Reportagem do The Economist Sobre Belo Monte
4 de maio de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as discussões ideológicas, avaliações de custo/benefício, correções que não agradam a todos, os muitos fatores emocionais, sempre difíceis opções energéticas do Brasil
Se existe um projeto no Brasil extremamente convertido é o da Usina de Belo Monte, que, apesar de muitas correções, continua gerando discussões intermináveis, internas e externas. O The Economist, mesmo tentando uma avaliação mais objetiva, enviando um jornalista para a área, admite que os seus danos foram minimizados, mas se trata de um projeto irreversível e considera os seus elevados custos para benefícios pequenos, acabando por sugerir que existiriam opções mais racionais no Brasil, como as solares, eólicas e decorrentes de biomassa, utilizando a cana de açúcar e todas as suas variadas possibilidades.
O artigo admite que o Brasil continue necessitando atualmente de mais 6.000 MW anuais e, apesar de contar com uma matriz energética diversificada e das menos poluentes do mundo, em quaisquer das opções necessitará continuar investindo muito na área energética. O seu potencial hidroelétrico estaria concentrado na Amazônia, longe das maiores áreas de consumo que se encontram no sudeste do país, cogitando-se ainda de muitos projetos de baixa capacidade de geração energética e longe das áreas urbanas e industriais do país.
Construção da Usina de Belo Monte em ritmo acelerado
Para evitar uma grande área inundada, que provocaria poluição com as madeiras que estariam degradando, o projeto de Belo Monte foi modificado para a construção de um canal que movimentará as turbinas sem queda de água (chamado de run-of-river), diferindo muito dos projetos tradicionais. As áreas indígenas ficam a alguma distância da atual usina, mas os indígenas continuam alegando que se sentem ameaçados, pois outras usinas amazônicas continuam programadas. Outros cuidados ecológicos foram tomados, acabando por reduzir a capacidade de geração energética que deve ficar em torno de um terço do inicialmente projetado, e ainda dependendo da disponibilidade de chuvas que permitam uma vazão mínima.
Diante desta redução drástica de capacidade de geração energética, o custo da usina tornou-se um absurdo, pois originalmente deveria ser a terceira do mundo, abaixo de Três Gargantas, na China, e Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai. O jornalista do The Economist viu cerca de 20.000 operários trabalhando na sua execução, considerando que o projeto é irreversível, mas discutindo com outros especialistas brasileiros acaba por concluir que poderiam existir alternativas menos custosas.
Menciona a eólica que ainda é incipiente no nordeste brasileiro, os usos de derivados de petróleo que são poluentes e até do xisto como vem sendo feito nos Estados Unidos, ainda que suas reservas sejam insignificantes no Brasil. A opção que acaba sendo considerada de maior potencial acaba sendo o etanol e todos os derivados da cana de açúcar, que permitem uma cogeração como a que estão sendo feitos em diversas usinas.
A reportagem aponta, com razão, que as opções deveriam ser estudadas antecipadamente, antes do início das obras, que acabam sendo modificadas com as pressões de diversos setores o que não vem sendo conseguido pelas autoridades brasileiras. Mostra que até Itaipu, considerado um dos melhores projetos, acabou com as famosas Sete Quedas, que não seria aceitável hoje diante dos danos ambientais.
São considerações respeitáveis, mas deveria se apontar também que a independência energética dos Estados Unidos está sendo atingido pela exploração do petróleo e gás decorrente do craqueamento do xisto, com a forte contaminação do subsolo com o uso de poderosos produtos químicos.
As explorações petrolíferas continuam poluindo mares, o uso do carvão mineral é altamente poluente e até a energia atômica, com todos os seus inconvenientes continua sendo aprovada como no recente acordo do Japão com a Turquia. Lamentavelmente, as necessidades energéticas acabam provocando a degradação do meio ambiente, com o desenvolvimento econômico que todos almejam.
Os artigos desta natureza acabam influenciando a opinião pública mundial, ampliando a impressão que o Brasil não se preocupa com o meio ambiente, tendo uma gestão desastrosa. Ainda que em parte seja uma triste realidade, parece que todo o mundo anda fazendo o que pode, e não exatamente o que seria desejável.
Houve um período em que as autoridades brasileiras cuidavam de atender adequadamente a imprensa internacional, que agora parece concentrar-se nos aspectos mais negativos do país, sem que os esforços que estão sendo feitos no sentido mais correto também sejam reconhecidos.