Café Plantado na Sombra do Mogno
21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo no Valor Econômico, café sombreado, noticia sobre o grupo Monteiro Tavares, pioneiros
Os especialistas informam que o café plantado em áreas sombreadas proporciona uma bebida de qualidade porque seus frutos amadurecem de forma mais uniforme. O jornal Valor Econômico noticiou há alguns dias que o grupo mineiro Monteiro Tavares está plantando café à sombra do mogno, num projeto que visa associar uma produção mais rápida com a extração do mogno que demanda uma espera de 12 a 16 anos até o primeiro corte. Como todos sabem, o mogno é uma madeira nobre muito utilizada em mobiliários de alta qualidade desde séculos, quando era disponível em matas naturais.
O café plantado com outras associações sempre foi comum, mas porque o café até ser planado em renques confinados levava anos para começar a produzir, e culturas intercalares de diversos tipos eram comuns. Agora, com as exigências de madeiras certificadas, as plantações de mogno também se tornaram necessárias, havendo culturas de alto valor comercial como o café para sustentar o período de sua maturação. Estas variadas técnicas não são recentes, havendo exemplos pioneiros do começo do século XX.
Do que tive oportunidade de conhecer, os primeiros cafés sombreados foram na Fazenda Monte Alegre, nas proximidades de Campinas, que foi adquirido pela Família Iwasaki (a mesma fundadora do grupo Mitsubishi), na época de Dom Pedro II, em torno de 1927. O café estava experimentalmente plantado no meio da mata, de forma que o seu fruto ficasse protegido das eventuais geadas e também do calor intenso, permitindo uma maturação uniforme dos seus frutos, que proporciona melhores qualidades, pela ausência de “defeitos”, muitos que decorrem da mistura com grãos mais novos.
Como no passado, o café começava a dar frutos depois de quatro anos, muitas culturas intercalares eram feitas nos cafezais. Isto ocorreu também nos projetos de colonização na Amazônia, como em Rondônia, onde havia uma mancha de boas terras semelhantes às roxas (que eram vermelhas, mas que os imigrantes italianos chamavam de rossa). Isto permitia que culturas anuais fossem colhidas até o início da produção do café.
Outras associações eram também praticadas, com as seringueiras ou guaraná, sempre com vistas a proporcionar rendas enquanto o projeto de plantações permanentes mais longas tivesse a sua maturação.
O que o artigo do Valor Econômico informa é que existe mercado específico europeu para estes cafés de boa qualidade. No Brasil, hoje a produção do café tem se sofisticado e diferenciado, com muitos lavados, ou com cerejas selecionadas à mão, além da migração para as áreas que não apresentam riscos de geadas, como Minas Gerais e Bahia.
As técnicas melhoraram também com variedades que têm uma maturação mais rápida que começou no Sul de Minas, com a aplicação da chamada renque confinado, que permite uma colheita mecânica sem que as plantas sejam sacrificadas. Também os equipamentos melhoraram, fazendo com que a mão de obra dos imigrantes não fosse mais necessária como nos fins do século XIX e começo dos XX, desde quando a escravatura foi abolida.
Como os consumidores também melhoraram nas suas exigências, além das cápsulas que proporcionam blends uniformes, existem os que exigem cafés especiais escolhidos nas fazendas como têm sido estimulado por Isabela Raposeira no seu Coffee Lab, formando baristas que atuam nos melhores estabelecimentos especializados no fornecimento de café de alta qualidade.
Afinal, o Brasil ainda continua sendo conhecido no mundo pela sua produção de cafés, e espera-se sempre que mais divisas sejam geradas com preços mais convenientes.