A Contemporânea Literatura Japonesa de Hiromi Kawakami
7 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: 2010, A valise do professor, Estação Liberdade, prêmio Tanizaki de 2001, vencedora do prêmio Akutagawa de 1996 | 2 Comentários »
Na vasta produção literária japonesa contemporânea, quem recebe destacados prêmios, como a Akutagawa e a Tanizaki, merece uma atenção especial, pois reflete o que existe de mais importante na cultura daquele país. É o caso da jovem escritora Hiromi Kawakami, cujo livro “A valise do professor”, editada para o português com a primorosa tradução de Jefferson José Teixeira, pela Editora Estação Liberdade, 2010. Somente agora tive tempo para completar a sua leitura. Nada mais expressivo do que esta obra que utiliza o que há de mais significativo na cultura japonesa, como uma aproximação sutil nos relacionamento das pessoas, nunca de forma muito direta, que vai rodeando o assunto com insinuações. Ainda que seja um livro relativamente curto, seus episódios permitem múltiplas possibilidades que estimulam a imaginação dos leitores, de quem se exige muita paciência. Não ferir a suscetibilidade dos outros é um cuidado característico da cultura japonesa.
Também sempre me lembro das memoráveis lições do Katsura Imperial Village, de Nara, considerado o que existe de mais expressivo na arquitetura japonesa e quiçá internacional, refletindo a essência da cultura consolidada naquele país. Pelas passagens daquele Palácio que ao ser percorridas aos poucos vai se descobrindo novos ângulos que permitem visões deslumbrantes, numa constante descoberta que não provoca o choque da noção de todo o conjunto num só deslumbre. Lá não existe nada redundante, com uma combinação perfeita entre o interior e o exterior, com a beleza da simplicidade. Todos os detalhes foram estudados profundamente, inclusive a posição do anfitrião e do visitante, que permite pela janela a visão da lua no quadro emoldurado na rica paisagem externa do mais refinado bom gosto, num dia e numa determinada hora. Parece a essência da cultura japonesa que também se procura recuperar no livro.
Hiromi Kawakami,
Na cultura japonesa tudo indica que alguns gestos, o que não se fala acaba sendo mais expressivo do que é colocado de forma explicita. Mas, para os que não são iniciados nestes conhecimentos, acaba aparentando uma falta de objetividade, como se tudo na vida tivesse que ser desnudado.
O mistério do que não se sabe, as suposições que podem ser feitas sobre o desconhecido também são marcas existentes em outras culturas, mas a sua sutileza parece mais rica entre os japoneses. O livro é rico nesta exploração desta situação. Não fora este suspense não existiria o lento streap tease ou a mostra parcial de um corpo, para que a rica imaginação possa criar mais do que realmente existe.
A literatura, na minha modesta opinião, acaba sendo mais rica, tanto que os leitores ao relerem obras importantes sempre vão descobrindo aspectos que não foram notados na primeira leitura. Há um processo interativo, que parcialmente podem ser sugeridos por bons autores, mas a transmissão do que poderia se dizer vai depender também dos que estão lendo. Como acontece também no bom teatro.
No mundo atual onde a reflexão está se tornando menos profunda, a profusão de ideias transmitidas eletronicamente parece estar empobrecendo os seres humanos, salvo exceções. Vivemos somente da superficialidade, da percepção instantânea, sem que se use a parte dos seres humanos que mais nos diferenciam dos outros, que na cultura asiática estende também sobre as coisas.
A Editora Estação Liberdade, como outras, lutam para manter vivas tanto as contribuições das obras que já se tornaram clássicas como das novas colocações que estão sendo feitas pelos jovens autores. Só se lamenta que nem sempre se dispõe do tempo suficiente para explorar todas estas minas que poderiam nos enriquecer a todos.
Prof. Paulo Yokota, o Katsura Imperial Village fica em Kyoto, não em Nara. Um abraço.
Caro Jo Takahashi,
Muito obrigado pela honrosa correção feita por uma das pessoas que considero mais conhecedor da cultura japonesa entre os nikkeis. Alias, o nome correto é Katsura Imperial Villa onde estive diversas vezes, e tenho algumas publicações e considero um dos melhores lugares do Japão a ser conhecido. A minha confusão decorreu dela ficar em direção a Nara, que sempre aproveitei para visitar também.
Paulo Yokota