Evolução dos Acontecimentos Recentes no Brasil
1 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: aspirações legítimas a serem ordenadas, Brasil atual, existência de limites, pesquisas de opinião
A Datafolha, considerada uma entidade de pesquisa de opinião confiável, divulgou um recente levantamento indicando que em três semanas a aprovação da presidente Dilma Rousseff pela população caiu de 57% para 30%, uma das maiores quedas desde a época Collor, de forma generalizada por regiões e idades. Mas, somando os que consideram ótimo/bom com os que consideram regular, 43%, ainda está com 73% que não a desaprovam, ou seja, os que consideram o seu governo ruim e péssimo está em 25%. É um retrato do momento, que ainda não indica uma tendência definida, mas dá sinais importantes.
Esta queda não se observa somente com as manifestações populares, mas um sentimento que o emprego vai cair e a inflação vai subir, segundo dirigentes da Datafolha. Oito das dez pessoas pesquisadas, numa amostra devidamente estratificada, ouvindo 4.717 habitantes do Brasil, aprovam as manifestações recentes, ainda que uma pequena parte esteja descontrolada, não se evitando violências e depredações, em que pese o policiamento. Não há sinais de que elas diminuirão, pois todos os insatisfeitos com alguma coisa estão se manifestando, sem que haja possibilidade de controle. Estes assuntos acabam dominando as preocupações de todos que se consideram responsáveis, sobrepujando até o futebol que era um dos símbolos do país. Espera-se que a vitória brilhante na Copa das Confederações ajude a elevar a autoestima dos brasileiros.
Presidente Dilma Rousseff
Esta é uma situação difícil para o governo, não somente federal, mas estaduais e municipais, assustando os empresários brasileiros e estrangeiros, que ficam conservadores nos seus investimentos. A redução de muitas tarifas atendendo algumas das reivindicações populares assustam os que pretendiam participar das licitações diversas de concessões públicas, o que pode indicar uma queda dos investimentos no futuro próximo, contribuindo para a redução do emprego e agravamento da situação, que se desejaria evitar.
A educação, no seu sentido mais amplo, fracassou no Brasil por todas as indicações. O despreparo vai das autoridades dos Executivos, Legislativo, Judiciário, acadêmicos como da população em geral, inclusive dos que pretendem efetuar as análises. Informa-se que estão programando uma greve geral, com o uso das centrais dos trabalhadores que só pode contribuir para piorar o emprego e os salários, que vinham sustentando o mercado interno, pois as exportações já estão fracas. Muitas análises que estão sendo divulgadas se restringem às questões internas, sem ver que o mundo enfrenta dificuldades como na Turquia, na China e até nos Estados Unidos, bem como em todo o resto do mundo.
A Dilma Rousseff que foi eleita por indicação do Lula é considerada muito teimosa e não conseguiu montar uma equipe de auxiliares capacitados, cedendo às pressões de políticos tradicionais. Ministros que são considerados fracos parecem ouvidos pela presidente dando opiniões sobre o que não entendem como a complexa reforma política e o processo de incorporar as forças geradas pelas manifestações públicas.
Se a presidente não se conscientizar que tem grandes dificuldades de diálogos, principalmente políticos e não é considerada boa para escolher auxiliares e seus gestores que não conseguem tocar os projetos necessários, provocando algumas mudanças de vulto na atual situação, sua reeleição está comprometida. Ela continua dependendo da base governista, composta pelos que parecem só aspirar ao atendimento dos seus interesses pessoais ou grupais.
Há pessoas sugerindo que ela anuncie o cancelamento do projeto de trem rápido no Brasil, promova fusões dos ministérios, escolha um chefe da Casa Civil que conheça a administração pública, tenha trânsito no Congresso e conte com credibilidade no setor privado. Sem decisões de grande impacto, somente com discursos e mesmo tentando ouvir agora muitos setores, não vai conseguir deter a continuidade de muitos manifestantes.
