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Belo Monte e Outros Assuntos de Envergadura na Imprensa

15 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a exigência de análises históricas e comparativas, as dificuldades dos jornais e rádios com matérias mais trabalhosas, os problemas emocionais envolvidos, série de artigos sobre Belo Monte no suplemento Ilustríssima da Folha de S.Paulo

Uma importante matéria sobre Belo Monte elaborado por uma equipe composta por Marcelo Leite, Dimmi Amora, Morris Kachani, Lalo de Almeida e Rodrigo Machado envolvendo cinco partes, a primeira com duas páginas do suplemento Ilustríssima da Folha de S.Paulo, começou a ser publicada neste fim de semana. Informa-se que a reportagem consumiu dez meses de trabalho de muitos jornalistas. Constata-se que a imprensa diária impressa está encontrando dificuldades para coberturas desta natureza, dado o seu elevado custo e a concorrência com as publicidades voltadas para notícias mais rápidas, como as veiculadas nos meios eletrônicos. Os trabalhos investigativos que exigem mais tempo e dedicação acabam procurando outras formas de patrocínio, inclusive financiamentos até de instituição que não visam o lucro.

Ainda que estes trabalhos sejam cuidadosos e demorados, exigindo o empenho de bons jornalistas, que não sejam envolvidos por posições radicais de alguns ambientalistas bem como de outros interesses políticos, há que se constatar que os grandes projetos de infraestrutura exigem planejamentos e visões de prazo de muitas décadas. Nem sempre os jornalistas contam com os meios para estabelecer paralelos com outras obras semelhantes a Belo Monte, como Itaipu e o complexo de Jupiá e Ilha Solteira até porque suas histórias são anteriores ao nascimento de muitos jovens e competentes profissionais.

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Hidroelétrica de Itaipu                                           Belo Monte. Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

Todas as usinas hidroelétricas da Amazônia são complicadas, pois os desníveis na região são pequenos, exigindo reservatórios que ocupam grandes extensões, permitindo gerações de energia relativamente modestas diante dos investimentos indispensáveis. Mas para quem trabalhou na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, que ajudou a estabelecer todo sistema hidroelétrico da região Centro Sul do Brasil, existem elementos de comparação que permitem avaliações mais expressivas.

Quando se tratam de grandes hidroelétricas, os estudos, por exemplo, de demanda da energia envolvem um mínimo de 25 anos, pois somente a construção como de Itaipu demandou 17 anos, fora o seu planejamento e projeto. As usinas começaram a ser projetadas e construídas à montante da Bacia, para permitir o máximo aproveitamento das águas, pois o que interessa não é o volume total das águas, mas o volume mínimo com que se pode contar nos períodos de estiagem para geração de energia, que também varia pelas diversas áreas de uma bacia hidrográfica. As usinas foram construídas com instalações para permitir também a navegação fluvial, além de outros aproveitamentos das águas, como a irrigação, a piscicultura e o turismo, no mínimo. Todos os animais que ficavam ilhados quando da formação dos reservatórios foram removidos para outras áreas semelhantes.

Ainda assim, barbaridades que hoje não seriam possíveis foram cometidas, como o desaparecimento de Sete Quedas, que seria quase do nível das Cataratas de Iguaçu, ainda que o rio Paraná passasse por uma espécie de “canion”. A construção de Itaipu também começou com um consórcio modesto, mas acabou exigindo o envolvimento das maiores empresas brasileira de construção pesada, num consórcio novo, com elevada capacidade financeira e uso da melhor tecnologia disponível no mundo de então. A tecnologia utilizada, inovadora, acabou impressionando todo o universo, sendo adaptada para ser aplicada pelos chineses em Three Gorges, a atual maior usina hidroelétrica do mundo.

Tanto o canal de desvio para a construção da barragem para acomodar todo o sistema de geração de Itaipu foi também escavado em rochas, algo semelhante com o que está acontecendo em Belo Monte. Seria interessante que os que estão escrevendo sobre as usinas da Amazônia fizessem paralelos com estas obras gigantescas do rio Paraná, começando pelo conjunto Ilha Solteira e Jupiá. Como a construção da atual cidade de Ilha Solteira, que era o acampamento dos chamados barrageiros, que costumam migrar de uma obra para outras.

O que se conhece da Amazônia é pouco, encontrando surpresas não identificadas anteriormente como a existência de um maciço de migmatito na zona rural de Altamira e Vitória do Xingu, no Estado do Pará, que acabou alterando o projeto original cogitado. Mesmo quem trabalhou na Amazônia por mais de dez anos percorrendo as mais de 20 diferentes amazônias, em funções diversas, sempre vai encontrar novidades. Os levantamentos aerofotogramétricos e os obtidos pelos satélites não proporcionam todas as informações desejáveis.

O pouco que se conhece são superficialmente as beiras dos grandes rios, onde os seres humanos tinham condições de chegar. As chamadas terras altas que ocupam distâncias como de 500 quilômetros entre dois os grandes rios são praticamente ainda desconhecidos.

Sobre sua história, poucos brasileiros sabem que havia outro país independente no Acre, chamado Plácido de Castro, cujas titulações de terras são até hoje reconhecidas pelo INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, pois assim foi estabelecido no acordo obtido pelo Barão de Rio Branco para o estabelecimento diplomático das fronteiras brasileiras envolvendo a construção da ferrovia Madeira-Mamoré para transposições das corredeiras daquele rio naquela região.

Há que se trabalhar muito para que alguns destes conhecimentos sejam generalizados entre os brasileiros, que sequer sabem que o que costuma ser conhecido como “rain forest” está fora da bacia da Amazônia, com águas correndo em direção da bacia da Prata, ou de áreas que chegam mais facilmente para os países vizinhos, do que para uma grande capital como Manaus.