Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Avaliação da Educação na Ásia e no Brasil do Pisa 2012

9 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais | Tags: a posição do Brasil, avaliação da OECD pelo PISA, mesmo com algumas limitações, os asiáticos

Um artigo publicado por Norito Takaoka para o Nikkei Asian Review mostra que na pesquisa chamada como PISA, efetuada pela OCDE – Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico, os estudantes asiáticos continuam nas pontas das avaliações da educação mundial. A lista completa dos países pela ordem de suas avaliações nos conhecimentos de matemática, leitura e ciências pode ser conseguida no site daquela organização. O Brasil, lamentavelmente, apesar da ligeira melhora quando comparada com os resultados dos anos anteriores, continua entre os últimos, em 58º lugar entre os 65 países onde foram feitas as provas, como publicado num artigo de Ana Carolina Moreno no O Globo.

Xangai aparece em primeiro lugar geral como separadamente nas áreas de matemática, leitura e ciências, seguida de Cingapura, Hong Kong, Taipé, Coreia do Sul, Macau e Japão, com pequenas diferenças nas ordens das disciplinas mencionadas. Para completar a lista dos 10 primeiros, aparecem os europeus Lichtenstein, Suíça e Holanda, com variações entre os três segmentos do conhecimento avaliados. O que determinaria esta predominância asiática? Tudo indica que existe uma primeira importância da cultura que se dá à educação, diante da forte contribuição de Confúcio que se estende por todos estes países, ao mesmo tempo em que existe uma grande concorrência local diante do reconhecimento que a educação é o mecanismo pelo qual os estudantes podem melhorar as suas possibilidades de ascensão social.

estudantes

Esta cultura começa com a sociedade, incluindo as autoridades, professores e responsáveis pelas escolas, como as famílias e os estudantes. Não se trata de um fato isolado, pois ao longo dos anos estas avaliações continuam se repetindo, não se referindo a resultados eventuais como alguns analistas continuam insistindo.

O que parece necessário é verificar o que se deve fazer em país como o Brasil que pretende se tornar um país desenvolvido, sem contar com a adequada importância dada para a educação em todos os níveis e setores da sociedade local. Ainda que haja um reconhecimento da importância da educação, que começa da sua base, e se estende para todos os setores e níveis. Sem ela, os recursos humanos não conseguem eficiência tanto nas inovações tecnológicas como em todos os setores da produção.

Também há uma necessidade de uma preocupação sistemática com relação à cultura no seu sentido mais amplo. Há conveniência de se voltar para a formação humanística, além das condições básicas para que todos possam se especializar nas suas formações. Sem o domínio da leitura, não há nenhuma possibilidade de se adquirir os demais conhecimentos, quer seja da matemática básica como das ciências.

Lamentavelmente, sem a compreensão do que está escrito e sem a capacidade mínima de comunicação dos seus pensamentos, os demais conhecimentos não podem ser melhorados. Muitos estudantes brasileiros não conseguem compreender o que está escrito ou ensinado, e mal estão habilitados para escrever suas ideias.

Fui um modesto professor na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, há muitas décadas. Mas, apesar de contar com a estabilidade, resolvi me demitir da carreira acadêmica quando, com muita tristeza, encontrei no quinto ano do curso superior de Economia, que existia na época, a prova de um aluno que não sabia escrever. Como ele chegou ao último ano do curso superior sem este conhecimento? Muitos professores, de todos os níveis, são responsáveis por esta desgraça.

Este lamentável aluno ou era um gênio ou não tinha nenhuma condição para estar no último ano de qualquer curso superior da Universidade de São Paulo. Ele não usava nenhum verbo, só tentava se comunicar com a associação de ideias usando flechas e outros sinais gráficos entre as palavras. Como era professor de economia em algumas de suas disciplinas, e não um educador, eu acabei solicitando a minha demissão como um protesto.

Acredito que muitas melhorias estão ocorrendo no país, que apresenta muitas diferenças regionais. Nos confins da Amazônia, encontrei escolas primárias onde a professora só sabia escrever o seu nome. Não se dispunha de ninguém mais qualificado para assumir esta responsabilidade. Somos todos responsáveis por esta situação e necessitamos de uma consciência coletiva da necessidade de reverter esta situação, ou continuaremos a enfrentar grandes limitações para superar nossas dificuldades, principalmente de forma comparativa com o que acontece no resto do mundo.

Sem uma mudança radical desta situação da educação, as nossas chances de se tornar competitivo no mundo parece uma ilusão. As comparações que estão sendo feitas talvez nos ajude a ter uma clara consciência desta necessidade.