Carência do Espírito Animal dos Empresários Brasileiros
16 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: apesar da melhoria dos recursos humanos, dificuldade de preparação para estas atividades, falta de agressividade no exterior
Ninguém pode duvidar que os recursos humanos disponíveis no Brasil melhoraram substancialmente nos últimos anos, tanto pela educação que conseguiram no país como educações continuadas, como foi colocado pelo último Suplemento Especial do jornal Valor Econômico. Infelizmente, parte do pessoal que recebeu complementações de educação no exterior, que parece muito importante na economia globalizada, acaba se transferindo para empresas estrangeiras e multinacionais. Com as dificuldades encontradas no Brasil com a baixa prioridade concedida para a expansão das atividades externas por décadas, o natural parece que muitas delas deveriam procurar a expansão de suas atividades no exterior, como algumas fizeram. Com isto, conseguiriam menores cargas tributárias, juros mais baixos, evitariam as naturais flutuações que ocorrem no câmbio, superariam os alegados elevados custos que denominaram Brasil, como as deficiências da infraestrutura, as muitas regulamentações e burocracias e tudo que afeta os seus resultados.
Apesar de contar com treinados recursos humanos para auxiliarem nestas tarefas, o fato concreto é que as empresas brasileiras ainda parecem tímidas nas suas atividades no exterior, com filiais, subsidiárias. Estudos efetuados no exterior, como no Japão, indicam que estas atividades acabam resultando no incremento das relações com o exterior, mesmo que o câmbio e outros fatores não ajudem, pois muitos acabam sendo compensados, constituindo-se em hedge automáticos. Mas, além da insuficiência do conhecimento do amplo interior brasileiro, parece que perderam o espírito de mascate, que com produtos brasileiros na bagagem, iam procurar oportunidades onde elas estivessem. Parece difícil proporcionar pelo ensino este espírito animal dos empresários que saem à caça dos resultados, onde elas fossem possíveis.
O Brasil foi sempre um país voltado para o exterior. Mas, décadas de crescimento sem exigir grandes esforços, pelos que muitos acreditassem que fosse o milagre econômico, quando na realidade havia um grupo de profissionais conscientes no poder, ou a expansão da economia mundial que beneficiou os preços das commodities brasileiras, parece que muitos jovens perderam o espírito para enfrentar os obstáculos e desafios, acomodando-se em atividades que herdaram das gerações anteriores.
O mundo mudou, e hoje quem não se dispõe a enfrentar os muitos obstáculos que se apresentam acabarão estagnados. Sempre existem exceções, e o segmento inovador acaba sendo o das pequenas e médias empresas. Muitos recursos humanos acabam sendo atraídos pelas entidades estatais e do setor público que lhes garantem uma vida confortável, pois existem sensíveis diferenças proporcionadas pelo Judiciário, Legislativo e até Executivo, com o que se oferece no setor privado.
Mas o que estamos falando são a escola e cultura que permitem a explosão de número de milionários. Muitos não entenderam que os chineses possuem desde a época da Rota da Seda este espírito na procura de oportunidades, como também aconteceu com árabes e judeus, sempre à procura do que lhes poderiam proporcionar vantagens e resultados. Parece que nos acomodamos com o pouco que conquistamos, e a natureza tropical nos ajuda a dar maior prioridade aos prazeres possíveis, mesmo sem ser partidário do determinismo geográfico.
O que deve continuar nos marcando e diferenciando do resto do mundo parece ser a disposição de trabalhar muito e saber gozar a vida. Não vivemos em arquipélagos ou áreas limitadas que precisam agredir o exterior para sobreviver, como em países asiáticos, ou onde existem rigores climáticos como na Escandinávia. Muitos estrangeiros admiram os brasileiros que trabalham muito, mas sabem viver.
Temos que disseminar a consciência que estamos muito acomodados, precisamos promover as reformas no setor público e conquistar o exterior, para poder continuar a melhorar as condições de vida no Brasil. Temos uma natureza dadivosa, com uma biodiversidade que ainda se encontra pouco explorada, podemos sonhar em nos consolidarmos como um dos grandes fornecedores do mundo que vai continuar em expansão. Com muitos se tornando empresários milionários e até bilionários.