Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Quase Toda a Construção Naval Japonesa Aposta no Brasil

23 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: agora é a Mitsubishi Heavy com outras associadas japonesas, disposição para competir com coreanos e chineses, já vieram a Kawasaki Heavy e a IHI, participação nas empresas brasileiras | 4 Comentários »

Anuncia-se oficialmente que a Mitsubishi Heavy, junto com a Imabari Shipbuilding, Namura Shipbuilding e Oshima Shipbuilding associadas com a gigantesca trading Mitsibishi Corp., desembarca no Brasil para investir na Ecovix-Engevix Construções Oceânicas S.A., como já foi antecipado neste site. Anteriormente, a Kawasaki Heavy começou a participar do Estaleiro Enseada do Paraguaçu S.A. com a IHI, associadas à Japan Marine United e a JGC Corp., do Estaleiro Atlântico S.A. Os dirigentes da Mitsubishi Heavy informam que suas intenções são de se tornarem os maiores estaleiros do Brasil, afirmação que foi feita por Yoichi Kujirai, Executive Vice President. Pretendem competir com os chineses e coreanos que vinham se destacando no mundo.

Com estas decisões, parte substancial da indústria de construção naval do Japão estará presente no Brasil, procurando atender as demandas que têm como centro as explorações do pré-sal, mas que também acabam atendendo outras necessidades brasileiras. Estas empresas de construção de equipamentos pesados estão capacitadas tecnologicamente para atender outras demandas, como de refinarias, liquidificação do gás, bem como outras que se estendam para as atividades petroquímicas e de utilização das energias mais limpas como do gás.

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As declarações feitas numa entrevista coletiva à imprensa, que consta de um artigo no jornal econômico Nikkei, mostram o entusiasmo do grupo Mitsubishi com as perspectivas da construção naval no Brasil, que necessita de equipamentos sofisticados para atender as suas necessidades de exploração do pré-sal.

Todos sabem que volumosas encomendas já estão sendo feitas pela Petrobras, mas as empresas brasileiras não contam com tecnologias nem capacidades financeiras para atender muitas delas, que já estão atrasadas nas suas entregas.

As embarcações necessárias são mais sofisticadas dos que as usuais na indústria petrolífera ou de gás, pois o pré-sal brasileiro fica a uma razoável distância do litoral, espalhando-se por uma ampla região que vai da costa do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. Está se anunciando também novas reservas no Nordeste brasileiro.

Tudo isto deverá provocar um boom nestas explorações petrolíferas e de gás, exigindo plataformas para a sua exploração que já estão encomendadas. Serão necessárias também embarcações para juntar a sua produção nos chamados FPSO – Floating Production, Storage and Off-loading, que são unidades que costumam chegar ao preço de mais de US$ 1 bilhão, quando os navios sondas, utilizados para as perfurações exploratórias de novos poços, custam um pouco menos.

São equipamentos sofisticados, exigindo avançadas tecnologias, e com valor agregado apreciável, o que acaba atraindo todas estas empresas japonesas que competirão com coreanos e chineses, associados às empresas brasileiras que estão mais capacitadas a conseguir as encomendas, como da Petrobras.

Um sênior executive da Mitsubishi Corp., a maior do Japão, informa que as empresas brasileiras acumularam tecnologias para estruturas marítimas, podendo ser consideradas boas parceiras.

Tudo isto mostra que o pré-sal já está acelerando os investimentos na construção naval, antecipando seus benefícios para a aceleração do desenvolvimento brasileiro, antes mesmo que as produções de petróleo e gás se efetivem. Na realidade, os relacionamentos bilaterais do Brasil com o Japão podem sofrer um novo boom, como quando a Vale iniciou a sua exportação para as siderurgias japonesas, provocando uma forte expansão da economia do Japão como do Brasil.

Espera-se que, com as experiências já acumuladas no passado, às boas como as más, estes relacionamentos sejam produtivos, tirando-se o máximo proveito das tecnologias japonesas, sua capacidade de financiamento, acelere o avanço tecnológico das empresas brasileiras, com exportações que possam garantir por muito tempo os equilíbrios necessários para a economia brasileira.

Não se poderá descuidar-se dos problemas de comunicação entre culturas diferentes, bem como o adequado treinamento dos recursos humanos que serão necessários em grande volume e especialização, esperando-se que não seja somente um boom temporário.


