Análise de Antonio Palocci Sobre a China Atual
14 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo de Antonio Palocci no Eu & Fim de Semana do Valor Econômico, observações de um mês na China, paralelos com problemas brasileiros
Todos devem admitir que Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil no Brasil, com formação básica de médico sanitarista, é uma pessoa com elevada capacidade para a compreensão de problemas políticos, econômicos e administrativos, ainda que nem todos concordem com suas posições. Tendo iniciado a sua carreira política em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, foi eleito para diversos cargos e chegou a ocupar posições chaves no governo Lula da Silva, com elevada capacidade de diálogo com o setor privado. Esteve por um mês na China, em outubro último, a convite da School of International Studies da Universidade de Pequim, tendo feito estudos e debates com variados setores da China. Publicou um interessante artigo no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico, com acesso para os assinantes do jornal no http://www.valor.com.br/cultura/3337966/o-dilema-de-pequim.
Suas observações constatam o que ele observou no crescimento da China das últimas décadas e discussões que já se travavam sobre as reformas indispensáveis para a continuidade do seu desenvolvimento, cujas diretrizes para os próximos anos foram aprovadas pela cúpula do Partido Comunista Chinês recentemente. Ao mesmo tempo em que menciona sua interpretação sobre o que teria causado a desaceleração do crescimento no Brasil. Todos estes assuntos não necessitam ser considerados consensuais, permitindo outras interpretações. Os debates sobre estes problemas acabam acrescentando conhecimentos que podem ser aproveitados em ambos os países, bem como em situações semelhantes em outros países emergentes.
Shenzhen, cidade da na China Antonio Palocci
Todos sabem que a China acelerou o seu crescimento depois das medidas tomadas por Deng Xiaoping que generalizou o uso dos mecanismos de mercado, com o que denominou socialismo chinês. Mas, como todos os desenvolvimentos acelerados, criou variados problemas, sendo que Antonio Palocci destaca o elevado nível de poluição naquele país, decorrente do uso intensivo do poluente carvão mineral como fonte de energia.
O modelo chinês se baseou nos usos de seus amplos recursos humanos de baixo custo com variados produtos voltados para a exportação, utilizando muitas zonas especiais de exportação como Shenzhen, que foi visitado por Antonio Palocci, localizado ao lado de Hong Kong, absorvido pela China com um pragmático mecanismo de manutenção de dois sistemas num mesmo país.
Mesmo depois da crise financeira mundial iniciada em 2007/2008, a China veio mantendo um crescimento mais elevado que os dos demais países emergentes, com continuidade aos pesados investimentos nas suas obras públicas e nas indústrias que continuaram ampliando a sua capacidade, por estímulo nacional, mas com decisões das autoridades locais. Agora, necessita introduzir substanciais reformas para depender mais do seu consumo interno, considerando que seu nível de renda per capita ainda é baixo, e sua taxa de investimentos é elevada, permitindo que o consumo tenha privilegiado os segmentos urbanos e ampliado as desigualdades nas distribuições dos benefícios, a existência de um sistema financeiro paralelo, definição clara do papel das estatais e das autoridades locais, redução dos subsídios que foram concedidos para diversas indústrias, corrupções existentes etc.
Existem variados problemas que devem ser resolvidos na próxima década, tanto os de poluição como as de utilização das indicações do mercado para as decisões dos investimentos, melhoria das condições sociais de sua população, redução das desigualdades dos centros urbanos com o meio rural, cujas diretrizes foram amplamente discutidas e decididas pela cúpula do Partido Comunista ainda que não exista um total consenso sobre as mesmas. Estas correções deverão ocorrer ao longo do tempo, mesmo com as resistências de alguns setores importantes, como as poderosas estatais chinesas.
O que diferencia a China com o Brasil é que eles contam com preparados recursos humanos de alto nível para elaborarem os planos e projetos, bem como executá-los. Possuem a tradição de pensarem no longo prazo, por terem uma cultura milenar com muitas fases de grandes conflitos. Antonio Palocci reafirma que a China foi a maior economia do mundo entre o século XVI e o início do século XIX.
Tanto o presidente Xi Jinping como o primeiro-ministro Li Keqiang conseguiram montar uma equipe de especialistas em política econômica, como garantir o suporte político para os apoiarem, cientes das resistências que enfrentarão nos próximos anos. A sua grande maioria possui preciosos estudos efetuados no exterior, como experiências internacionais do que já foi tentando nas mais variadas partes do mundo.
Antonio Palocci menciona a sua interpretação quando teria sido indagado sobre a desaceleração do crescimento da economia brasileira, tendo como contexto a ideia de que existe um obstáculo para a superação de um nível como de US$ 10 mil de renda per capita para atingir o dos desenvolvidos. Teria havido um comportamento como de um W, com a primeira fase enfrentada pela preservação do consumo, em parte decorrente da criação de uma nova classe média. Na segunda, haveria um esgotamento do ciclo, também parcial com o aumento do endividamento das famílias.
Outra interpretação que pode ser dada é que a economia brasileira se beneficiou de um período de expansão da economia global, onde os preços dos seus minérios e produtos agropecuários sofreram uma ascensão. Não se efetuaram as reformas para dar prioridade às exportações nos períodos de sua retração, fazendo com que uma série de atividades, como as industriais brasileiras perdessem a competitividade internacional. Parece que o Brasil não está conseguindo pensar as reformas que os chineses estão providenciando.
Na nossa interpretação, não existem determinismos geográficos ou históricos, e cada país vai ser no futuro o que os seus dirigentes com o suporte da população desejar. Nada vai ser muito tranquilo no mundo que está almejando padrões de bem estar mais elevado, com respeito às aspirações populares.
Reformas corajosas e bem estudas terão que ser executadas, pois o processo de desenvolvimento caracteriza-se pela constante superação dos obstáculos que vão se apresentando, havendo sempre resistências para as mudanças, tanto do ponto de vista político como empresarial.