Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldades das Autoridades Para Pequenos Colonos

24 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo no Valor Econômico, dificuldades dos pequenos colonos, produtores de cacau na Transamazônica

Lamentavelmente, depois de quase três décadas após deixar a presidência do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, lendo um artigo no Valor Econômico sobre os pequenos colonos que batalham junto à Transamazônica, escrito por Carine Ferreira, vejo que pouco mudou para eles. O que me deixava muito triste era constatar que para eles as autoridades brasileiras tinham a infeliz imagem de que eram pessoas que só lhes criavam dificuldades. A jornalista descreve que os pequenos produtores de cacau continuam enfrentando dificuldades para contar com títulos de suas terras, incompreendidos pelos que pensam estar defendendo a ecologia e enfrentando todas as dificuldades para sobreviverem produzindo heroicamente nos confins deste país.

Eles deveriam ser tratados como verdadeiros heróis por estarem cultivando o cacau em condições tão adversas. Os artigos mostram que produzem o mesmo de forma orgânica, estão organizados em cooperativas, ocupam a floresta com o que melhor podem preservá-la, e continuam aumentando a sua produção apesar de todos os funcionários públicos que só lhes criam dificuldades. Chegam a produzir para que seus produtos sejam exportados, contribuindo com grande sacrifício para colaborar com o Brasil. Mas continuam sendo ameaçados por injustas desapropriações para a construção de usinas como Belo Monte, por valores insignificantes.

Kazuagro

Como todos sabem, o cacau é originário da Amazônia, acabou chegando à Bahia depois de muitas lutas contra pragas como a chamada vassoura de bruxa. Cultivado no meio da floresta, ele está menos sujeita às pragas, permitindo que sejam orgânicas para terem um valor melhor, graças aos trabalhos dos dedicados pesquisadores da CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, que conseguiram desenvolver as variedades mais resistentes às pragas. As ocupações de pequenos lotes de regiões tão distantes no interior do Estado do Pará só se torna viável com culturas de alto valor comercial como o cacau, que demandam um longo período para se tornarem produtivos.

Empresários brasileiros, como Ernesto Ary Neugebauer, de uma tradicional família de produtores de coberturas de chocolate, da conhecida marca Harald, procuram heroicamente colocar o seu produto na China, que ainda é pequena consumidora per capita dos produtos como chocolate.

O jornal Valor Econômico, por noticiar trabalhos de pioneiros de brasileiros como destes produtores de cacau, os funcionários da CEPLAC, os organizadores destas cooperativas, todos deveriam ter o amplo reconhecimento das autoridades brasileiras, eliminando os obstáculos que cerceiam suas pioneiras atividades. São eles que ainda mantêm a chama da esperança do desenvolvimento brasileiro aproveitando melhor a biodiversidade brasileira.

Todos nós deveríamos ter a humildade de aprender com estes heroicos trabalhos e disseminar suas técnicas para a melhor preservação dos nossos recursos naturais, ajustando melhor as regulamentações para o uso adequado da floresta amazônica. Vamos acordar antes que seja muito tarde.