O Problema da Persistência da Malária no Mundo
27 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: artigo de Sonia Shah no Foreign Affairs, dificuldades políticas, malária historicamente, problemas no seu combate | 2 Comentários »
Sonia Shah é uma jornalista científica que tem um livro escrito sobre malária, que é a doença que mais matou na história da humanidade nos últimos 500 mil anos, e que continua sem solução adequada em algumas áreas pobres do mundo, intensamente infectadas. Ela continua afetando os brasileiros em algumas áreas da Amazônia. Num artigo publicado no Foreign Affairs, ela expõe porque a malária não conseguiu ser eliminada, ainda que se chegasse a efetuar doações de US$ 2 bilhões anuais para o seu combate. Esta doença continua sendo uma calamidade em algumas áreas africanas como no Sudeste Asiático, sendo difícil de ser eliminada, havendo, lamentavelmente, uma convivência com a sua persistência, pois as autoridades não a consideram uma moléstia da maior gravidade.
O problema no Brasil já foi mais grave, mas na Amazônia principalmente consegue-se que a população evite as áreas onde os mosquitos transmissores atuam mais ativamente, no pôr-do-sol ou nas madrugadas, junto aos rios. O problema é que uma pessoa contaminada com a malária pode ficar com a mesma no seu fígado, e o sangue sugado pelos mosquitos acabam infectando outros. Na Ásia e na África, combateram-se estes mosquitos com o DDT, mas eles acabaram ficando mais resistentes. Alguns pacientes foram picados muitas vezes, fazendo com que ficassem como autoimunes com manifestações menos fatais, mas os seres humanos continuam contaminados e, se picados, podem transmitir para outros estas doenças.
A malária está intimamente ligada à pobreza. Na África Subsaariana e em países do Sudeste Asiático, os pacientes não se cuidam usando redes protetoras, sendo que poucos recursos locais são mobilizados. Os recursos externos também acabaram diminuindo, mas recentemente com a mobilização provocada pelos fundadores da Microsoft Bill Gates e Sachs, houve uma reação, conseguindo-se reduzir em 25% as mortes decorrentes da malária.
O que seria necessário era reduzir a doença a zero e manter por um bom tempo, até que os parasitas não possam se esconder nos fígados dos infectados. Também se informa que eles estão ficando mais resistentes aos remédios atualmente disponíveis.
As estratégias atuais comandadas pelo OMS – Organização Mundial da Saúde são consideradas insuficientes, e novas precisam ser utilizadas, com mobilização de mais recursos. Conta-se no momento com cerca de 500 parceiros para estas campanhas.
No fundo, é necessário que as pessoas se protejam permanentemente das picadas, com casas bem construídas, com telas protetoras, acesso à eletricidade e estradas classificadas como boas, o que significa mais desenvolvimento econômico.
São indicações que o Brasil também não deve amolecer no seu esforço de erradicação completa da malária, mesmo nas regiões mais remotas.
Caro Paulo,
É muito interessante e relevante o artigo na Foreign Affairs sobre malária. Observa-se que as ilações da jornalista relacionam-se sobretudo à África onde a dotação financeira externa para cuidar da malária são importantíssimas haja vista a pobreza dos países. Contudo supor que a erradicação da malária no presente dependa de verbas é excesso de otimismo, mas compreensível quando se pretende sensibilizar o público para doações e os governos para políticas de saúde solidárias no estrangeiro.
O exemplo de doença erradicada – a varíola – contou com duas condições se não necessárias, altamente favoráveis, uma técnica e outra natural, respectivamente a existência de uma vacina eficaz e a especificidade da doença para o homem. Embora a última condição seja também característica da malária humana (os parasitas que acometem alguns primatas não sobrevivem no homem e vice-versa), nos últimos trinta anos todas as pesquisas de vacinas para malária são exemplos de “tecnologia promissora” e que invariavelmente falham, ao menos na capacidade de imunização completa. O fato é que o protozoário da malária é um organismo mais complexo do que os vírus e a resistência medicamentosa faz parte da sua história, por exemplo a colonização de Rondônia desde a construção da ferrovia Madeira-Mamoré compreendeu mais de uma resistência aos fármacos.
Por último, no Brasil, a minha opinião é de que não é tanto a pobreza o fator determinante, mas a exposição das pessoas no contorno de florestas. Citadinos proprietários de terras em visitas domingueiras, bem como o hábito de lazer das pessoas nas “praias” fluviais são exemplos de pessoas urbanas que se expuseram em áreas de risco. Se há associação com a pobreza, ela é consequência da exposição.
Cordialmente,
Rubens
Caro Rubens,
Muito obrigado pelos comentários pertinentes.