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Manifestações de Insatisfações Sem Organização Política

12 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: acontecimentos na Turquia, fracasso dos partidos políticos, manifestações em São Paulo e Rio de Janeiro, primavera árabe, regimes com poucos diálogos | 4 Comentários »

Qualquer motivo, como a elevação das tarifas de transportes, acaba desencadeando manifestações populares violentas, como está se observando em São Paulo e no Rio de Janeiro, que começam a se organizar na forma de Passe Livre. As insatisfações populares generalizadas não conseguem ser captadas pelas organizações políticas que gozam hoje de baixa credibilidade, tendendo a tornar estas manifestações anárquicas. Aproveitam as situações onde as autoridades contam com menos disposição de diálogos com as massas, com reações policiais também violentas, como também se observa na Turquia, onde Taksin virou um campo de batalha. Imita-se o que ocorreu na chamada primavera árabe em vários países. E a mídia, principalmente eletrônica, espalha as imagens que proporcionam oportunidades para uma evidência imediata, mesmo momentânea daqueles que desejam aparecer.

Não parece ser preciso ser especialista em ciências políticas, sociólogos ou antropologistas para diagnosticar esta situação que ainda não é clara. A credibilidade das autoridades, quer seja do Executivo, do Legislativo e até do Judiciário, parece baixa. Os jovens que não se manifestavam por muito tempo acabam encontrando espaços para expressarem seus desejos de participação, ainda que inicialmente de forma quase anárquica, aproveitando a ampla gama de insatisfações, sem que haja propostas organizadas. A classe política está evidenciando o seu fracasso, sendo incapaz de organizar um sistema onde estas massas de insatisfeitos tenham uma forma de se expressar de forma democrática.

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Manifestações em São Paulo e  Rio de Janeiro contra aumento das passagens, e Taksin, na Turquia

É evidente que o quadro econômico ajuda neste processo. Quando o cobertor é curto, nem todas as reivindicações legítimas podem ser atendidas. As prioridades escolhidas pelas autoridades parecem não se concentrar nas necessidades imediatas das grandes massas urbanas que sofrem com as deficiências dos transportes coletivos, e de outras necessidades básicas da população.

A mídia vem generalizando a ideia que todos os políticos cuidam somente de seus interesses pessoais, o que pode ser parcialmente uma verdade, mas é certamente injusto com os poucos que pretendem servir à comunidade. As autoridades do Executivo acabam sendo rotuladas como muitas vezes despreparadas, com baixa capacidade de gestão, e que concentram suas atenções para as possibilidades de longas permanências no poder, com objetivos meramente eleitorais.

Não se trata de insatisfação somente com as deficiências dos transportes, mas da segurança pública, da saúde, da educação, de moradias e todas as necessidades sociais da população. Os que desejam trabalhar honestamente, que é ainda a maioria, acabam sendo desestimulados pelas ondas de corrupções e desonestidades que não se restringem somente ao setor público. Alguns acabam sendo captados por movimentos como os dos sem terras e sem moradia. Os sempre marginalizados indígenas acabam provocando invasões.

O moral da população parece acabar sendo afetada, e os segmentos mais ousados, que se concentram nos jovens, desencadeiam ainda de forma desorganizada suas insatisfações. Os seres humanos de bem precisam adquirir a consciência que há um processo grave em andamento, e sem um mínimo de organização política, os custos destes desarranjos serão elevados.


4 Comentários para “Manifestações de Insatisfações Sem Organização Política”

  1. Jair
    1  escreveu às 16:25 em 14 de junho de 2013:

    Não é bem assim…
    Dê uma olhada no facebook e veja quem são os lideres deste movimento.
    https://www.facebook.com/marcelo.hotimsky
    e olha a familia hotimsky
    https://www.facebook.com/sonia.nussenzweighotimsky
    A Erica de Oliveira é quem arrecada dinheiro desde maio para o protesto
    https://www.facebook.com/erica.deoliveira.5
    Impressionante !!!
    Tem algo mais por trás disso.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:36 em 14 de junho de 2013:

    Caro Jair,

    Acredito que muitos concordam que os pretensos líderes destes movimentos não andam de ônibus nem usam o metrô. Ainda não sabem como participar da política num regime democrático, tendendo para o anarquismo. Mas, vão acabar apreendendo, com o tempo, que a convivência dentro de uma sociedade organizada necessita de um mínimo de disciplina, não podendo utilizarem do vandalismo.

    Paulo Yokota

  3. Marco
    3  escreveu às 16:36 em 14 de junho de 2013:

    Sobre o tal “Movimento Passe Livre”, vale destacar dezesseis pontos:

    1. não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;

    2. é um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância política;

    3. tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;

    4. como a eterna crítica ao capitalismo – que vive uma “crise terminal”, falam isso desde o final do século XIX – não se materializa na “revolução”, necessitam construir um móvel de luta para não perder o apoio das “suas bases”;

    5. o desemprego e a crise econômica – presentes na Europa – aqui são irrelevantes, portanto a “mobilização” tem de buscar outro móvel de luta;

    6. a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as lideranças desses grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”, cansadas de ouvir discursos revolucionários, negadores da democracia (chamada depreciativamente de “burguesa”), sem que tivessem o que chamam de prática revolucionária;

    7. para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de propaganda. Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do patrimônio público e privado;

    8. o poder público não sabe agir dentro da lei para conter os fascistas. Ou se omite, ou age como eles (ou da forma como eles querem);

    9. agir com energia, dentro dos limites legais, é a forma correta de conter os fascistas;

    10. e o óbvio: é nestes momentos que as lideranças políticas são testadas.

    11. É evidente a tentativa de emparedar o governador do estado. O prefeito – sempre omisso – não está na linha de fogo;

    12. Não há qualquer relação destas manifestações com aquelas dos anos 1960, 1970 (quando vivíamos no regime militar), das Diretas ou do impeachment do Collor (1992). Hoje vivemos em um regime de amplas liberdades;

    13. A liberdade de manifestação é garantida pela Constituição, assim como a de ir e vir. Os fascistas são contra as duas. Tem ódio da Constituição, que para eles é “burguesa” e liberdade de ir e vir é contra o “Estado socialista” que eles defendem (Coréia do Norte, Cuba , etc);

    14. Se tivessem sincero desejo de se manifestar, não faltam praças em SP;

    15. O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;

    16. E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 18:25 em 14 de junho de 2013:

    Caro Marco,

    Autorizei a publicação de sua manifestação, ainda que concorde com muitos pontos e tenho divergências em outros. Acredito que o exercício da democracia é um permanente aprendizado. V. coloca como movimentos de extremados esquerdistas, e ao mesmo tempo os considera fascistas. Acredito que existem elementos de ambas as pontas, com falta de treinamento no exercício da política, que não é fácil.

    Paulo Yokota