Valores Intangíveis dos Eventos Internacionais
20 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil, as considerações discutidas no Japão, experiências internacionais
Estamos insistindo neste site sobre a necessidade de estabelecer alvos mais amplos, intangíveis, para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, como já postamos num artigo discutindo o assunto. Já informamos como as Olimpíadas de 1964 influíram nas importantes mudanças culturais observadas no Japão, como a melhoria no atendimento dos turistas estrangeiros nos transportes e nas lojas. Agora um interessante artigo publicado por Wakako Yuki do Yomiuri Shimbun, distribuído pelo AJISS – Associação dos Institutos Japoneses de Estudos Estratégicos, baseado na sua experiência de cobertura de 10 Olimpíadas e 5 Jogos Paraolímpicos, com sugestões destes tipos de considerações visando a Olimpíada de Tóquio de 20202. Isto gera uma rara oportunidade de reflexão sobre considerações mais amplas no Brasil do que as vitórias em algumas modalidades, ou mesmo as dificuldades para avanços significativos na infraestrutura do país, que também são importantes.
O Japão está incluindo as Olimpíadas de 2020 entre os projetos da quarta flecha do Abeconomics já desencadeado naquele país, como já foi expresso pelo ex-ministro japonês Reizo Takenaka na palestra proferida na FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e confirmado no artigo que estamos discutindo. Wakako Yuki menciona que antes das Olimpíadas de Londres de 2012, Jacques Rogge, ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, destacou a importância dos legados dos Jogos, mencionando a importância dos intangíveis, que duram mais tempo que os tangíveis. O que está sendo discutido no Brasil sobre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 a respeito deste assunto?
O artigo mencionado informa que em 1964, em Tóquio, o mundo pós-guerra viu o Japão recuperado, desencadeando uma série de avanços na infraestrutura, aumento do consumo interno e um acelerado crescimento econômico. O povo japonês se mostrava cheio de confiança, com os jogadores se sentindo aceitos de volta à comunidade internacional, o que era certamente um efeito intangível, tendo efeito sobre o futuro do Japão naquela época.
O autor menciona que depois do terrível terremoto e tsunami que atingiu o nordeste do Japão, todos estavam cientes dos prejuízos materiais. Mas parte das esperanças e alegrias das pessoas, principalmente das crianças, foi recuperada com a ajuda dos esportes, restabelecendo a razão de ser para a população atingida e para o povo japonês.
Menciona também que o Japão chegou à idade madura, e o exemplo do senhor Yuichiro Miura, de 80 anos, que subiu o monte Everest em maio passado depois de um intenso preparo, quebrando os recordes para os idosos nesta proeza. mostrou o sonho possível para qualquer idade.
Estes são considerados pelo autor como aspectos da filosofia esportiva que pode incentivar pessoas de todas as gerações. É possível levar uma vida cheia de confiança e um senso de realização, ajudando a todos física e psicologicamente, criando para a nação uma atitude positiva com relação ao futuro, aumentando a segurança social e reduzindo os custos médicos.
Ele expressa também a esperança de outro alvo intangível, como a utilização destes eventos esportivos na diplomacia esportiva. Os Jogos Olímpicos de 2012, segundo Sir Craig Reedle, vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional, ajudou na promoção mundial do Reino Unido.
Tóquio, em 2020, promete realizar o projeto “Sport for Tomorrow”, na esperança de uma diplomacia esportiva ativa para superar as atuais dificuldades japonesas com seus vizinhos asiáticos. Com a Coreia do Sul em 2018 com os Jogos de Inverno e a China em 2008, os japoneses pretendem que o Japão se torne uma plataforma de colaboração entre os três países, por meio do esporte, criando relações de amizade ao nível mais “grass-roots”, ou seja, intensos e pessoais mais profundos.
O Brasil parece passar por um período de dificuldades, como o que parece afetar o mundo. Emergente, apesar da melhoria de sua distribuição de renda, criando uma nova classe média, colhendo resultados recordes nos agronegócios, contando com oportunidades como a exploração do pré-sal, aperfeiçoamento de sua infraestrutura com a colaboração do setor privado, uma nascente democracia em constante evolução, parece estar confuso com aspirações sociais que excedem as suas disponibilidades de recursos. Parece ter perdido a sua autoconfiança, pois o seu desenvolvimento recente dependeu da melhoria do nível da economia internacional, com seu aumento do consumo atendido pela importação.
Uma economia que há décadas contava com uma estrutura industrial relativamente sofisticada, parece passar por uma desindustrialização precoce. Ainda que o número de seus estudantes universitários esteja se elevando, com alguns centros de pesquisas de importância, nem sempre seus serviços são semelhantes aos que se encontram no exterior.
A corrupção e a criminalidade parecem relativamente elevadas, não se contando com a funcionalidade desejada na gestão pública. Os seus serviços de saúde e de educação, bem como de previdência, acabam sofrendo autocríticas pesadas, não se conseguindo um razoável consenso nacional sobre as metas a serem perseguidas.
Mas nos esportes vitoriosos como o futebol e o voleibol, quando em competições internacionais, parece que a grande maioria torce pela seleção brasileira. O esporte parece ter este poder de aglutinar governistas como oposicionistas. Nada mais plausível que mostrar ao mundo que, apesar de todas as dificuldades, o Brasil é capaz de contar com a criatividade indispensável para superar os naturais obstáculos que encontra no seu processo de desenvolvimento. A Copa do Mundo e as Olimpíadas podem ser oportunidades importantes para atingir este objetivo intangível de recuperação da autoconfiança dos brasileiros, entre outros objetivos a serem consolidados.