A Complexa Limpeza dos Bancos na Europa
26 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: diferença com os Estados Unidos, examinando os empréstimos dos bancos europeus, problemas nos países emergentes
A revista The Economist publicou um artigo mostrando que as dívidas das empresas europeias podem ser tão complexas como os débitos soberanos dos seus países, e que o rigoroso presidente do BCE – Banco Central Europeu, Mario Draghi, já colocou na agenda para procurar resolvê-los em 2014. Como todos sabem, a crise financeira mundial começou em 2007 pelos créditos imobiliários incobráveis dos bancos norte-americanos. Eles acabaram recebendo volumosos recursos do governo daquele país para não falirem e provocaram um problema sistêmico. Os devedores familiares podiam entregar seus imóveis deixando de honrar os seus compromissos com os bancos. A legislação europeia é mais rígida e as empresas que contraíram estes empréstimos continuam com débitos que os bancos não podem cobrar e que continuam constando dos seus balanços.
Depois de conseguir estancar os débitos públicos dos países que não podem honrar os seus compromissos, a partir do próximo ano os bancos sofrerão um exame mais profundo dos seus ativos, estimando-se que em alguns países eles são elevados. O FMI – Fundo Monetário Internacional estima grosseiramente que em Portugal, Espanha e Itália eles podem chegar a 50, 40 ou 30% dos creditos dos bancos, que são incobráveis. Não se poderão adotar medidas como as que foram tomadas nos Estados Unidos, ainda que Angela Merkel já venha adotando atitudes menos rígidas no que se refere à solução dos problemas fiscais.
Mário Draghi
Estes problemas só podem ser resolvidos com muito prazo, pois as empresas devedoras europeias não podem entregar os imóveis para resolver seus débitos. Para que os bancos continuem saudáveis e tenham condições de colaborar na recuperação europeia, terão que absorver os prejuízos, mesmo com a liquidação de alguns deles, que certamente acabarão sendo absorvidos pelos que estão mais capitalizados.
Estes problemas do setor financeiro existem em todo o mundo, dificultando a recuperação mais rápida das economias destes países. Mesmo em economias emergentes como o Brasil ou a China, os bancos oficiais foram utilizados para que os efeitos de depressão da economia, vindas do exterior, não fossem tão profundos. Estes bancos, sabidamente, carregam muitos créditos incobráveis, que teriam que ser liquidados por seus valores corretos, ou seja, com grandes descontos sobre seus valores de face.
De qualquer forma, estes problemas não podem ser atirados para baixo do tapete, necessitando ser limpos em algum momento, que não pode ser muito distante. O The Economist prevê que haverá uma nova crise financeira, como consequência, agora atingindo os bancos e as empresas privadas, de forma muito diferente dos débitos governamentais, que acabaram recebendo formas de suavização com as ajudas dos governos.
Este saneamento do sistema bancário necessitará ser feito com os resultados que os bancos obtiverem ao longo dos próximos anos. Os casos mais críticos acabarão sendo absorvidos por bancos mais capitalizados, com as ajudas das autoridades monetárias, mas demandarão um bom tempo.
Com tudo isto, a esperada recuperação das economias de diversos países acabará sendo mais lenta do que as desejáveis, exigindo um grande rigor das autoridades, não se restringindo somente a casos eventuais.