Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Considerações Importantes Sobre a Educação Humanística

28 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo de Andrew Delbanco da Universidade de Columbia para o Project Syndicate, convergências das preocupações de diversas Universidades, necessidade de preparo dos estudantes para uma formação mais humanitária

Um importante artigo do diretor de Estudos Americanos Andrew Delbanco, da Universidade de Columbia, divulgado pelo Project Syndicate informa sobre as convergências das preocupações de muitas universidades espalhadas pelo mundo com relação à necessidade de proporcionar uma formação humanística mais ampla a todos os estudantes, inclusive aos que se interessam pelas ciências exatas, tecnologias, engenharias ou matemática. Na Universidade de São Paulo, originalmente criada com a colaboração missão francesa, todos tinham uma preocupação humanística mais ampla como a europeia, nas depois da Segunda Guerra Mundial, com o aumento da influência dos Estados Unidos no mundo, caminhou-se para o excesso de especialização que resultou na departamentalização do conhecimento.

Hoje, diante dos desafios que o século XXI apresenta, observa-se que a exagerada preocupação com a eficiência produtiva deixou evidente a falta de uma visão mais ampla fornecida pela filosofia, história, política, antropologia, sociologia e outros campos do conhecimento voltados para a adequada convivência social de povos de formação cultural diferentes no mundo globalizado, incluindo seus valores que costumam ser variados. O artigo menciona que em determinados países da Ásia notam-se que os jovens carecem da experiência suficiente para “pensar fora da caixa”, fazendo a educação incluir o cultivo do sentimento e da imaginação. As artes e as preocupações ecológicas ganham novas dimensões, pois os seres humanos são movidos por reações emocionais, além das pretensamente racionais.

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Andrew Delbanco                  Universidade de Columbia

O autor reconhece que as universidades norte-americanas ficaram distorcidas com as preocupações dos custos de seus cursos universitários, proporcionando bolsas e descontos nas taxas, e mesmo perdoando dívidas de financiamentos que foram feitos para os estudantes. Reduziram os créditos necessários de disciplinas para o bacharelado, eliminando exigências como o de literatura, filosofia e artes, de forma que fosse possível completar o curso em três anos quando antes era de quatro anos.

Ele informa que em Hong Kong, em Cingapura e na China os programas das universidades já permitem uma concepção mais liberal da educação, para obter conhecimentos mais amplos, que são adquiridos em quatro anos. Uma visão muito restrita da educação, do ponto de vista econômico, não permite enfrentar os problemas atuais, que vão do comércio às comunicações, da saúde para as ciências ambientais, que dependem da tecnologia e das inovações, que exigem habilidades que possam ser adquiridas com longos treinamentos.

É também necessário que se dominem os fundamentos que exigem considerações mais abstratas como os valores, com profundidades adequadas, abordando questões que exigem uma orientação política mundial e os processos da tomadas das decisões que afetam a todos.

São questões como os dilemas sobre o desenvolvimento econômico conciliado com a preservação do meio ambiente, relativização das soberanias nacionais quando existem problemas que extravasam as fronteiras, considerações dos direitos humanos que conflitam com tradições culturais e autárquicas, os direitos das oportunidades dos jovens diante do respeito aos idosos, responsabilidades com os refugiados que fogem da pobreza, os equilíbrios das liberdades individuais com as seguranças coletivas, entre outros aspectos.

Para responder estas e outras questões, os avanços das ciências e tecnologias desempenham papéis importantes, envolvendo os métodos de produção de energia, vigilância e aprendizado online, segundo o autor. As questões morais e éticas nunca devem ceder às soluções técnicas, exigindo o respeito e compreensão dos patrimônios sociais e culturais. As futuras gerações necessitam de aprendizados científicos e humanísticos, mais do que nunca.

Felizmente, segundo o autor, já existem modelos que estão sendo desenvolvidos em conjunto, como da Universidade de Yale com a Nacional de Cingapura, quebrando as barreiras interdisciplinares. Isto também acontece na Quest University do Canadá. Nos Estados Unidos, o programa Benjamin Franklin, da Universidade da Carolina do Norte, une a colaboração da Escola de Engenharia com a de Humanidades e Ciências Sociais, que visa formar profissionais que possam resolver problemas analíticos, com decisões feitas com ética e efetiva comunicação.

Não se pode colocar mais as ciências contra as humanidades como já se tem indicado há mais de meio século. Segundo o autor, deve se adaptar o sistema educacional com vistas ao futuro, sem perder a visão da missão básica, articulada com o passado. Benjamin Franklin, um homem de letras e inovador científico, definiu educação como uma busca do verdadeiro mérito, que consiste na inclinação para servir a humanidade, um país, amigos e a família.

Observa-se no Brasil, como em muitas partes do mundo, que a sofisticação no domínio de algumas ciências nem sempre leva em consideração os devidos respeitos aos que pensam de formas diferentes, que são portadores de culturas diferenciadas. Os valores e considerações emocionais são relevados, com muitos incapazes de uma visão mais global ou sistêmica, onde muitos fatores se interagem e não podem ser isolados para uso de determinados instrumentos. As arrogâncias de pretensos cientistas acabam usando seus parcos conhecimentos como instrumentos de luta política, subestimando os sentimentos dos seus oponentes. Mas existem clamores por uma formação humanística mais ampla.