Simbolismos Importantes do The Economist Sobre WTO
9 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre o entendimento de Bali para o The Economist, o papel de Roberto Azevêdo, publicado simbolicamente no site da revista nesta segunda-feira, uma vitória inicial de um longo caminho cheio de dificuldades | 2 Comentários »
Muitas coisas importantes precisam ser lidas nas entrelinhas ou nos gestos. O site do The Economist publicou um importante artigo hoje sobre o que aconteceu em Bali, na reunião da OMC – Conselho Mundial de Comércio presidida pelo diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, no cargo somente desde setembro último. Admite que um passo inusitado foi dado, o primeiro desde a organização desta entidade, mas aponta-se uma lista de duras tarefas futuras dentro da chamada Rodada Doha, que muitos achavam que já estava morta e enterrada. A revista admite a capacidade deste diplomata brasileiro manter os negociadores na mesa, mesmo quando o tempo já estava esgotado, e tópicos cruciais apresentavam grandes divergências. Muitos assuntos foram mantidos na pauta, sem que se decidisse a respeito, uma forma diplomática de superar as posições antagônicas entre membros relevantes, deixando a questão para o futuro. Este registro feito por uma revista da importância do The Economist é algo que deve ser interpretado como muito significativo.
A revista admite que o coração da reunião foi um acordo sobre a facilitação do comércio global, ou medidas para reduzir o custo do comércio, diminuindo as burocracias nos procedimentos aduaneiros. Isto pode chegar a mais de 10%, segundo estimativa de outra entidade importante, a OECD – Organização Econômica de Cooperação no Desenvolvimento, que elevaria a produção global em mais de US$ 400 bilhões, com benefícios para as economias em desenvolvimento.
Roberto Azevêdo recebe os cumprimentos do ministro do comércio da Indonésia. Foto: AFP
A revista admite que o assunto sempre muito difícil seja a agricultura, e sobre os subsídios que são dados pelos países desenvolvidos como os Estados Unidos, os europeus e o Japão não foi explicitado, mas todos sabem que está em pauta. A Índia, que enfrentará brevemente uma dura eleição e conta com muitos pequenos produtores agrícolas, exigiu que o seu estoque de alimentos fosse considerado como de “segurança alimentar”, podendo continuar a ser subsidiado até quatro anos, não sendo obrigada a sofrer a concorrência de outros países exportadores e mais eficientes.
Cuba levantou o problema do embargo dos Estados Unidos e havia necessidade da unanimidade dos 159 países presentes. O Itamaraty, com seu ministro das relações exteriores, entrou na negociação para que aquele pequeno país admitisse que estivesse sendo destacada corajosamente sua posição frente aos Estados Unidos, diante de todo o mundo. Vitória da diplomacia brasileira.
Muitos assuntos que apresentavam divergências foram mantidos para entendimentos futuros, consagrando a OMC como o fórum adequado para as negociações. Estava salva a organização, ficando Roberto Azevêdo com uma pauta dura, exigindo fórmulas imaginativas para superar as dificuldades. Seu sucesso lhe proporciona uma grande credibilidade para as negociações futuras, e ele terá que escolher as prioridades, e as formas de resolvê-las.
Muitos assuntos continuarão na pauta multinacional e outras continuarão sendo objetos de entendimentos bilaterais ou entre grupos regionais ou plurilaterais, que poderão abrir caminhos para outros gerais, podendo ficar no âmbito da OMC. Entre eles estarão os dos investimentos, como a preservação do meio ambiente ou dos serviços.
O The Economist admite que, depois desta reunião de Bali, na Indonésia, o cenário para as negociações comerciais internacionais parece muito diferente, aguçando o apetite de todos os países, evitando que acordos regionais acabem excluindo muitos países, como o Brasil que não veio conseguindo se inserir nos mais importantes em negociação, o que a revista chamou de “balcanização do comércio”.
Professor Paulo Yokota,
A China está inclusa entre os 150 países que entraram em acordo?
Caro Rafael Sugano,
A China já é pleno membro da OMC, WTO em inglês, e participa ativamente de suas reuniões.
Paulo Yokota