos, no Estado de São Paulo, e Vitória, no Estado do Espírito Santo. As produções vinham do interior destes estados, inclusive Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Em decorrência da preocupação da falta de produção para estes escoamentos, desenvolveu-se um amplo programa para os Cerrados brasileiros com ajuda japonesa, que passaram a ser grandes produtores de grãos, notadamente a soja.
Na realidade, estes processos de desenvolvimento correm sempre com alguns atritos, pois nem as autoridades nem o setor privado são capazes de dimensionar exatamente as necessidades futuras, que dependem do clima, situação do mercado interno e externo, bem como um amplo conjunto de dados difíceis de serem calculados adequadamente. Os problemas que se observam, que talvez pudessem ser menores que os atuais, acabarão provocando projetos hoje público-privados para a melhoria desta infraestrutura.
Como o Brasil continua competitivo neste setor do agrobusiness, espera-se que uma parte maior da produção primária seja industrializada no país, aumentando os empregos e adicionando valor aos produtos exportados, dependendo menos dos picos de escoamentos rápidos. A soja, por exemplo, poderia ser transformada em óleos e rações, que suportam maior prazo para a sua exportação.