Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Davos Exige Um Novo Discurso

21 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a colocação de Klaus Schwab no Project Syndicate, a lenta recuperação da economia mundial, as mudanças no México, as mudanças provocadas pelos Estados Unidos com a mudança da matriz energética, o domínio do setor financeiro

A presidente Dilma Rousseff decidiu participar pela primeira vez da reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos com a intenção de provocar uma mudança da imagem do mundo empresarial sobre o Brasil. Será um desafio de maior significado que não poderá ser conseguido somente pelo discurso que vem fazendo no país, pois como colocou Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do World Economic Forum no seu artigo publicado no Project Syndicate, o mundo passa por transições épicas, com a desaceleração do seu crescimento e aumento das incertezas.

Nas quatro maiores economias do mundo, os Estados Unidos lutam por estimular o crescimento num ambiente político fraturado. A China está passando de um modelo de crescimento baseado no investimento e na exportação para o liderado pelo mercado interno. A Europa luta por preservar a integridade de sua moeda comum com muitos complexos problemas institucionais. O Japão tenta combater duas décadas de deflação com políticas monetárias agressivas. Todos deixam muitas incógnitas.

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Dilma Rousseff                                                     Klaus Schuwab

Os Estados Unidos vieram adotando o easing monetary policy que teve um efeito importante nos fluxos de capital, afetando os câmbios principalmente nos mercados emergentes como o do Brasil, que acabou se mostrando desastroso, devendo ser abandonado paulatinamente. O mundo se viciou em crédito fácil, segundo o autor, afetando a economia real. O sistema financeiro mundial aumentou a sua importância, e continua pouco controlado.

Os mercados emergentes tinham ganhado importância mundial, mas hoje os desenvolvidos contribuem mais para o crescimento global. As melhorias nos Estados Unidos são lentas, havendo problemas com um crescimento baixo e desemprego alto, mas os dados oficiais são frequentemente melhores do que o esperado, mostrando uma flexibilidade e capacidade inovadora de sua economia. Na zona do euro, as melhorias são mais tênues, mas parece que não haveria o desastre previsto, e a recessão começa a terminar.

Os países emergentes, que tinham conseguido um crescimento expressivo, enfrentam problemas de reformas, havendo em muitos agravamentos nas desigualdades econômicas. Os protestos populares aumentam as agitações sociais em alguns países com crescimentos econômicos mais modestos. Há que se conseguir avanços com o uso de tecnologias avançadas nestes países. Os investimentos em infraestrutura, educação, energia não poluente e agricultura sustentável podem elevar os retornos econômicos e sociais. O crescimento para o desenvolvimento sustentável requer novas políticas, um novo estado de espírito, mais empreendedoras, alicerçado na inclusão social.

O Brasil, apesar do seu pré-sal, enfrenta agora a mudança da matriz energética mundial e combustíveis mais baratos com a exploração do xisto nos Estados Unidos. Depois de considerado o preferido no mundo entre os países emergentes, com seu crescimento modesto, teve a posição ocupada pelo México, que efetua fortes reformas e se beneficia da vizinhança do mercado norte-americano.

Sem um discurso novo, a simples afirmação que vem executando trabalhos de infraestrutura com a participação do setor privado, não parece suficiente para atrair maciços e novos investimentos estrangeiros, ainda que seu agrobusiness venha desempenhando um papel importante no abastecimento mundial. Muitos outros países emergentes disputam os mesmos investimentos, oferecendo condições institucionais atrativos.

Parece que há um cansaço com a exagerada intervenção governamental, que não permite uma visão de longo prazo dos retornos que podem se conseguir no país. As insatisfações internas tendem a ser transmitidas para o exterior, e quando todos promovem reformas significativas, há que se manter a sua capacidade competitiva, promovendo uma inflexão nas tendências de elevação do chamado Custo Brasil. A concorrência internacional elevou-se e somente um significativo diferencial pode emocionar os investidores que contam com amplas oportunidades para retornos seguros em todo o mundo.

É preciso que a presidente Dilma Rousseff se convença que necessita de um discurso afirmativo não bastando sua presença e disposição de negociações. Mesmo que o Brasil disponha de potenciais, é necessário constatar que no passado recente os resultados obtidos não foram os mais animadores.