Efeitos da Mudança da Política Demográfica na China
29 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dificuldades das projeções, efeitos da mudança da política demográfica, o caso da China
Um artigo da professora Jin Keyu, da respeitável London School of Economics, que se refere às possíveis consequências econômicas da mudança da política de filho único na China foi publicado pelo Project Syndicate. Ainda que a demografia seja importante nas mudanças de longo prazo que ocorrem numa economia, parece difícil poder afirmar-se que esta nova política chinesa tenha possibilidades de mudanças significativas. De um lado, a permissão só tem efeito entre a maioria da etnia han e nos centros urbanos, somente beneficiando os pais que são filhos únicos.
De outro lado, é necessário considerar que a tendência de redução da taxa de natalidade da população está ocorrendo em todo o mundo, mesmo que não haja restrições como a da China recente. As mulheres aumentaram o ingresso no mercado de trabalho, e elas estão atrasando a idade com que têm filhos, que estão diminuindo sensivelmente em quantidade, para um ou dois por casal. Em muitos países, como o Japão, o governo vem estimulando para que elas tenham mais filhos, proporcionando incentivo cujos resultados continuam sendo duvidosos, provocando o declínio sensível da população nos últimos anos, tendência que parece se agravar.
Jin Keyu London School of Economics
A professora considera que os gastos em educação das crianças elevam o consumo das famílias, reduzindo a elevada poupança chinesa. Ao mesmo tempo, com mais descendentes cuidando dos seus idosos, estes tenderiam a reduzir as poupanças para serem utilizados na velhice, com base nas informações disponíveis na China.
Não se pode duvidar que estas tendências se observassem no passado, mas nada assegura que no mundo globalizado onde a população está inserida atualmente, com um volume grande de informações, as mesmas tendências passadas sejam preservadas no futuro.
Não parece que estas medidas foram tomadas pelas autoridades chinesas dentro da linha de perseguir a ampliação do consumo interno. A política demográfica parece ter sido alterada para atender as reivindicações para maior liberdade nestas decisões familiares, pouco considerando seus efeitos sobre o consumo e a poupança.
Os estudos acadêmicos tendem a considerar que os resultados seriam estes, se todas as demais condições permanecerem sem mudanças, o que parece difícil numa sociedade como a chinesa que passou por mudanças significativas no passado recente, e que tendem a se acelerar com as reformas planejadas e anunciadas.
Ainda que tenha havido uma redução significativa da taxa de natalidade, com os dados demonstrando que havia três crianças por família, por volta de 1970. Atualmente, esta taxa está em 1,2 depois de 1980. A taxa de poupança das famílias elevou-se de 10,4% por família, e encontra-se em 30,5% em 2011, que certamente é exageradamente elevada. Se houver um aumento dos consumos, parece que pouco poderá ser atribuído ao aumento de filhos por casal, se isto ocorrer.
Os dados chineses informam que os muitos gêmeos existentes naquele país, que seria uma forma de burlar a política de filho único (pois muitos apresentam idades biológicas diferentes), apresentam uma redução de gastos com a educação para o segundo filho, mostrando que existiria uma economia de escala.
Os dados mostram também que o sustento dos idosos em grande parte depende dos suportes dos familiares, os mais jovens. No entanto, esperar que estes idosos passassem a aumentar o consumo diante do aumento de filhos, também parece uma tese a ser confirmada.
No longo prazo, e com muitas outras condições em mudança, estas especulações futuras parecem demasiadamente ousadas, principalmente por que a China também está reproduzindo o que já ocorria em outros países no exterior.