Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Lincoln Apresentado no Filme

8 de maio de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: webtown | Tags: Daniel Day Lewis, Steven Spielberg | 8 Comentários »

Sempre olhei a efígie de Abraham Lincoln, hirsuto, taxativo e macambúzio, pensando, “Como seria esse tipo esquisito na vida real?”. Para quem já viu sua figura associada até a um caçador de vampiros em ritmo de aventura, esse filme pode soar tedioso. Afinal, é praticamente todo rodado em ambientes fechados de gabinetes escuros, e relata o lento e tenso processo de negociação da 13ª Emenda que proibiria a escravidão nos Estados norte-americanos e estabeleceria o marco de igualdade entre os cidadãos nesse país. Mas não é chato, e palmas para o excelente roteiro que consegue te manter envolvido durante quase três horas de conversas e mais conversas entre pessoas sentadas. Histórias e mais histórias, que Abe adorava contar para expor suas ideias e envolver pessoas. Lincoln conta a grande aventura da argumentação, da estratégia e da negociação. É um filme de ação… sem correria.

Haveria uma tentação de apelar para cenas da Guerra Civil que grassava, mas os autores corajosamente se ativeram ao conceito original, de se fixar no embate político por trás dos acontecimentos. Que bom. Uma aula de Congresso, mostrando que a grande ação não ocorre nas plenárias e nem talvez nos campos de batalha, mas, sim, fora.

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Daniel Day Lewis interpreta Abraham Lincoln em filme de Spilberg

E você sai do cinema chamando o cara de Abe, tamanho o realismo carismático que Daniel Day Lewis consegue imprimir ao personagem. Na verdade, pode-se dizer que o filme É Daniel. Foi extraordinário transformar aquele gigante de mármore sentado em Washington em um longilíneo e desengonçado líder de uma infindável paciência, com seu pilgrim look de barba afilada, cartola alta, sempre pensativo, ponderado. Tem-se a certeza de que o tipo era mesmo esquisito, mas legal, bem gente. Nem se reconhece o ator por dentro do personagem (ou será o contrário?). Se te perguntassem quem está lá fazendo o papel, você, desavisado, acabaria dizendo: oras, é o Abraham Lincoln, dammit! Quem mais? Em alguns momentos, um tanto jovial demais para os 54 anos que teria naquele ano.

O filme tem forte conotação com a política atual. Em certa cena, opositores questionam: daqui a pouco logo estariam dando aos negros o direito ao voto (até para as mulheres também, imaginem!). Mas está clara a intenção da cena. O idealismo nortista (e republicano) de Lincoln resultou bem mais que em voto negro. Resultou em voto da nação elegendo o democrata Obama. Ou seja, valeu.

E se vale a conotação para os EUA contemporâneos, vale para o Brasil também. Impossível não enxergar uma semelhança de Lincoln com Lula, que vai além da barba cerrada. Assim como Lula, Lincoln era um azarão impensável na disputa em que conquistou seu primeiro mandato, uma pessoa simples, fora da rica elite, que conquistava o eleitor com sua oratória inspiradora e histórias fáceis do povo entender. Assim como Lula, Lincoln governou contra as elites latifundiárias, mas também adiou muitas decisões críticas ao país. E assim como Lula, os votos decisórios do Congresso para a aprovação da 13ª Emenda foram comprados com mensalões que Lincoln, teoricamente,… desconhecia! Lincoln Lá.

Sem ofensa.


8 Comentários para “Lincoln Apresentado no Filme”

  1. Marcos
    1  escreveu às 08:50 em 9 de fevereiro de 2013:

    Prezado editor deste blog,
    Sem querer ofendê-lo, mas querer comparar o grande presidente americano com o ex-metalurgico e ainda compará-lo com os métodos usados por Lincoln pra aprovar a emenda que abolia os escravos com o mensalão do PT, é querer abusar da inteligência das pessoas.
    Oras, o suposto “mensalão” que ocorreu nos EUA naquela época não foi através de desvio ilegal de dinheiro público e nem foi um esquema de compra de votos mensais que envolviam vários partidos.
    Ademais, o próprio roteirista de “Lincoln”, Tony Kushner, em entrevistas aos jornais admitiu ter feito mudanças no enredo do filme que não foram baseadas nos fatos reais, ao contrário do MENSALÃO brasileiro, que foi um fato REAL, que aconteceu, com desvio comprovado de dinheiro público, inclusive com documentos comprovando os fatos, além de testemunhas, logo não tem nada haver com o filme.
    Enfim, mesmo que supostamente tenha acontecido algo similar com o mensalão do PT nos EUA naquela época, o projeto de Lincoln envolvia a abolição da escravatura em meio a uma grande guerra civil, nada comparado com a situação vivida no Brasil na época do governo Lula.

