Desenvolvimento Rural Brasileiro
15 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo de Fernando Lopes para o Valor Econômico, dados interessantes, Ibre/FGV, Índice de Desenvolvimento Rural, novas sugestões | 2 Comentários »
Um importante artigo foi publicado hoje por Fernando Lopes no Valor Econômico com o título “Novo índice mapeia desenvolvimento rural”. O trabalho foi encomendado pela CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil para a IBRA/FGV – Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, tendo sido liderado por Ignez Lopes, Mauro Lopes e Daniela Rocha. Baseado nos dados do Censo Agropecuário de 2006 e Censo Demográfico de 2010, elaborou-se o IDR – Índice de Desenvolvimento Rural que leva em consideração dimensões distintas com pesos diferentes: social (30,1%), econômica (29,5%), demográfica (22,8%) e ambiental (17,6%). Utiliza recomendações como a da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
As conclusões retiradas das análises efetuadas permitem algumas discussões, pois sugerem que o Centro Oeste apresentou os melhores resultados, enquanto as novas regiões ocupadas pelas produções de grãos, como o Maranhão e o Piauí, ainda se colocam entre os piores. Parece necessário, no mínimo, que se considere o tempo em que estas regiões foram ocupadas pelas fronteiras agrícolas brasileiras. No Centro Oeste, a ocupação mais intensa ocorreu na década dos 70 do século passado com migrantes provenientes do Sul, enquanto as regiões mais ao norte são mais recentes neste tipo de atividade, pois no passado eram de pecuárias extensivas e tradicionais. Também não parece adequado o uso deste novo índice para comparar pequenos municípios, quase uma fazenda, com os grandes, que apresentam uma larga complexidade e diversidade.
É evidente que o Sul do Brasil considerado pelos quatro Estados, inclusive São Paulo, apresenta índices elevados, até porque conta com uma ocupação agropecuária mais antiga e consolidada, com influências mais acentuadas das imigrações estrangeiras e de seus descendentes, com maior prioridade para a educação.
O Centro Oeste, compreendendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, de ocupação com muitos migrantes provenientes do Sul, a procura de áreas mais amplas, com nível educacional mais elevado e domínio de técnicas mecanizadas, teve possibilidade de conseguir resultados expressivos.
Parece ser necessário que se considere que o meio rural brasileiro passa por significativas transformações, e que, quando muitas áreas acabam sendo generalizadas pelos Estados, acabem provocando entendimentos inadequados. Por exemplo, no sul de Minas Gerais, o Triângulo Mineiro e partes importantes da Bahia já apresentam dados comparáveis com as das regiões melhor consideradas.
A expansão da fronteira agrícola por Tocantins, Piauí e Maranhão ainda está num intenso processo, também recebendo novos migrantes do Sul com suas culturas ainda não tiveram tempo para que elas fossem disseminadas entre os habitantes tradicionais. Portanto, a dinâmica em que estão se processando parece de grande importância e estes índices devem ser considerados numa série, no mínimo, de média duração.
O que parece interessante de ser investigado é que a produção agropecuária atualizada não ocorre de forma isolada, mas vem acompanhada da melhoria dos apoios dos centros urbanos locais, com seus serviços e inclusive agroindústrias, bem como a consolidação de seus serviços públicos, inclusive educação.
Quando a economia mundial passa por fortes ajustamentos, com os primeiros indícios de recuperação da crise de 2007/2008, parece natural que haja também no Brasil uma maior produção voltada ao mercado interno, e menos dependente das fortes flutuações do mercado externo.
Por mais importante que o Brasil seja do ponto de vista da competitividade do seu setor rural, tanto na produção de cereais, da pecuária como de outros seus produtos primários, espera-se que valores sejam agregados sobre estes produtos, voltando-se à exportação já como produtos industrializados ou semi-industrializados. Na medida em que se volta para o mercado interno, acabará incorporando também outros componentes como embalagens e até parte da comercialização até chegar ao varejo.
Assim, alguns municípios como do Triângulo Mineiro já se consolidaram como centros estratégicos para abastecimento de vastas regiões brasileiras. Na medida em que a atividade rural vai determinando padrões mais expressivos de desenvolvimento, muitos outros serviços e até produtos industrializados, voltados ao apoio da produção rural ou para atendimento de todas as necessidades dos seus habitantes, acabarão ocorrendo nestas regiões.
Observa-se que muitos equipamentos agrícolas, veículos de todos os tipos, também passam a serem produzidos nestas regiões, além da expansão da construção civil de elevada qualidade, e todos os eletrodomésticos que permitem uma qualidade de vida respeitável, comparável aos dos grandes centros urbanos do país.
Estes dados colocados à disposição dos analistas se mostram férteis para estudos mais detalhados e melhor compreensão do que está acontecendo neste Brasil.
Muito importante a publicação do IDR. Gostaria de saber se esse índice foi calculado por município.
Obrigado
Edimilson Veras
Caro Edimilson Correia Veras,
Obrigado pelo comentário. Segundo o artigo publicado, ele foi calculado somente para alguns municípios escolhidos, e ainda não está sendo publicado em série o que permitiria um melhor conhecimento da dinâmica que está ocorrendo.
Paulo Yokota