A Lamentável Cracolândia Chegou ao The Economist
6 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde, webtown | Tags: artigo sobre a Cracolândia no The Economist, necessidade de ações sociais além das policiais, solução demorada e difícil, tentativas ainda sem resultados, tristes cenas
Se existe uma chaga social que entristece todos os paulistanos é a lamentável Cracolândia, cuja fama chegou até a ser motivo de notícia no The Economist, para conhecimento do mundo. Diversas ações já foram tentadas, inclusive a internação compulsória, com a devida assistência jurídica, mas os lamentáveis usuários desta terrível droga acabam voltando ao vício, depois de uma curta permanência em instituições especializadas na sua assistência. Os esforços governamentais se concentram no combate aos traficantes, havendo algumas alternativas para o seu tratamento social, inclusive com a criação de centros para proporcionar os seus atendimentos adequados, que acabam exigindo intensos trabalhos voluntários de instituições beneficentes.
O problema não se restringe a São Paulo, ocorrendo também no exterior, mas a sua intensidade parece mais forte por aqui. A ação contra os traficantes não parece ainda eficiente, e ainda que as prisões estejam sobrecarregadas, não se conseguem resultados expressivos. Houve tentativas para a sua dispersão que acabou espalhando por muitos locais da cidade os seus pobres viciados. O fato concreto é que o crack, por ser barato e altamente viciador, acaba atingindo as camadas mais pobres da população. Até o artigo do The Economist acaba admitindo que as ações dos voluntários sejam mais eficientes do que os oficiais.
Esta Cracolândia determinou a deterioração de uma vasta região de São Paulo, afugentando comerciantes e moradores, e muitos paulistanos temem percorrer pela região, mesmo nos seus carros. A região conta com muitas importantes atividades culturais, com instituições de reconhecida qualidade, até para os padrões internacionais. Isto dá mais visibilidade aos olhos dos visitantes, envergonhando a cidade, mas a sua solução é reconhecidamente difícil.
Campanhas estão sendo feitas pelos meios de comunicação social, mas eles ainda que úteis junto a alguns segmentos da classe média, são pouco efetivos nas camadas mais modestas. Somente algumas igrejas e ações de entidades voltadas para assistência dos mais desfavorecidos chegam a alcançá-los. Há que se socorrer de exemplos eficientes que estão se observando no exterior, no mínimo para minorar estas dificuldades que exigem a participação ativa da população, que não pode ficar paralisada somente com o horror.
Os parentes dos viciados, principalmente muitas mães, estão desesperados na procura de assistência que ainda é limitada. Como o crack acelera a destruição dos dentes, um dentista que atua na localidade vem mostrando que muitos pacientes os procuram, podendo se tornar uma forma de convencê-los aos tratamentos.
Tudo indica que a pressão para a instalação de centros especializados no tratamento dos viciados na própria região da Cracolândia acabará sendo o meio mais eficaz, exigindo a ação coordenada de diversos setores da administração pública, com a assistência de entidades sociais. A população necessita dar suporte para estas entidades, não se limitando somente a manifestar o horror com os pobres viciados. Os heroicos esforços de alguns voluntários precisam ser aplaudidos e apoiados, principalmente os que encaram estas tarefas com um sentido inspirado por motivos religiosos. Os casos mais dramáticos da sociedade brasileira são somente suportados por verdadeiros missionários.