Especificidades da Economia Brasileira
30 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a elevação dos juros no Brasil, desvalorizações cambiais em economias emergentes, diferenças brasileiras
É muito comum os leigos perguntarem por que na economia brasileira existem tendências de efeitos inflacionários mais acentuados quando ocorrem desvalorizações cambiais como acontecem atualmente em muitas economias emergentes. Em muitos países, as suas transferências para as pressões inflacionárias não são tão acentuadas e as autoridades locais procuram preservar o crescimento de suas economias. Podem ser apontadas diversas causas, que sempre são diferentes em cada caso. Não se pode negar que no Brasil há uma longa cultura inflacionária, diante de períodos de acentuada elevação dos preços, que nem sempre ocorreram em todos os países.
Mas pode-se chamar a atenção para a sobrevivência de alguns sistemas de indexação, mesmo quando se provocou com a introdução do Real um período de razoável estabilidade que não foi curto. Como isto,continua sendo aplicado, a tendência é que a inflação que já ocorreu no passado seja transferida para o futuro, mediante a correção do que se entende que houve de prejuízo para alguns setores. Toda a inflação é um processo de disputa entre setores que procuram se defender dos efeitos da elevação continuada dos preços, que provocam transferências dos seus efeitos para os outros. Com a indexação que proporciona uma sensação de que se corrigiram as perdas, acaba se prolongando esta disputa por um longo período. Não se conhece um esforço para a eliminação desta indexação no Brasil, que costuma não existir em outras economias mesmo emergentes.
Outro aspecto é que existe uma indisciplina fiscal no Brasil, que gastando mais que o arrecadado, apesar de muitas promessas de autoridades, acaba se gerando um déficit que tendem a gerar pressões inflacionárias. Na realidade, para se combater o processo inflacionário, além de um aperto monetário, há que se contar com um controle do aspecto fiscal, pois sem esta conjugação o aumento da contração monetária com a elevação dos juros necessita ser maior que em outra situação.
Como o Banco Central do Brasil recebe a missão de manter a meta de inflação, ainda que com uma tolerância para cima e para baixo, acaba se elevando a taxa básica de juros chamada de Selic, como ocorreu ontem, em 0,5%, chegando a uma elevada taxa de 9%, ainda com tendência de continuar se elevando no mínimo até o final do ano. O mercado não acredita que o governo vai manter o nível do déficit fiscal no patamar que está prometendo, pois acaba atendendo algumas reivindicações para manter ou elevar o seu prestígio popular, importante para efeitos eleitorais.
Também se devem observar que na economia brasileira continua existindo um exagero nos estímulos creditícios para manutenção do nível de atividade econômica. Tanto para os financiamentos dos consumidores como para estimular os produtores a aumentarem suas ofertas de produtos. Como o sistema bancário privado teme a elevação dos seus riscos que podem decorrer do aumento das inadimplências, os bancos oficiais acabam sendo acionados, como vem ocorrendo com o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que, além de estimular as indústrias de base, também ingressaram no varejo, até de financiamentos para os consumidores.
Este quadro apresenta diferenciações com os outros países emergentes, ainda que em muitos deles haja problemas semelhantes ou específicos, que também dificultam suas boas performances. Na realidade, no mundo globalizado, não se pode dizer que o Brasil seja um caso isolado, havendo problemas que são comuns, alguns que são gerados pelos países desenvolvidos, como a guerra cambial que provoca desvalorizações exageradas dos câmbios. Um pouco mais de disciplina no Brasil, principalmente das autoridades, poderiam minorar muitos destes problemas.