Pragmatismo do Dalai Lama
8 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: entrevista do Dalai Lama para o Financial Times, o problema da ocupação do Tibet pela China, preservação da cultura dos tibetanos
O Dalai Lama, reconhecido como o grande líder do Budismo Tibetano no mundo, talvez um dos mais influentes pensadores atuais, Prêmio Nobel da Paz, concedeu uma longa entrevista a Amy Kazmin, correspondente para o Sul da Ásia do Financial Times, em sua residência no exílio em Larrive em Dharamsala, na Índia. A entrevista foi divulgada na sua íntegra em inglês no Financial Times Magazine. Ele mostrou um grande pragmatismo com relação ao atual problema do Tibet com a China, entendendo que existe uma grande possibilidade de convivência, respeitando uma autonomia limitada e cultural do povo tibetano, talvez algo como o que existe hoje em Hong-Kong. Ele vê os atuais líderes chineses na sua evolução histórica desde Mao e Deng até os mais recentes, alimentando esperanças de uma razoável convivência. Todos sabem que os chineses não vão permitir a independência do Tibet, pois fica próximo do Himalaia e de suas geleiras nascem as águas vitais para os poucos rios que abastecem a China e muitos países do Sudeste Asiático.
Dalai Lama vem percorrendo o mundo todo para estabelecer relações com os líderes, bem como divulgar a atitude de não violência que foi incorporada na cultura tibetana. Sua residência atrai populações de todo o mundo, reconhecendo o poder das ideias, sem que haja uma conotação restrita ao aspecto religioso. Ele vem adotando uma posição ecumênica, respeitando todas as religiões, dando até a sua contribuição para o avanço científico dos conhecimentos como os relacionados com os mais atualizados aspectos de neurologia. Ele costuma reunir os mais respeitados especialistas de todo mundo para promover encontros regulares, visando entender a força das ideias até nos comportamentos diários dos seres humanos, com repercussões nos assuntos relacionados com a saúde.
Os que conhecem pessoalmente as regiões norte da Índia, Nepal e Tibet informam que há, além dos problemas das elevadas altitudes, um clima naturalmente religioso e contagiante, do qual ninguém escapa facilmente. O aspecto espiritual é tão valorizado que os materiais perdem sua importância, apesar do Dalai Lama constatar que até muitos tibetanos se apegam a eles na convivência com os chineses atuais. Algo muito diferente do que se encontra em outras partes do mundo, que contagia muitos visitantes.
Ainda que o Dalai Lama evite controvérsias com os chineses, na localidade onde vive hoje na companhia de muitos tibetanos refugiados existem muitos marcos que lembram os que sacrificaram a suas vidas contra a dominação chinesa com a autoimolação, como os mártires que foram sacrificados pelas forças chinesas. Muitos especulam sobre a sua volta ao Tibet, mas ele se mostra pragmático, informando que o 10º Panchan Lama conseguiu algumas concessões iniciais dos chineses, mas ele acabou 14 anos em prisões, inclusive domiciliar, até a sua morte em 1989.
Na localidade onde se encontra atualmente em liberdade, ele recebe visitas de todo o mundo, de tibetanos como até dos chineses, continuando a transmitir seus ensinamentos como enfatizando a necessidade da não violência, o que se consegue com a conquista do coração, segundo ele.
O artigo informa que existem documentos chineses recomendando uma nova atitude criativa no relacionamento com o Dalai Lama. De sua parte, também existe um reconhecimento que os chineses conseguiram melhorias substanciais do padrão de vida para muitos de sua população, mostrando um mínimo de convergência.
Ele compara os tibetanos com o povo israelense que viveu no Egito por um longo período, pois constatou pelo nome da repórter que ela é de origem judaica da Polônia. Uma parte substancial do artigo publicado refere-se à formação do Dalai Lama desde a sua identificação ainda criança para ser treinado para o seu papel. Como também se especula sobre o seu processo de sucessão, com a indicação que ele espera promover a escolha de uma pessoa já mais adulta, se for possível.
Toda a entrevista acaba dando uma visão pragmática, realista, fugindo de colocações religiosas extremadas. Mesmo que não se possa evitar, procura-se com cuidado não agravar considerações políticas que não contribuam para a melhor convivência com os atuais líderes chineses, que também procuram meios para uma melhor convivências com as minorias na China.