Grandes Mudanças nas Tradings Agrícolas Multinacionais
25 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: do comércio de commodities agrícolas para outras atividades relacionadas, mudanças de dirigentes e ampliação das atividades, seus efeitos no Brasil
Um importante assunto mundial, de particular interesse para o Brasil, foi tratado por Gregory Meyer do Financial Times e publicado também no Valor Econômico. Informa-se que as grandes tradings agrícolas do mundo, conhecidas como ABCD – compreendendo as ADM – Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill e Dreyfus que todos sabem que dominam o comércio internacional de commodities agrícolas, como a soja, o milho, o trigo e outros produtos, estão mudando os seus principais executivos, como também ampliando suas formas de atuação. Algumas destas empresas são mais que centenárias, com atuações desde o século 19 em muitas partes do mundo.
Elas possuem todo o complexo logístico para atuar de forma completa como rede de silos, portos e terminais, navios, relações com os produtores, fornecimento de insumos, operações nas bolsas inclusive futuras, financiamentos e seguros, colocação junto aos grandes consumidores e tudo o mais que se faz necessário para suas atividades globais. A FAO – agência das Nações Unidas para agricultura e alimentos – estima que a importação de alimentos deva superar a US$ 1 trilhão neste ano. A receita coletiva da ABCD deve se aproximar de US$ 350 bilhões, segundo o artigo.
As informações são que estas empresas estão adquirindo outras, ampliando suas atividades na agroindústria, estimando-se que somente no Brasil, nos primeiros oito meses de 2013, aumentaram suas movimentações em torno de 16% com relação ao mesmo período do ano passado.
Algumas atividades vão desde o envolvimento direto na produção de produtos agrícolas, na comercialização, mas também nos beneficiamentos e industrializações, havendo uma tendência para agregarem valor nos países produtores, ainda que não abandonem as tradings tradicionais de commodities.
Estão acelerando seus processos de diversificação como de verticalização, e somente suas exportações brasileiras nos primeiros oito meses deste ano chegaram a mais de US$ 15 bilhões, figurando entre as terceira, quarta, quinta e sétima exportadoras, superadas pela Vale que é a primeira, a Petrobras que é a segunda e a BRF, que figura como a quinta.
Elas atuam com soja, milho, açúcar, café, algodão, suco de laranja e cacau, indo desde a produção agrícola até os produtos finais destinados aos consumidores. Nem sempre suas atividades tiveram completo sucesso e como lidam com produtos agrícolas dependem tanto do clima como do mercado internacional, com fortes flutuações nos seus movimentos como resultados.
Deve-se constatar que está se processando no mundo um modelo de concentração em algumas grandes organizações em muitos setores. Mas nem sempre as comprovadas habilidades nas grandes comercializações permitem uma elevada eficiência na produção ou na aquisição, o que faz com que elas acabem juntando os trabalhos feitos por outras empresas menores, ou cooperativas.
As atividades agrícolas costumam exigir a constante vigilância dos seus produtores, muitos de caráter familiar, pois muitas decisões necessitam ser rápidas, como quando ocorrem ataques de pragas e outros problemas que não podem ser decididos somente pelos gerentes locais por envolverem grandes cifras.
Existem muitas atividades onde a escala é relevante, mas em outras onde as velocidades das decisões são importantes. Muitos produtores rurais desejam negociar cara a cara com os donos das empresas, mas estas multinacionais são constituídas de competentes administradores profissionais, nem sempre acionistas.
Mas nas commodities agrícolas que envolvem produções de diversos países, bolsas internacionais e compradores espalhados por diversos países, onde elas acabam tendo uma eficiência elevada, contam com a tradição de relacionamentos de longos períodos. Nestes setores, as estatais não costumam contar com as agilidades indispensáveis, e muitas operações podem não dar resultados expressivos, mas, no conjunto das mesmas, estas multinacionais acabam sendo competitivas, utilizando todas as vantagens de suas escalas.
Muitas vezes os países, nas defesas dos seus interesses, procuram evitar ações monopolistas ou monopsionistas, oligopolistas ou oligopsionistas, mas seus agentes nem sempre possuem a competência e a tradições destas tradings multinacionais.