Falta de Empreendedorismo dos Jovens Japoneses
5 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo no jornal econômico Nikkei, jovens avessos aos riscos, pretensões das autoridades | 2 Comentários »
Um interessante aspecto da sociedade japonesa está sendo apontado num artigo elaborado por Makoto Miyazaki, publicado no jornal econômico Nikkei. As autoridades daquele país estão preocupadas com a falta de um espírito de empreendedorismo dos jovens japoneses quando comparado com o resto do mundo, notadamente daqueles que estão na faixa dos 20 anos. As autoridades procuram estimular o rejuvenescimento da economia do país, que acaba sendo mais elevado nas camadas de maior idade. Numa atividade da estatal chamado Finance Corp do Japão, que procura estimular novas iniciativas, as pessoas de 30 ou 40 anos eram mais frequentes dos que apresentavam a faixa dos 20 anos. Os jovens ainda procuram a segurança que poderia ser proporcionada por um emprego numa grande empresa.
Segundo as estatísticas levantadas no Japão, atualmente as pessoas com 29 ou menos anos representavam somente 9,8% de todos que se estabeleceram naquele país como novos empreendimentos, com uma queda de cinco por cento quando comparado com 1990. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, este percentual seria de 20%, e o que está sendo perseguido pelo governo para 2020 seria dobrar a atual cifra que está ao nível de 5%.
Jovens japoneses na faixa de 20 anos não têm muita ambição para o empreendedorismo
Na realidade, estes dados são coletados considerados os que registram seus start-ups. Diversas entidades se voltam para estes estímulos, mas não encontram ainda meios para conseguir resultados expressivos.
Segundo alguns analistas no Japão, existe um exagerado rigor quando os jovens não conseguem resultados em suas iniciativas. Também poucos jovens na faixa dos 20 anos estão ansiosos para iniciar suas atividades próprias.
As autoridades e os responsáveis pelos cursos de nível superior estão se preocupando com a criação de um ambiente favorável para os start-ups, e fundos estão sendo oferecidos para suas iniciativas. A Agência de Pequenas e Médias Empresas está utilizando o Japan Finance Corp. para expandir estes empréstimos, mesmo sem contar com garantias, oferecendo também um ano de carência para os empréstimos.
Tudo indica que o Japão veio exagerando o seu comportamento coletivo, com pouco estímulo na sua cultura para iniciativas individuais. Hoje, as condições mudaram em todo o mundo, tanto que as grandes organizações ficaram demasiadamente pesadas, não contando com a agilidade para as rápidas mudanças que estão ocorrendo em todos os setores.
Já se observa no Japão que as pequenas e médias empresas estão conseguindo mais resultados que as grandes, ainda que existam atividades que exigem grandes dimensões. Uma forma que veio sendo utilizada entre os japoneses é a terceirização, mas a parte do leão acabava ficando com a que tem um nome, e os serviços pesados com os subcontratados.
Tudo indica que medidas fiscais e trabalhistas poderiam ser tomadas para desestimular este tipo de operação, que muitas vezes acabam se estendendo para outros níveis como a quarteização e mais. Proporcionando condições para maior rentabilidade para as novas iniciativas, parece possível alterar-se o atual quadro.
Outro problema que parece caracterizar a economia japonesa é a falta do uso de serviços de consultores, e mesmo quando as grandes empresas japonesas atuam no exterior, não conseguem a mesma competitividade com as de outras origens, diante da cultura de efetuarem todas as atividades com recursos humanos próprios.
Não são modificações fáceis de serem promovidas, pois estão profundamente arraigadas na cultura japonesa, mas, na medida em que estão sendo obrigadas a atuarem no mundo globalizado, terão que ser alteradas para continuarem competitivas.
Caro Paulo,
-educadores tb estão notando a falta de iniciativa dos jovens japoneses em buscar intercâmbios em escolas/universidades estrangeiras – se comparado com a notável procura por parte de jovens de outros países do leste/sudeste asiático.
-num giro free lancer/flexível pela Itália neste verão escaldante, noto que japoneses (seguidos de chineses e coreanos) continuam a inundar a Europa: chegam em grandes grupos, protegidos por guias-monitores que falam exclusivamente o japonês: estes resolvem todos os problemas, de check in a compras de bilhetes pra museus, reservas de bus/ferry/barcos/etc, turistas japoneses não precisam saber um único “buon giorno”, “grazie”, “per favore”… reservadíssimos, qdo entram nos elevadores nem cumprimentam os outros que ali estão, nem um good-morning. Nota-se que a gde maioria é composta por senhoras de todas as idades, e garotas, garotas, garotas – poucos homens, rapazes. Estes, pelo que pude deduzir conversando com alguns monitores, preferem passar as férias, entre eles, no Japão, em acampamentos/trekkings/aperfeiçoamento em esportes, etc. Os homens aproveitam pra experimentar os esplendidos campos de golfe. O país é tão autossuficiente em proporcionar férias adequadas pra todos.
-Mas me parece que os jovens japoneses estão perdendo o “guts” de enfrentar novas experiências, de desafiar o desconhecido, né não?
-O contraponto com turistas brasileiros que encontro pelo caminho é arrasador: espírito despojado, curiosos, sem protocolos, brasileiros entram no elevador cumprimentando a todos, alegremente: “gd morning”, “buon giorno”, buenos dias”, “ohayô”. Logo se tornam conhecidos no hall ou no restaurante do hotel. Mocinhas e rapazes viajam sozinhos, sem guias nem grupos, enfrentam dificuldades dos pequenos choques culturais com bom humor e jogo de cintura.
Paulo, acho que tb sou mais brasileira, nós nikkeis paulistas estamos criando nossos filhos a manterem o espírito e a mente acesos, desafiando o desconhecido, fazendo se compreender e a se comunicar num “portitalianinglespañol” sui generis – atestando que são jovens de uma geração altamente flexível e globalizada, sem medo de se atirar pelo mundo. E voltam de suas viagens enriquecidos, crescidos, integrados e imbuídos de multi-culturalidade. Estou sentindo firmeza!!
Cara Naomi Doy,
Muito obrigado pelos seus comentários. Acredito que os japoneses ainda vão enfrentar grandes dificuldades para superarem a cultura de Galápagos. Quanto aos nikkeis em todo o mundo, parece que estão sendo obrigados a conhecerem outras culturas, e muitos estão aproveitando esta cross fertilization. No meu caso particular, todos os meus filhos se relacionam com os não nikkeis, e agora estou preocupado com a geração dos meus netos, que foram beneficiados pelas melhorias econômicas que atingem todos os descendentes dos imigrantes de qualquer origem. Espero que não se concentrem somente nos valores materiais mas aperfeiçoem seus interesses em servir a humanidade e na sua sustentabilidade, com a qual estou me preocupando cada vez mais.
Paulo Yokota