As Lamentáveis Duras Lições dos Acontecimentos no Egito
4 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: as dificuldades econômicas, o caso egípcio segundo o The Economist, os duros caminhos para a recuperação, os erros políticos de um eleito democraticamente
Cada país tem a sua história e as suas condições se diferenciam com as de outros. Mas este site procura estimular que os brasileiros vejam o que está ocorrendo em outros países, para evitar alguns dos problemas que aparentam ser comuns a muitos. As demonstrações populares se repetem em muitos países, ainda que as condições sempre sejam diferentes, e as reivindicações amplas. O que se pode observar que são comuns é que a velocidade dos processos políticos está acelerada, e mesmo países com regimes que aparentavam ser democráticos, com dirigentes eleitos como na Turquia e no Egito, são fortemente afetados pelos problemas econômicos. Seus novos dirigentes eleitos não conseguem corresponder às vontades do povo. As demonstrações populares no Egito superam em muito, em número de participantes, até os surpreendentes no Brasil. Muitos erros cometidos possuem características diversas, mas acabam servindo como advertências para os que ousam exagerar nas violências, que acabam exigindo arbitragens não desejadas. Parece ser necessário procurar aprofundar as características democráticas que aparentam absorver melhor as tensões decorrentes das aspirações que nem sempre podem ser atendidas imediatamente, sem nenhum custo.
O The Economist tem uma experiência internacional mais ampla que a maioria dos veículos brasileiros e suas análises merecem ser consideradas, como as que estão sendo apontadas no seu artigo no número da próxima semana. Já postamos casos de muitos outros países que estão passando, em graus e intensidades diferentes, por problemas como os que se repetem no Brasil. Alguns que ainda não estão explicitados para o público em geral, como as fortes tensões que estão ocorrendo na China, que aparentam ser elevadas, deixando seus novos dirigentes com algumas justificadas perplexidades. Todos aspiram um desenvolvimento acelerado, mas existem limitações de recursos econômico-financeiros, recursos humanos capacitados para gestões eficientes, mecanismos administrativos funcionais, consensos razoáveis, amplas dificuldades políticas, incapacidade da adequada compreensão do que está acontecendo, bem como capacidade de construir saídas razoáveis para a superação dos problemas no prazo que está sendo exigido pela população de forma emotiva. Muitas situações acabam aparentando uma desorganização, que pode ser aprofundada pela arrogância e incapacidade de diálogos que possam reduzir as tensões.
Manisfestação popular em Tahir Square Egypt, que reuniu entre 10 a 14 milhões de pessoas
A revista inglesa informa que os manifestantes do último dia 30 de junho no Egito foram estimados entre 10 a 14 milhões de pessoas, dentro de uma população total de pouco mais de 80 milhões do país. Muhammad Morsi, que foi eleito a cerca de um ano atrás, depois da queda de Hosni Mubarak que consumiu quase três semanas, acabou derrubado em três dias. Segundo pesquisas, o Exército que efetuou esta arbitragem, colocando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Geral al-Sisi, para organizar uma lei eleitoral, eleições parlamentares e presidenciais, conta com o apoio maciço da população, indicado numa recente pesquisa de opinião com 94%. Mas nada como prazo fixo está anunciado, pois a Constituição foi revogada.
Ainda que muitos erros tenham sido efetuados pelo presidente Morsi, eleito apertadamente, notadamente com a exagerada valorização da Irmandade Muçulmana no maior país árabe laico com variadas influências religiosas, o processo de sua destituição foi surpreendentemente rápido. De uma aprovação inicial que chegava a perto de 80%, segundo uma pesquisa efetuada pela Baseera, chegou a cerca de 30%. A deterioração de sua economia também foi acelerada neste último ano, com redução de suas reservas externas e elevação do desemprego, chegando à importação de combustíveis quando antes era exportador de petróleo.
Ninguém pode arriscar ainda um prognóstico do futuro do Egito, como suas influências no mundo árabe, que foi afetado pela Primavera Árabe.
Os meios de comunicação disseminam as informações com grande rapidez, e mesmo países com longas tradições democráticas consolidadas estão assistindo às demonstrações populares. O que se espera é que os políticos tenham a consciência que estão ligando com fenômenos novos, mas que as soluções não podem ser precipitadas, havendo muitos exemplos de aperfeiçoamentos que podem ser feitos, todos no sentido de uma correspondência maior dos eleitos com seus eleitores.