  2. Paulo Sato
    2  escreveu às 08:55 em 9 de fevereiro de 2013:

    Lamentável o texto.
    Misturar a história de Lincoln com o governo Lula não foi feliz.
    Gosto muito deste blog, mas seria mais sensato a direção melhorar a qualidade dos textos, ultimamento tem sido bastante ruim.

  3. Paulo Santos
    3  escreveu às 23:19 em 9 de fevereiro de 2013:

    Gostaria de fazer algumas considerações ao seu texto, você escreveu:
    “Impossível não enxergar uma semelhança de Lincoln com Lula, que vai além da barba cerrada”.
    >A única semelhança era apenas a barba, pois Lincoln era culto, não falava errado, não pregava a luta de classes e jamais teve o seu nome envolvido em algum escândalo de corrupção.
    “Assim como Lula, Lincoln era um azarão impensável na disputa em que conquistou seu primeiro mandato, uma pessoa simples, fora da rica elite, que conquistava o eleitor com sua oratória inspiradora e histórias fáceis do povo entender”.
    >Lincoln não era azarão coisa nenhuma, seu principal oponente, Stephen A. Douglas não era o favorito naquela eleição.
    Quanto a oratória, naquela época não existia a figura de marqueteiro político pra orientar o candidato, logo sua fala era genuína, o que difere muito dos tempos atuais.
    “Assim como Lula, Lincoln governou contra as elites latifundiárias, mas também adiou muitas decisões críticas ao país”.
    >Lincoln governou contra as elites escravagistas e não adiou as decisões difícies, pois foi assassinato, ao contrário de Lula, que teve 8 anos de governo.
    E mais, Lula nunca governou contra as elites latifundiárias, mostre-me alguma Lei proposta por Lula que fosse contrária as elites.
    “E assim como Lula, os votos decisórios do Congresso para a aprovação da 13ª Emenda foram comprados com mensalões que Lincoln, teoricamente,… desconhecia!”
    >Nunca houve “mensalão” no governo Lincoln, pois “mensalão” significa compra de votos com dinheiro desviado ilegalmente dos cofres públicos, método muito diferente da adotada pelos partidários de Lincoln.
    Enfim, se o editor desse blog tiver coragem e capacidade intelectual pra contra-argumentar, saberei que este blog é sério, caso contrário, ficará provado que falta coragem, e que este espaço reservado pra comentários foi feito apenas pra bajulação do editor deste site.
    Atc,
    Paulo S.Silva

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 12:23 em 10 de fevereiro de 2013:

    Caros Paulo S.Silva, Paulo Sato e Marcos,

    Tento responder algumas das questões colocadas nos seus comentários, pois me sinto responsável por parte do que está colocado, e espero que o autor do texto, Nelson Doy Jr. complemente com o motivo de sua comparação de Lincoln com Lula da Silva. Procuro manter este espaço o mais democrático possível, e só não tenho autorizado a publicação de comentários desairosos que utilizem expressões de baixo calão, que em nada parecem contribuir para os debates. A minha impressão sobre o filme Lincoln é que o diretor optou por sua versão, que respeito, mas sem conhecer muito profundamente a história dos Estados Unidos, que não é a minha especialidade, tenho a impressão que acabou um tanto romântico, que nem sempre corresponde a todas as complexas visões possíveis sobre estes líderes do passado.
    Na minha opinião, os chamados “pais da Pátria” desempenharam um papel mais importante, conseguindo redigir isoladamentes uma carta magna enxuta até hoje pouco modificada, onde o papel de Jefferson foi muito relevante. Do ponto de vista econômico Hamilton teve uma influência importante. Minha posição pessoal que tenho expresso em artigos postados neste site, é que cada cada é um caso, não havendo muita possibilidade de transportar situações para outros países em outros momentos históricos. Estou preparando dois artigos que exemplificam estas posições, relacionados ao que está acontecendo com países latino-americanos, bem como as posições dos economistas com relação à política econômica.
    De qualquer forma, acho que o confronto do contraditório pode ajudar no entendimento de algumas questões. Tanto que autorizo a postagem de artigos ou comentários sobre os quais nem sempre concordo. A isenção total nunca existe, e todos nós estamos sujeitos à vieses pelas nossas histórias pessoais, mas parece que devemos procurar conviver até com os que adotam posições totalmente contrárias as nossas. Como algumas críticas exacerbadas ao Lula da Silva, que mesmo tendo as suas muitas limitações e origem humilde, acabou conseguindo reduzir a disparidade na distribuição de renda no Brasil, que ainda continua mal no país, e que outros mais bem preparados não foram capazes de concretizar.

