Cerâmica Tradicional Japonesa Kakiemon
16 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: as tradições familiares de ceramistas japoneses famosos, Kakiemon de Saga, passaram da 14ª para a 15ª geração do Kakiemon Sakaida
Muitas escolas famosas de cerâmicas de alta temperatura existem no Japão, e elas aprenderam suas bases com a contribuição dos coreanos que absorveram os conhecimentos dos chineses, começando no sul do Japão, mais próximos dos países vizinhos. Os fornos são herdados por um grande número de gerações, e o Kakiemon Sakaida, famoso internacionalmente, passa agora da 14ª para a 15ª geração com o lamentável falecimento do seu titular anterior. Esta família atua em Saga, em Akita, que fica no nordeste japonês, e mantém a tecnologia tradicional, com constantes aperfeiçoamentos nos seus detalhes, pois suas técnicas básicas continuam sendo a mesma desde o século XVII.
14º Kakiemon Sakaida. Foto: Kyodo
A convite do governo japonês, tivemos, eu e minha esposa, junto com mais dois casais, Ikeda e Botafogo, a oportunidade de visitar vários destes fornos em diversas escolas japonesas. Muitos artistas eram considerados Tesouros Nacionais Vivos, título concedido por Sua Majestade o Imperador pela preservação das técnicas que foram desenvolvidas por séculos. Elas possuem características diferenciadas pelas diversas escolas que se consolidaram em determinadas regiões, que preservam suas características básicas.
Este Kakiemon Sakaida de 14ª geração assumiu o título em 1982 pelo falecimento do seu pai, e agora passa para o seu filho que terá o mesmo nome, mas considerado de 15ª geração. Este é o costume preservado pelas famílias tradicionais, sendo que algumas já chegam a cerca de 20ª geração.
As peças produzidas por estas famílias possuem elevado valor, sendo que os dos Tesouros Nacionais Vivos são adquiridos pelo governo para fazerem parte dos acervos dos diversos museus do Japão. Dificilmente são de propriedades particulares, pois são reconhecidos como mantenedores das tradições culturais do país, depois de comprovarem com trabalhos de muitos anos suas refinadas técnicas, mantendo as que foram herdadas.
Muitas das peças, que para os leigos seriam perfeitas, são destruídas quando não satisfazem às elevadas exigências destes artistas consagrados. Em torno destas cidades que marcam uma denominação do tipo de cerâmica, aglomeram-se muitos artistas que adotam o mesmo estilo, com suas criações personalizadas.
Estas cerâmicas de alta temperatura se tornaram conhecidas pelos ingleses que absorveram as técnicas no Japão e passaram a também produzir em outros países, ganhando a denominação de stoneware. Chegaram ao Brasil por intermédio de alguns artistas japoneses e foram divulgadas por uma galeria pioneira que se chamava Toki, que em japonês significa cerâmica.
As cerâmicas artesanais de muitos lugares, como o Brasil, costumam ser de baixa temperatura, e sua resistência é mais frágil. Há séculos, os chineses passaram a produzir em série um tipo mais simples de cerâmica denominado porcelana, que passou a contar com grande aceitação na Europa e espalhada pelo mundo. Destas, poucas são consideradas artísticas, apesar de sua qualidade, pois não envolvem criações a não ser na sua origem, sendo reproduzidos em grande quantidade.
Existem hoje no Brasil muitos artistas que produzem cerâmicas de alta temperatura, tanto de ascendência oriental como de outras regiões do mundo. As características deles também se diferenciam, tanto pela argila utilizada como dos esmaltes, sendo que muitos utilizam os chamados fornos de noborigama, que apresentam muitas câmaras em sequência ascendente que aproveitam o calor de queimas que duram dias, e precisam ser acompanhadas pelos artistas.
É comum entre os fornos mais consagrados do Japão haverem cerimônias xinto no início da queima das cerâmicas, quando os artistas afirmam que tudo que foram capazes fizeram, e agora entregam aos deuses os seus trabalhos que serão submetidos às queimas, quando alguns serão danificados, outros não sairão como planejados, alguns com desenhos alterados pela ação do fogo.
Toda esta cultura permite que, por exemplo, tanto nas cerimônias do chá como nos arranjos florais, as cerâmicas sejam apreciadas devidamente, valorizando os trabalhos dos artistas.