O Debate Em Curso no The Economist Sobre os BRICS
28 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a maioria que vai mudando responde que já passou, há um moderador, Kishore Mahbubani da Universidade de Cingapura apresenta argumentação contrária, o desenvolvimento já é o passado ou continua, os leitores podem apresentar suas contribuições, previsto para duas semanas, Rucher Sharma do Morgan Stanley defende intepretação, The Economist promove um debate sobre os BRICS
Parece natural, tanto pela natureza da revista como pela importância das economias envolvidas, que os debates se concentrem no que acontece na Ásia, notadamente na China e na Índia, com os demais emergentes do mundo aparecendo somente para compor o quadro geral. Na apresentação, o moderador Ryan Avent, um experiente editor do The Economist, aponta que o atual soluço está provocando um intenso debate, se seria o fim de um crescimento rápido dos emergentes ou não. A China estaria necessitando de uma adaptação e a Índia e Brasil se esgotando prematuramente, com problemas também em outros países emergentes mundo afora, mas haveria muito espaço para se chegar ao nível dos atuais desenvolvidos.
Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, que também foi colunista em importantes meios de comunicação, afirma que a China e Índia que foram relevantes no século 17 voltariam a sê-los novamente no século 21. Cunhou-se o grupo dos BRICS e outros emergentes também assim podem ser considerados. Depois da crise de 2008, parecia que desafiariam a desaceleração que estava se observando no mundo, mas agora estaria com seus crescimentos em queda quando os desenvolvidos que são 35 retornam ao seu normal, e os demais dos 185 acompanhados pelo FMI continuariam emergentes.
Ruchir Sharma Kishore Mahbubani
Kishore Mahbubani, da Universidade Nacional de Cingapura, que também ocupou cargos em organismos internacionais, afirma que existe atualmente uma pausa técnica no crescimento. Mas que as condições existentes na China e na Índia permitem que se volte ao crescimento. Segundo ele, nos últimos 200 anos, o crescimento da Europa e dos Estados Unidos seria uma anomalia histórica que deverá terminar. Basta que a China e a Índia voltem ao seu normal, sendo interessante observar os seus alunos nas universidades norte-americanas, como dos que se dedicam à ciência e à tecnologia. Segundo ele, houve uma mudança de mentalidade na Ásia, com a renda per capita de Cingapura superando a da Grã-Bretanha. Da utilização de mão de obra barata estão passando para fazer reformas, inclusive com inteligência na desaceleração do crescimento da China. Na Índia, haveria problemas políticos, mas o setor privado estaria conseguindo retornos elevados, e haveria ainda muitos distúrbios em todo o mundo. Também a Turquia e o Brasil teriam que pensar em mudanças, pressionados que estão pela população. Todos superariam suas limitações e voltariam a crescer.
Nas réplicas, o moderador apontou que o ponto crítico no debate seria o “natural” de uma economia em particular. Resumiu os pontos divergentes entre os dois: Ruchir Sharma afirmando que não é por acaso que muitos países estão atrás dos países ricos da América do Norte, na Europa e Ásia. Um desenvolvimento rápido exige que o país esteja sempre vigilante sobre suas oportunidades.
Kishore Mahbubani, por outro lado, argumenta que capturar esta oportunidade de crescimento é um caminho natural. Más políticas levaram a China e a Índia a manterem crescimentos baixos no passado, e que dando um pouco de espaço estas economias começam a adotar melhores técnicas de produção. Sugeriu que haveria um breve período de redução do crescimento, que alertaria os líderes para efetuar as reformas que voltariam a impulsionar o crescimento.
O moderador confessa-se contrário a incluir todos estes países sobre a sigla BRICS, pois o Brasil com baixa poupança, insuficiente infraestrutura, sem poder exportar produtos industriais, não é competitivo e totalmente diferente da China, como coloca um leitor que acompanha o debate entre muitos outros. Também se aponta as dificuldades de chegar de Santos para São Paulo com os produtos importados, sendo diferente de Cingapura. Os países pobres precisariam ligar suas condições físicas com o mundo. Os debatedores apresentaram suas réplicas no debate. O que poderia se observar paralelamente é que Cingapura é uma cidade-país, que ficou sob o comando de um déspota esclarecido que criou uma dinastia familiar, enquanto países de grandes dimensões geográficas foram incluídos no grupo dos BRICS.
Ruchir Sharma afirma que ninguém apontou que as fraquezas culturais dos chineses ou indianos retardaram o desenvolvimento. Mas a China, depois de um crescimento rápido, teve que desacelerar o mesmo. O crescimento durante as suas histórias não são garantias para o futuro. Os ciclos estão mais rápidos com as novas tecnologias, não havendo como prever no passado o que aconteceria nas décadas recentes. O Brasil teria passado por diversos ciclos, o que seria uma norma, sendo Cingapura uma exceção. Os países pobres podem crescer a taxas mais elevadas. Para que muitos deles cheguem ao nível dos atualmente desenvolvidos, haveria necessidades de fortes lideranças.
Para Kishore Mahbubani, que já viu muitos períodos difíceis no mundo, hoje percebe que está se passando por uma tempestade econômica, com excesso da influência financeira, como a provada pelos Estados Unidos. Segundo ele, as crises vêm fortalecendo as economias, pois deixam as autoridades sem alternativas, citando as asiáticas que cresceram sua renda em diversas vezes. Os países emergentes continuarão chegando enquanto algumas economias desenvolvidas começam a mergulhar, como na Europa. Ninguém pode descansar sobre os louros. Ele aponta que no Ocidente estão 12% da população do mundo e envelhecendo, enquanto 88% fora do Ocidente estão famintas e crescendo, e muitos aspiram chegar à classe média.
Na realidade, tudo indica que não existe nem um determinismo histórico ou geográfico, mas as comunicações no mundo estão melhorando, e muitos estão entendendo que a forma de conquistar níveis superiores de bem-estar dependem dos seus empenhos na educação. Ainda que insatisfatórios e deficientes, os que estão procurando cursos no Brasil e em outros países emergentes aumentam, e na medida em que melhoram suas condições acabam aspirando por mais liberdade democrática, inclusive para apresentar suas reivindicações de forma pública.
Pessoalmente, incluo-me entre os otimistas, constatando que a humanidade já atravessou diversos períodos como às com preocupações malthusianas, mas acabou superando as limitações inclusive de alimentos, Mesmo as atuais dificuldades de sustentabilidade acabarão encontrando soluções tecnológicas, podendo se esperar padrões mais condignos de vida para todos, inclusive para os idosos que estão aumentando o seu percentual no mundo.
Mas tudo vai depender das decisões políticas, como também da acumulação de trabalho, e um nível razoável de racionalidade.