Perplexidade Com o Que Está Acontecendo Não é só no Brasil
21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: avaliações internacionais, muitos países ainda não entendem, paralelos com outros movimentos
Partilho da opinião de que se não temos parâmetros para comparar o que está acontecendo no Brasil com as manifestações de rua, ficamos sempre que somos muito diferenciados. Um importante artigo publicado hoje no The New York Times, elaborado por Simon Romero e Willian Neuman, ajudados por Taylor Barnes e Lucy Jordan, traz informações atualizadas até ontem à noite. Informam que até mesmo os dirigentes do Movimento Passe Livre estão perplexos com as repercussões, que já provocou o cancelamento da viagem de Dilma Rousseff ao Japão, convocando uma reunião de emergência do seu governo. O artigo faz alguns paralelos com o Occupy Wall Street que ocorreu nos Estados Unidos e pouco mudou aquele país no que há de fundamental. Tanto como outros que ocorreram na Índia, em Israel, nos países europeus como a Grécia e eles parecem alimentados por enfrentar estruturas políticas consideradas tradicionais, desafiando o partido do governo e até das oposições da mesma forma. As demandas são difusas deixando todos perplexos.
Entrevistaram Mayara Vivian que tentava desde 2005 por os brasileiros na rua com apenas 15 anos, e que confessa que também desta vez esperava algumas centenas de pessoas nas manifestações convocadas, visando ridicularizar o aumento das tarifas dos transportes coletivos, que agora se transformou na total isenção de pagamento, com as catracas livres. Ela estava aturdida quando dezenas de milhares de manifestantes lotaram as ruas, sacudindo cidades de todo o País. Afirma que é como a tomada da Bastilha, devendo lembrar-se de que os primeiros líderes acabaram sendo atropelados pelos acontecimentos que se seguiram. O fato concreto é que encontraram um clima geral de insatisfações.
O artigo ressalta que os protestos das massas que foram acordadas têm se alastrado por outros temas – estádios caros, políticos corruptos, altos impostos e escolas de má qualidade – e se espalhou por centenas de cidades ontem à noite, com o aumento da sua ferocidade.
Segundo o artigo, um país que foi visto como uma potência em ascensão e democrático encontra-se abalado por uma revolta popular sem lideranças com um tema unificador: uma brava rejeição à política e aos costumes, às vezes de forma violenta.
A força e a intensidade das ruas surpreendem alguns entrevistados, admitindo que não seja um movimento que podem controlar, ou até um que desejem controlar. A violência pode representar um ponto de virada nos protestos, pois muitos acabarão se afastando.
O artigo relata a violência do que ocorreu em Brasília, chegando ao Congresso, atingindo o Itamaraty. Em Ribeirão Preto, um manifestante de 18 anos acabou morto, atingido por um carro que estava parado com as manifestações, o primeiro cadáver desde estes movimentos de massa, que só registravam prejuízos nos patrimônios públicos e privados.
No Rio de Janeiro, centenas de milhares de pessoas manifestavam dirigindo-se à Prefeitura até tomando cervejas. A reação policial foi utilizar gás lacrimogêneo e obrigando muitos a se refugiarem nos canais. Alguns afirmavam que a cidade estava sendo maquiada para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, havendo os que pedem os seus cancelamentos, para atender as necessidades populares com os mesmos recursos. Alguns ajustamentos acabarão sendo efetuados.
Muitas manifestações estão ocorrendo em cidades que sediam a atual Copa das Confederações, com críticas aos altos custos dos estádios, afirmando-se até que os impostos estão beneficiando astros como Neymar e Ronaldinho. Um manifestante segurava um cartaz afirmando que não teremos a Copa do Mundo, pois o gigante despertou.
Até a mídia tem sido atingida, com carros queimados e jornalistas atingidos. Uma imprensa alternativa está sendo alimentada pelo grupo chamado NINJA – um jornalismo independente e de ação narrativa, que filmam cenas dos movimentos com meios improvisados, divulgando pelas redes sociais. O artigo afirma que o termo Occupy é utilizado por alguns, rejeitados por outros para não confundir com as ocupações policiais das favelas dominadas pelos traficantes de drogas.
Os gastos com as competições internacionais, segundo os manifestantes, são sinais da existência de recursos para o atendimento de suas reivindicações, o que deixam as autoridades sem uma resposta adequada.
Mesmo as reduções das tarifas dos transportes já efetuadas não aplacam os manifestantes. Um professor da USP afirma que o movimento é extremamente difuso e não canalizada pelas instituições tradicionais. Todd Gitlin, professor de jornalismo da Universidade de Columbia, que estudou movimentos sociais, inclusive o Occupy e a Primavera Árabe, afirmou que é difícil saber exatamente o que detona o movimento mais amplo. Não existe ainda uma teoria para tanto.
Os ativistas brasileiros que estão no centro do movimento insistem que o que está acontecendo no Brasil não explodiu do nada. Ele teria sido decorrente de um duro trabalho como o Movimento do Passe Livre que começou em 2005, que atraiu cerca de 200 ativistas de todo o país. Mas, sem dúvida, contaram com o clima de insatisfação de parte importante da sociedade brasileira, principalmente da classe média alta.
Mayara Vivian afirma que foram aprendendo como organizar estas manifestações desde 2005, e sem a experiência acumulada não saberiam como definir o palco dos protestos, que conta com uma organização. Mas não podem explicar como um movimento modesto acabou provocando o fenômeno atual. “As pessoas finalmente acordaram”.
Ainda que este quadro ainda não seja completo, ajuda a compreender parte do que está acontecendo. Espera-se que as autoridades e os políticos brasileiros aprendam com as duras lições que estão sendo dadas pelas ruas.