O Pragmatismo do Governo Dilma Rousseff
3 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as licitações dos serviços públicos para o setor privado, as posições da política comercial externa, mudanças mesmo que não sejam as ideais, o pragmatismo do governo Dilma Rousseff
Uma das grandes qualidades que começaram no governo Lula da Silva e foi também incorporada parcialmente pelo governo Dilma Rousseff, com características peculiares de sua personalidade, ainda apresentam aspectos que necessitam ser aperfeiçoadas. Ainda que de origem ideológicas ligeiramente diferentes, Lula da Silva, do sindicalismo de origem católica, e Dilma Rousseff, da militância contra o regime autoritário, inclusive com ativa participação em ações concretas, os dois dirigentes apresentam diversos aspectos em comum. Estão sendo realistas com relação às situações que enfrentam, notadamente no cenário internacional, promovendo as mudanças que atendem as necessidades básicas do país, imprimindo suas características pessoais.
A grande marca de suas administrações foram as sensíveis mudanças na distribuição de renda no período em que o Brasil estava sendo beneficiado pela melhoria da economia mundial, que necessitava de matérias-primas brasileiras que alcançavam bons preços. Os salários, a partir dos mínimos, subiram sensivelmente, ampliando a capacidade de demanda interna, com a criação de uma nova classe média brasileira. Dilma Rousseff continua perseguindo a redução da miséria absoluta, de forma explícita, ainda que a revista inglesa The Economist não lhe tenha dado o devido crédito.
Lula e Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert Filho)
O pragmatismo de Dilma Rousseff vem se revelando na aceleração dos editais de concorrência de diversos projetos de infraestrutura, reconhecendo que o setor público não conta com todos os recursos indispensáveis, necessitam da colaboração do setor privado, ajustando as exigências dentro do possível para o mercado. Existem sempre ajustes que se tornam necessários, pois Dilma Rousseff e o seu governo entendem que os apetites dos ganhos do setor privado são exagerados, nem sempre considerando os riscos envolvidos ou os padrões do que se obtêm com investimentos alternativos pelos grupos empresariais.
Mas é na política comercial internacional que tardam as medidas pragmáticas. O Brasil sempre entendeu que os entendimentos globais dentro da OMC – Organização Mundial do Comércio era a mais interessante, pois todos os países participariam das decisões. O país carrega os encargos herdados do Mercosul, que apresenta uma inflexibilidade incomum, chegando a ser considerado por alguns como de fundo ideológico.
O fato concreto é que estão proliferando acordos de livre comércio, bilaterais ou multilaterais nas mais variadas regiões do mundo, inclusive com a participação de vizinhos latino-americanos. Ainda que não seja a salvação do mundo, podem minorar algumas das restrições que continuam a existir, principalmente nas economias desenvolvidas que podem demandar produtos brasileiros.
Parece recomendável que o pragmatismo de Dilma Rousseff necessita providências urgentes para a adaptação à nova situação, sem o que o Brasil tende a ficar marginalizado. A OMC parece emperrada desde a Rodada Doha, com poucas esperanças de avanços significativos, mesmo com o comando de um diplomata brasileiro e o desejo de muitos países.