Interpretações do Crescimento da Economia Japonesa
17 de maio de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: destaques no exterior, os efeitos eleitorais sobre as eleições na Camara Alta, pouco comentado nos meios japoneses de comunicação social, sentimentos dos eleitores
Para quem acompanha as notícias nos principais meios de comunicação no mundo em assuntos econômicos, observa-se que na imprensa mundial houve maior destaque sobre o crescimento recente que está sendo observado na economia japonesa, do que na imprensa do país. Muitos sites, como os da Bloomberg r The Wall Street Journal, enfatizaram que no primeiro trimestre de 2013 o ritmo do crescimento anualizado chegou a 3,5%, bem acima do que tinha se obtendo até o ano passado. Mas os jornais japoneses, inclusive o influente jornal econômico Nikkei, não atribuiu a mesma importância, o que gera motivo para, no mínimo, um sentimento de estranheza, levando a especulações de suas causas.
Tudo isto está relacionado com a atual política econômica japonesa que ficou conhecida como Abeconomics, para relacionar com o primeiro-ministro Shinzo Abe. Parece importante considerar que o Japão está num período pré-eleitoral, pois em agosto próximo serão eleitos os membros da Câmara Alta, onde o governo não possui a maioria que dispõe na Câmara Baixa, pretendendo conseguir a posição majoritária. E esta diferença de tratamento na mídia sobre o assunto do crescimento pode estar relacionada com a campanha eleitoral em curso, bem como outros sentimentos dos eleitores japoneses.
Primeiro-ministro japonês Shinzo Abe
Como amplamente divulgado, o governo japonês vem adotando uma política do tipo norte-americano, provocando o chamado easing monetary policy, que, ajudado pelo mundo empresarial, acelerou a desvalorização do yen em mais de 10%, para tornar competitiva a economia japonesa e sua recuperação.
Como efeito colateral, os juros ficarão em patamares baixos, fazendo com que os ativos financeiros que muitos idosos possuem para assegurar a sua qualidade de vida no período em que estarão sem condições de trabalho sejam diminuídos. A aposentadoria japonesa, como na maioria dos países, é modesta e quem não tiver uma reserva poderá enfrentar necessidades.
Com os juros baixos, as remunerações destes tipos de poupanças acabarão sendo negativos em termos reais, principalmente porque o governo persegue uma elevação da inflação para um patamar em torno de 2% ao ano. Muitos japoneses mantêm estas reservas em depósitos nos correios, semelhantes às cadernetas de poupanças brasileiras, preferindo a segurança às aventuras dos mercados de capitais, que mesmo proporcionando rendimentos melhores envolvem riscos indesejáveis.
De outro lado, com a desvalorização do yen, muitos produtos de consumo do cotidiano que são importados, como da China, que chegam a mais de 70% do movimento dos supermercados, tendem a sofrer elevações de preços, reduzido à capacidade de compra de uma parte da população.
Outro efeito que está em curso é o aprofundamento dos entendimentos visando acordos de livre comércio, como o TPP – Transpacific Partnersip, que devem aumentar as concorrências de produtos alimentícios importados. O segmento rural do Japão, que veio sendo protegido por um sistema político distrital, onde os votos necessários são diferentes com os dos grandes centros urbanos, acabam sendo sacrificados, ainda que sua importância econômica não seja relevante. Mas, em termos eleitorais, contam com um peso que sempre foi respeitado pelos políticos conservadores.
É possível que esta insegurança que está se espraiando pela população esteja sendo respeitada pelos meios de comunicação social, ainda que os empresários se sintam entusiasmados com a Abeconomics. Pode ser que a grande maioria dos eleitores está tomada, no mínimo, pela incerteza, não se mostrando tão entusiasmada como o mundo econômico.
Estas nuances são difíceis de serem interpretadas pelos meios de comunicação social mundial, que estão interessados na melhoria da economia japonesa que pode beneficiar os demais países, principalmente quando os gastos de defesa estão aumentando, para fazer frente às ampliações das influências chinesas, notadamente na Ásia.