Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de Delfim Netto Sobre a Agricultura Brasileira

9 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a demanda chinesa de produtos agrícolas, entrevista para o Valor Econômico, o mercado internacional, possibilidades futuras

O professor Delfim Netto concedeu uma longa entrevista para o jornalista Luiz Henrique Mendes sobre a agricultura brasileira e suas perspectivas que foi publicada no Valor Econômico. Reconhece que ela continua se beneficiando da expansão da economia asiática, notadamente da China, e, ainda que o mesmo ritmo possa ser difícil no futuro, ela continuará suprindo parte da necessidade mundial. No entanto, dada a existência de oligopólios e oligopsônios, ou seja, um pequeno número de tradings internacionais que atuam no mercado destes produtos, quando existem milhões de produtores agrícolas, há uma necessidade de regulação governamental para evitar as ineficiências que são geradas por estas empresas.

Ele observa que o que acontecia com o mercado de grãos está sendo reproduzido com a ajuda errônea do governo no setor de carnes. Ainda que o papel da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias tenha sido relevante, não cabe a ela substituir o setor privado, que poderá continuar contribuindo no aumento da produtividade do setor. Os ganhos seriam expressivos se a extensão rural auxiliar as pequenas e médias empresas a também absorverem as tecnologias hoje disponíveis para as grandes. Sua perspectiva com relação ao futuro é positiva, pois entende que, com o aumento contínuo da renda no mundo e o avanço da urbanização, haverá ainda um aumento da demanda por alimentos.

ValorKazu

Delfim Netto reconhece que o atual Plano de Safra 2013/2014 é bom, mas poderia ser completado por um sistema eficiente de seguro rural, pois a agricultura é uma atividade de alto risco, por depender fortemente do clima. Numa frustração de safra, os agricultores não podem ficar inadimplentes, pois atualmente só existe um seguro de crédito rural, sendo que os demais gastos não são cobertos.

Existem dificuldades técnicas para o seguro rural, pois especialistas teriam que constatar se eventuais frustrações de safra ocorreram devido ao clima irregular, ou os produtores cometeram irregularidades como a não utilização de sementes, fertilizantes, defensivos ou uso adequado das técnicas agrícolas recomendáveis para cada produto e região. Como os riscos são elevados, os custos deste tipo de seguro também seriam elevados, necessitando de um apoio governamental para se tornar operacional.

A recomendação do professor Delfim Netto é que o governo conte com um tipo de agência reguladora, como existem em outros setores da economia, para evitar abusos e regulamentar, sem a necessidade de atuar diretamente no setor agrícola. Um estoque regulador seria recomendável para alguns produtos que apresentam grandes flutuações nos seus preços.

A soja foi mencionada, como um novo produto que acabou mudando a economia brasileira que era, no passado, uma grande dependente do setor cafeeiro e hoje está muito mais diversificada, sendo grande produtora de diversos tipos cereais, entre eles, os destinados à produção de óleos e farelos.

A tendência detectada é da contínua adição de valores nos produtos exportados, que, passando dos primários, tende a caminhar para os agroindustrializados, criando mais empregos no Brasil. Reconhece que existe uma urgência na melhoria da infraestrutura de seu armazenamento bem como escoamento para os portos, visando à exportação.

Na realidade, mesmo com o desenvolvimento brasileiro, o setor agrícola continuará tendo a sua importância, com o contínuo aumento de sua produtividade.