Globalização do Japão e Suas Resistências
22 de maio de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: entre os que estão na resistência estão jovens insulares, participação no TPP, problemas do Shinzo Abe, resistências japonesas para a globalização
Um interessante artigo publicado por Chris Burgess, professor de Estudos Japoneses e Australianos na Tsuda College, Tóquio, publicado no The Japan Times, informa que existem diversos segmentos da opinião pública japonesa resistindo às iniciativas como o TPP – Transpacific Partnership, ou seja, a participação do Japão num acordo que envolve muitos países da bacia do Pacífico. O primeiro-ministro Shinzo Abe, dentro de sua política que está sendo conhecida como Abeconomics, entende que a abertura japonesa para o exterior é vital para o crescimento da economia japonesa. O surpreendente é que, além de segmentos que são contrários a estes acordos, como os representativos do meio rural nipônico, o artigo informa que mesmo entre os jovens estudantes japoneses está havendo um desinteresse por uma globalização mais acentuada.
O autor toma como um indicador os recursos humanos japoneses que necessitam atuar no exterior. Os estudantes japoneses que estudavam no exterior chegaram em 2004 a um pico de 82.945, e caíram significativamente para o nível de 1995 recentemente. Muitos vão estudar nos Estados Unidos, e em 1997-98 chegavam a cerca de 47 mil, mas em 2011-12 apresentaram uma queda de 60%, chegando a 19.900 estudantes.
Japoneses protestam contra o TPPP
Observa-se que muitos funcionários de empresas japonesas evitam ser designados para posições no exterior, pois acham que os riscos são elevados, bem como desejam educar os seus filhos nas escolas japonesas. Mas, enquanto os chineses e coreanos estão aumentando estudantes e jovens que estudam no exterior, a redução dos japoneses é um fenômeno inusitado. Confirma-se que os japoneses possuem uma mentalidade insular, com alguns chamando este fenômeno de complexo de Galápagos, e outros utilizam a expressão “uchimuki”, ou seja, voltadas para dentro do Japão.
Alguns líderes japoneses entendem que estes jovens serão responsáveis pelo Japão que ficaria para trás, comparando com outros asiáticos como a China, a Coreia e até países do Sudeste Asiático. Os ingleses pesquisaram sobre os fatores que estariam inibindo os jovens japoneses, constatando que havia o problema da segurança, das despesas e das influências negativas na escola e na empresa, segundo os pesquisados.
Uma pesquisa efetuada pelo Sanno Instituto de Pesquisa de Gestão em 2010 também indicou o que chamam genericamente de risco. Na realidade, com a redução populacional que está ocorrendo no Japão, muitos não sentem a necessidade de trabalhar no exterior, ainda que dentro de um processo de globalização. As empresas japonesas terão que enfrentar estes problemas.
Ainda que muitas empresas japonesas tendam a utilizar sistemas internacionais, tudo indica que os seus funcionários ainda se sentem mais seguros dentro do sistema tradicional de carreira no Japão. Num longo estudo publicado pelo The New York Times sobre japoneses que estudaram ou trabalharam no exterior, observa-se que nem sempre foram devidamente prestigiados quando da volta ao Japão.
Outro aspecto entre os japoneses que acaba se diferenciando com outros asiáticos é o baixo percentual daqueles que dominam o idioma inglês. Existem propostas para que os estudantes japoneses, desde os passos iniciais, sejam treinados para o uso da língua inglesa.
O autor do artigo constata que existe uma atitude ambivalente dos japoneses com relação à globalização. Entendem que a necessitam para se manterem competitivos, mas a sua atitude de defesa ou protecionismo acaba sendo alto. Isto explicaria parte da atitude cautelosa com que Shinzo Abe estaria cuidando do assunto da TPP.
Estes problemas que afetam a atuação das empresas japonesas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, na América do Sul ou na África acabam se destacando, permitindo entender porque não são tão agressivos nos novos empreendimentos em que poderiam utilizar suas tecnologias e capacidades de financiamento.