4 Comentários para “Quase Toda a Construção Naval Japonesa Aposta no Brasil”

  1. Ramos
    1  escreveu às 19:44 em 21 de julho de 2016:

    A industria naval do Brasil viveu recentemente uma euforia sem limites em relação as promessas da industria do pre sal. Tudo literalmente foi por agua abaixo com as corrupções e jogos de interesse desta chamada PreSalBras, que no fim ja bem não chegou a operar e ja caiu, levando consigo todas industrias navais iludidas com uma promessa de bilhões e bilhões de reais de ganhos. A industria naval tem que acordar de uma vez por todas: é muita tecnologia e investimento pesado para dependencia de algo tão voluvel e enganoso, como é o caso da industria do pre sal operada pela Pre Sal Bras. A industria naval tem que ver outros horizontes, outros setores,outras adaptações de seus produtos, e outros modelos de negócios em que se encaixam suas tecnologias, seja de uma forma ou de outra.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 23:06 em 21 de julho de 2016:

    Caro Ramos,

    Obrigado pelas suas fundamentadas observações. Quando ocorrem problemas de grandes magnitudes como o que ocorreu com a indústria de construção naval no Brasil, associado as perspectivas do pré-sal parece que todos foram envolvidos por um sonho exagerado. O pré-sal certamente apresentava boas perspectivas naquele momento, mas acabou-se exagerando por forte impulso do governo que envolveu os interesses das empreiteiras que, sem experiência na construção naval acabou envolvendo até a construção naval japonesa que deveria ter maiores experiências. Os devidos cuidados com todos os riscos existentes acabaram sendo minimizados no clima de euforia que foi criado, envolvendo também interesses escusos. Alguns empresários japoneses não foram capazes de evitar suas deficiências de avaliação das condições brasileiras, tanto do governo como do setor privado. Parece ter se formado um conluio coletivo, que acabou no desastre que vai ser difícil de ser superado, envolvendo também os bancos. Lamentavelmente, o setor de construção naval no mundo sempre com condições duvidosas em todo o mundo, desde o tempo em que a Holanda era importante no setor, antes dos asiáticos. Grandes operações envolvem possibilidade de lucros substanciais, mas também riscos elevados. Ninguém foi capaz de antecipar que o setor de petróleo passasse por uma mudança tão rápida, havendo também grandes prejuízos no setor do xisto nos Estados Unidos. Toda a crise parece estar relacionado ao exagero do setor financeiro mundial que provocou a crise que começou em 2007/2008. O setor financeiro deveria ser um braço para ajudar, como no passado, mas acabou tendo um papel fundamental na economia mundial, inclusive no desenvolvimento tecnológico, problema que ainda não está resolvido, com o controle dos fluxos financeiros muitas vezes maiores que as operações de produção e comercio internacional. Haverá necessidade de mais apertos que já começaram, bem como controles mais eficazes destas operações financeiras. Com o aquecimento global, o setor de energias poluentes deve sofrer uma radical mudança nas próximas décadas. Estamos na beira de novas fases na economia mundial, com parte substancial do setor empresarial do Brasil fragmentado, o que acontece também com as estatais como a Petrobrás, que não se justificam mais no novo cenário. Temos que ter a coragem de provocar estas mudanças radicais, para não sermos atropelados pelos acontecimentos. São problemas de grande complexidade que temos que estudar muito mais.

    Paulo Yokota

  3. Ramos
    3  escreveu às 10:39 em 22 de julho de 2016:

    Caro amigo Paulo Yokota
    A indústria naval tem ótimas opções de adaptar seus produtos em outros setores considerados pesados, não contando com o transporte aquaviário que é uma das suas principais atuações . Cito três setores em que a indústria naval poderá adaptar navios plataforma onshore-offshore anexados a terminais portuários industriais para suas operações: petroquimico ( onde o navio plataforma será uma base de processamento de produtos petroquimicos, trabalhando em conjunto com uma base da indústria próxima ou junto ao porto em que o navio estará localizado), siderurgia/fundição ( neste setor, um navio plataforma seria um controlador dos fornos de uma siderúrgica e também o processador de carregamento e descarregamento de produtos siderúrgicos em navios cargueiros, onde todo o processo também será junto a um porto industrial), e mineração ( no caso do setor de mineração o navio plataforma teria como função importante a operação de mineroduto, fazendo o controle de transporte de minérios em dutovias e ligando a mina ao terminal portuário de destino). Esses tipos de projetos iriam utilizar como produto chefe o navio plataforma (FPSO) por ter mais sistemas tecnológicos implantados em suas estruturas, dando as opções de poder tanto ser um processador industrial de produtos petroquimicos como um operador de siderúrgicas e minerodutos. Além destes tipos de adaptações, há muitas outras em que a indústria naval tem como viabilizar. Ou seja, é uma indústria com muita tecnologia empregada e que não pode ficar a mercê de um único setor, volúvel e fantasioso.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 13:57 em 25 de julho de 2016:

    Caro Ramos,

    Muito obrigado pelos seus fundamentados comentários. O que parece acontecer é que a indústria de construção naval, para ser competitiva, exige muitos componentes que são custosos no Brasil, por muitas razões. A dimensão do mercado brasileiro também não parece atrativa para empresas de grande porte, que necessitam operar no mundo todo. Mas, sempre existem oportunidades que precisam ser estudadas.

    Paulo Yokota