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80 Anos da Universidade de São Paulo

24 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Educação, Notícias | Tags: 80 anos de sua fundação, o papel da Missão Francesa, os problemas atuais, suplemento especial de O Estado de S.Paulo

Os paulistas até exageram no seu orgulho de contarem com a Universidade de São Paulo, sustentada com recursos do Estado, considerada ainda a melhor da América Latina, que foi organizada em 25 de janeiro de 1934 com a significativa ajuda da Missão Francesa, com contribuições inestimáveis de professores como Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel e Roger Bastide, entre muitos outros. Já existiam faculdades isoladas em São Paulo como a de Direito, Medicina e outros, e elas foram agrupadas na Universidade de São Paulo, que passou a contar com novas como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e cujo campus se tornou uma realidade na década dos sessenta do século passado. Muitos terão interpretações diferentes, como é normal numa Universidade, mas uma das marcas mais forte foi o Humanismo que herdou da tradição europeia e francesa.

Depois da Segunda Guerra Mundial, passou a receber uma forte influência das universidades norte-americanas, que levaram a uma tendência de especialização, até exagerada em alguns setores. Com seu Conselho Universitário onde predominam os hoje professores titulares com carreiras consolidadas ao longo do tempo, parece exagerada a preocupação com as vantagens da aposentadoria, que não proporciona a concentração de suas atividades nas pesquisas, principalmente as básicas, indispensáveis para a geração das inovações para a sociedade brasileira, mesmo com todos os méritos que possam ser creditados para os seus componentes. O jornal O Estado de S.Paulo publica um suplemento especial para os 80 anos da USP.

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Os números da USP são grandes quando comparados com os das mais consagradas no mundo, tanto em número de alunos como de docentes, o que não assegura a sua qualidade, que pode ser considerada satisfatória para os padrões brasileiros, mas hoje perde terreno mesmo entre as universidades dos países emergentes, ainda que tenha muitos dos seus méritos reconhecidos.

A Universidade de São Paulo não deve ser julgada somente pelos seus cursos e pesquisas formais, pois contribuiu com parte da formação da elite cultural, científica e política do Brasil, e também está presente dando a sua ajuda no desenvolvimento do país, notadamente em seus intercâmbios internacionais.

Manteve sua diversidade, como é a do Brasil, contando com o frescor de sua juventude que não está hoje suficientemente envolvida nos processos de inovações indispensáveis nos mais variados setores da vida brasileira. Teve que admitir a criação de muitas Fundações para acomodar novas atividades, que combinava suas atividades públicas com as flexibilidades privadas para atender dinamicamente as necessidades estavam sendo geradas no país.

Conta com acervos importantes, nem sempre adequadamente aproveitados por todos, pois a preocupação de sua autonomia universitária nem sempre favorece a sua integração mais profunda com a sociedade a que deve servir. Mas, com todas as suas limitações, permanece aberta para novas ideias nos mais variados setores do conhecimento humano.

Existem diferenças nas suas ousadias entre os diversos setores em que atua, sendo desejável que esteja mais fortemente integrada com o resto do mundo, o que realiza com Fundos que viabilizam estudos e pesquisas complementares com outros centros nacionais e estrangeiros.

Conta com mecanismos que asseguram os recursos públicos indispensáveis de forma automática, que poderiam ser completados por doações mais agressivas do setor privado da sociedade brasileira, principalmente com a ajuda dos seus ex-alunos. Ainda mantém um exagerado espírito elitista que deveria ser concentrado na pretensão de elevada qualidade dos seus trabalhos, mas mais popular nos temas que procurar abordar.

Algumas de suas contradições são necessárias, para refletir o melhor possível à diversidade de posições que existem dentro da sociedade brasileira. Mas poderia estar mais empenhada na procura da eficiência na sua produção intelectual, dando um exemplo com o seu empenho a toda a sociedade em que está inserida.

Como ex-aluno, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo, devo reconhecer que sem ela não seria possível alcançar muitas das oportunidades que tive ao longo de minha vida, para retribuir tudo que dela recebi.