Essências da Forma Japonesa de Ser
31 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a arte de manutenção do wa humano, conceitos complexos para a sua compreensão, exemplos práticos, formas culturais da kaizen | 2 Comentários »
Num artigo de grande importância, Glenn Newman, que morou no Japão e continua viajando muito para aquele país, publica no The Japan Times com grande felicidade uma explicação do kaizen, que também se expressa na forma coletiva já incorporada na jeito de ser dos japoneses, mostrando que o autor compreendeu um aspecto relevante da psique japonesa. Ele entende kaizen como uma prática japonesa de melhoria contínua, através do acúmulo de pequenas mudanças incrementais. Este conceito é bem conhecido no mundo na sua forma de comportamento empresarial, para melhorar os processos de negociação comercial, de fabricação, engenharia e outros.
Com exemplos práticos, o autor mostra que o kaizen está sendo aplicado para benefícios coletivos, de forma mais profunda, estando presente em tudo que se refere às necessidades físicas e psicológicas dos seres humanos no Japão. Na sua melhor hipótese, ele desenvolve o conceito de kaizen na escala humana (HSK – Human Scale Kaizen), para eliminar muitas incertezas da vida, evitando embaraços e aborrecimentos cotidianos.
Ilustração de Tim O’Bree publicada no The Japan Times
No artigo, o autor apresenta alguns exemplos que observou no Japão. Numa situação que alguém necessite usar uma toalete naquele país, como ocorre em muitos casos, ele informa que normalmente na sua porta há um sinalizador informando que está ocupado ou não. Este tipo de cuidado ele só encontrou nos aviões, pois o usual em outros países é que se necessita experimentar a porta para saber se está fechado, ou bater para constatar se alguém está o utilizando, o que causa sempre um constrangimento.
Numa metrópole como Tóquio, quando se utiliza o metrô, por exemplo, é comum que se utilize mais de uma linha, havendo necessidade de efetuar-se algum transbordo que podem exigir longas caminhadas, principalmente que não está acostumado. Como eles podem contar com comboios longos de muitos vagões, e muitas vezes há necessidades de deslocamentos pelas estações com muitas saídas e níveis, é usual haver um mapa que oriente na tomada dos vagões mais convenientes, o que proporciona economia de tempo e de esforço para os usuários.
Ele observa que nas cidades japonesas costumam haver mapas, principalmente nas saídas das estações de metrô, para orientar a população sobre que saídas são as mais convenientes para se chegar ao lugar que desejam, como uma loja ou um edifício. Em muitos lugares existem longas passagens subterrâneas que contam com saídas para edifícios assinalados, o que é muito conveniente para os dias de chuvas, ou para as esperas normais nos sinais de trânsito. Estes tipos de facilidades são encontrados também nos grandes edifícios ou lojas de departamento, para que os usuários tenham facilidade encontrá-los, inclusive para algumas conveniências como as localizações dos elevadores e das toaletes.
Ele também observa que nos restaurantes e lugares assemelhados é usual encontrar modelos de plásticos que apresentam as opções dos pratos que são oferecidos, pois nem sempre os simples nomes dos cardápios ou suas explicações dão uma noção conveniente do que os fregueses desejam, podendo haver diferenças substanciais dos que são imaginados com os que são servidos. A simples indicações dos modelos com os seus preços evitam muitas más compreensões. Também pode se acrescentar que é costume os fregueses serem saudados com boas vindas, para que saibam que já foram notados e serão servidos com a rapidez possível.
O autor observa que também quando um freguês paga com notas de elevado valor como de 10.000 yens, o que ainda é usual no Japão, os funcionários que os receberam costumam mencionar em voz alta para que outros também tomem conhecimento do fato, de forma a evitar mal entendidos sobre os valores que lhes foram entregues, o que costuma acontecer em alguns países onde rapidamente acabam sendo habilmente substituídos por outros de valores menores.
O autor observou que existem junto aos caixas das lojas pequenos recipientes para que notas não desejadas sejam descartadas, uma gentileza que não encontrou em outros países.
Um marketing eficiente costuma ser feito pelas empresas japonesas oferecendo alguns produtos úteis como lenços de papel, sacolas com logotipos ou até abanadores para os dias quentes, que discretamente fazem uma publicidade. Em festivais, como em São Paulo, algumas grandes empresas oferecem grandes sacolas que podem ser utilizadas para transportar muitos catálogos ou outros produtos, ao mesmo tempo em que os visitantes percorrem o local fazendo publicidade do seu nome estampado nas mesmas.
No Japão, como uma forma de avisar o horário de alguns compromissos, são frequentes pequenas músicas agradáveis que avisam a proximidade de encerramento do expediente, ou outros horários como os dos almoços ou jantares.
Como todas estas facilidades são incorporadas aos usos e costumes cotidianos dos japoneses, se não forem observados por estrangeiros, não se nota que eles estão procurando uma eficiência coletiva na sua cultura, o que o autor denomina que seja uma forma de kaizen. Evidentemente, existem os que não são exclusivos dos japoneses.
Poderia se acrescentar que faz parte da cultura japonesa o profundo respeito pelos outros, com a constante preocupação de não causar inconveniências aos demais. Evita-se, por exemplo, o uso de celulares em restaurantes e outras localidades para não atrapalhar os outros, como também no trânsito o profundo respeito às regras acaba fazendo com que haja uma maior eficiência para todos, coisa que estão sendo esquecidas em outros países, notadamente no Brasil.
Muito interessante este artigo!
Enfrento a Avenida Brasil de 2ª à 6ª feira, e digo que se todos motoristas fossem mais educados, obedecendo as sinalizações e preocupando- se mais com os demais a avenida seria muito mais segura e menos engarrafada. Muito dizem que o tráfego na Índia é péssimo, isso é porque não conhece aqui.
Na autoescola onde estou tem um francês que quase morreu atropelado 2 vezes aqui no Rio. Segundo ele na França é só por os pés na faixa de pedestre que os carros começam a parar. Ele foi fazer isso no Rio e o que quase aconteceu?
É notável que apesar do desenvolvimento econômico e tecnológico de nosso país, os brasileiro cada vez mais se esquecem dos principio básico que rege um país, que é o respeito. Sem o respeito pelo próximo não a como crescer de forma segura.
Caro Vinicius,
Obrigado pelo comentário. Mas, também existem muitas coisas boas no Brasil.
Paulo Yokota