Procurando Entender Um Pouco da China
12 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: artigo do The Economist sobre a economia global, lições possíveis, o caso da Haier, tornou-se a maior empresa de aparelhos domésticos
A revista The Economist publica um artigo sobre a empresa chinesa Haier que se tornou a maior em aparelhos eletrodomésticos no mundo, com a liderança de Zhang Ruimin, que assumiu o seu comando em 1984, quando ela estava em péssima situação aproveitando algumas coisas que ele aprendeu na Alemanha. Informa-se que este destacado empresário tem um obcecado estilo inovador, aceitando examinar aperfeiçoamentos cujas sugestões provenham de funcionários, clientes como fornecedores, conseguindo reverter o quadro de uma precária empresa que produzia refrigeradores. Deu prioridade para o mercado interno, mas também conseguiu qualidade competitiva nos Estados Unidos e na Europa, e as suas receitas estão em contínua ascensão, passando de cerca de US$ 10 bilhões em 2003, quando tinha 3,1% do mercado global, para mais de US$ 25 bilhões em 2012, conseguindo 9,6% de participação no mercado mundial, ultrapassando as marcas tradicionais no mundo.
A empresa que tinha 80.000 funcionários em áreas tradicionais como produção, venda e outros, conta hoje com 2.000 das chamadas ZZJYT’s, equipes que executam muitos papéis diferentes, ficando responsáveis pelos ganhos como pelas perdas do seu setor. Os funcionários são pagos pelos seus desempenhos, com os gestores contando com suportes para pesquisas e marketing, objetivando incentivar inovações de uma empresa marcantemente aberta. Algo parecido já se adotava em algumas empresas japonesas, fazendo com que houvesse um empenho de cada uma das equipes, que concorriam entre si.
Para se compreender este sucesso é preciso entender um pouco da alma chinesa. No Ocidente, costuma haver uma impressão errônea que os chineses são coletivistas, pelo curto período do comunismo imposto por Mao Tse-tung. No entanto, a sua longa história de milênios incutiu na sua cultura um espírito de acentuada procura das vantagens que podem ser obtidas individualmente ou pelos clãs aos quais pertencem. Sua tradição comercial vem deste os tempos da Rota da Seda, que permitia o intercâmbio até com a incipiente Europa. Nada mais parecido com o espírito capitalista.
Muitas das organizações empresariais na China estimulam a formação de pequenos grupos que competem entre si, quando lhes são oferecidas mínimas vantagens para os que obtiverem as melhores performances. Ao mesmo tempo, como ensinou Joseph Needham, de Cambridge, os chineses foram os que mais introduziram inovações relevantes ao longo da história. Combinando estas duas características, os resultados da Haier não devem ser surpreendentes.
Os funcionários ambiciosos desta empresa são livres para identificar oportunidades e proporem um novo produto ou serviço. Aprovado por um grupo, eles ocupam a liderança do projeto, mas o que se colocou em segundo lugar também, ficando com o permanente desafio de superá-lo. A Haier foi crescendo, absorvendo rivais chineses e desenvolvendo entregas rápidas. Em vez de expandirem para o Sudeste Asiático, onde contariam com concorrentes modestos, preferiram atuar nos mercados europeus e norte-americanos, onde contavam com consumidores mais exigentes. Eles excedem as normas japonesas de qualidade.
Procurando atender as necessidades dos seus clientes que procuram ouvir com atenção, de forma frugal e rápida, seus engenheiros conseguiram produtos inteligentes como o mini- refrigeradores nas mesas dos computadores para estudantes, freezers mais fracos para sorvetes, congeladores horizontais com duas fileiras de gavetas que dispensam procurar os produtos no fundo, refrigeradores para vinhos, tudo com preços acessíveis.
A empresa foi considerada pela Boston Consulting a oitava mais inovadora no mundo, superando até a Amazon. E não se considera satisfeita pelos resultados obtidos, expressando que deve se desafiar a si mesma, pois senão outros os farão. Ela não procura o equilíbrio entre a caótica energia empresarial das ZZJYTs e do controle do top da organização, pois entende que no mundo em rápidas mudanças, deve-se manter a flexibilidade.
Esta empresa vem mantendo o seu sucesso com a desenfreada competição interna, que chega a ser desumana, na medida em que os menos competentes acabam ficando para trás ou marginalizados.
E ainda existem os que pensam que os chineses são socialistas…