Ainda existe tempo até as eleições para corrigir o andamento do seu governo, mesmo porque os possíveis candidatos que podem lhe fazer oposição também não estão sendo capazes de capitalizar estas manifestações a seu favor. Todos os políticos estão sendo condenados e está havendo um esforço desesperado para acelerar algumas decisões no Legislativo, que nem sempre estão consideradas com o devido cuidado. E a experiência mundial indica que os segundos mandatos costumam apresentar performances não muito positivas.
Até no Judiciário estão decidindo alguns casos à toque de caixa, como a prisão de um deputado federal condenado por corrupção, sem que seu mandato fosse cassado, ainda que seja um clamor popular, mas muda a orientação até hoje adotada pelo Legislativo. Existe outros aspectos importantes, parecendo ser relevante estabelecer as prioridades.
Muitos manifestantes não possuem uma ideia clara da democracia não respeitando os eleitos, pensando que suas opiniões são mais poderosas que os votos dos modestos que se não apoiam o governo, também não estão contra e que bem ou mal elegeram os que estão com seus mandatos. Muitos pensam que a democracia direta das ruas pode conduzir um país complexo como o Brasil, o que pode ser perigoso, e não se revelou adequado em lugar nenhum e nem em qualquer época.
Muitas aprovações recentes até da presidente e de outras autoridades atendendo algumas reivindicações populares por mais legítimas que sejam acabam estimulando novas demandas. Não há sinais ainda de cansaço com tantas manifestações, ainda que se condenem as violências que continuam se repetindo.
Lamentavelmente, banalizou-se a vida humana ou os danos físicos às pessoas no Brasil. Crimes bárbaros, como o assassinado de uma criança boliviana de uma família que entregou todo o seu dinheiro que conseguiram trabalhando nas costuras de roupas porque estava chorando durante o assalto a uma modesta residência desta família, são sinais mais gritantes, das muitas violências que proliferam no país. Muitos são assassinados ainda que entreguem seus celulares, automóveis ou outros recursos ou propriedades, por jovens que nada mais respeitam. Adolescentes são violentadas sexualmente e mortas.
É preocupante, pois muitos criminosos são menores que não podem ser condenados adequadamente no Brasil, havendo necessidade de reduzir a idade para a responsabilidade criminal, ainda que eles tenham direito ao voto aos 16 anos. Ninguém parece ter paciência para os aperfeiçoamentos que são necessários nos mais variados aspectos de uma sociedade que pretende ser democrática e desenvolvida.
As redes sociais introduziram uma nova realidade no mundo, começando pela Primavera Árabe, chegando à Turquia que apresenta semelhanças nas suas características de um país emergente e democrático como o Brasil. Há tendências que estes fenômenos se estendam para outros países, pela intensidade com que estão ocorrendo entre os brasileiros.
A esperança é que com um pouco de tempo haja divisões fortes entre os manifestantes, principalmente entre os que os desejam manifestações pacíficas e ordenadas, sem violência, como em muitos grandes movimentos. Contra as minorias radicais que promovem violências. Pode-se esperar certo cansaço com todos estes acontecimentos, e um pouco de ações racionais por parte das autoridades, pois é preciso preservar o império da Lei. Que precisamos de aperfeiçoamentos na nossa democracia, a maioria deve concordar e não com situações semelhantes aos anárquicos.
É preciso acreditar que a grande maioria dos brasileiros aspira uma melhoria e não destruir o que foi construído com muito trabalho de todos ao longo de alguns séculos, o que certamente vai acabar acontecendo, apesar das muitas dificuldades que continuarão persistindo. Não há milagres, mas de tudo pode se tirar lições, e espera-se que as prioridades levantadas pelas manifestações acabem prevalecendo. Só com a redução da corrupção, muitos recursos poderão ser economizados, sendo destinados para o atendimento de parte das aspirações de toda a população, mas com respeito à democracia e ao império da Lei.