    Paulo Yokota

  5. Nelson Doy Jr
    5  escreveu às 17:01 em 10 de fevereiro de 2013:

    Olá Paulo e leitores,

    O objetivo da comparação de Lincoln com Lula é, obviamente, a ironia, agravando a percepção das distâncias entre a construção do governo brasileiro em relação ao norte-americano, ao justapor as semelhanças superficiais. Muito mais há para ser discutido em torno dessa comparação irônica, mas a resenha crítica do filme se limita a propor essa discussão, a partir do seu objeto, que é o filme. De minha parte, acho que é impossível esconder, naquele último parágrafo, uma profunda desilusão com o governo Lula, que poderia ter sido bem mais. Acredito que os comentários de fato estão dando andamento a essa discussão proposta. Espero até aprofundamento maior. Grato.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 22:46 em 10 de fevereiro de 2013:

    Caro Nelson Doy Jr.

    Obrigado pelo comentário. De minha parte, acho que muitos governantes fazem o que podem, e não o que querem. Não considero que eles precisem de uma educação formal, e muitos foram bons estadistas porque tiveram a capacidade de captar as aspirações populares naquele momento, mesmo que contrariando algumas elites. Um exemplo que costumo citar é o de Gengis Khan, que apesar de ser considerado por muitos ocidentais como um bárbaro sanguinário, foi capaz de criar um mercado comum que vinha da China até a Turquia, criou o correio e criou a imunidade diplomática, entre muitos avanços da sua época.

    Paulo Yokota

  7. Sayuri Watanabe
    7  escreveu às 22:48 em 10 de fevereiro de 2013:

    Lendo os comentários, entendo a revolta de alguns, pois a tentativa de comparar Lula com Lincoln e o “mensalão” republicano com o mensalão petista foi um exagero, daí a idignação de alguns leitores deste blog.
    Enfim, é preciso esclarecer de uma vez por todas que o governo Lula em termos sociais foi ruim para o país, pois o IDH (índice de desenvolvimento humano ),
    regrediu durante a sua gestão.
    Além do mais, mesmo que alguns insistam em dizer que houve distribuição de renda naquele período, tal fato se deve a herança bendida da estabilidade monetária conquistada pelo plano Real, que permitiu de fato, a melhoria de renda das camadas mais pobres no Brasil.

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 21:07 em 11 de fevereiro de 2013:

    Cara Sayuri Watanabe,

    Agradeço pelos seus comentários. Acredito que V. tem razão sobre alguns aspectos, mas como um especialista em economia, tenho que colocar que o Plano Real que teve os seus méritos, acabou por provocar uma exagerada valorização do câmbio, acabando por prejudicar a nossa compeetitividade internacional. O presidente Lula da Silva têm os seus méritos, mas também foi culpado pelo prosseguimento da política econômica anterior que acabou por beneficiar os que especulavam com o Brasil. No que se refere à história, tive uma rigorosa professora de história, pesquisadora cuidadosa que ao longo de muitas décadas de trabalhos minusciosos acabou for desmentir muitos livros que falam sobre o Brasil, que eram meros “romances” sem corresponder à realidade. Sobre os Estados Unidos que conhecí em muitas viagens, inclusive com uma generosa bolsa do Departamento de Estado daquele país, notei muitas diversidades sendo difícil de elaborar generalizaçoes. Isto aconteceu pessoalmente comigo, também no Brasil que conhecí detalhadamente de cabo a rabo. Lamentavelmente até os livros didáticos sobre o nosso país não corresponde à sua realidade, mostrando que verdades em determinadas regiões não podem ser generalizadas. Portanto, o que podemos melhorar de compreensão exigem cuidadosos e volumosos estudos, e acho que o filme sobre Lincoln tem muito pouco com a realidade, infelizmente.

    Paulo Yokota