O Discurso de Dilma Rousseff em Davos
25 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a manutenção da demanda, a melhoria na distribuição de renda, boas vindas para os investimentos estrangeiros, discurso longo e cheio de explicações, necessidade de colaboração do setor público e privado, os investimentos programados | 2 Comentários »
Como está se tornando rotineiro, o discurso da presidente Dilma Rousseff para os empresários, agora reunidos no Fórum Econômico Mundial em Davos foi uma longa explicação das medidas tomadas pelo governo brasileiro, mostrando que muitos projetos necessários já estão em andamento, conseguindo a manutenção do emprego, promovendo a ampliação da classe média brasileira, mesmo com a crise mundial que foi a mais forte desde 1929. Estas explicações olho no olho, de quem é a responsável principal pela política brasileira são sempre importantes e devem induzir esclarecimentos adicionais para os que estão interessados em investir no Brasil.
O que estes experientes empresários gostariam de saber é a causa da falta de crescimento da produção interna, notadamente de produtos industriais que acompanhasse esta ampliação da demanda que se observou no Brasil. Uma parte substancial dela teve que ser atendida pelo aumento das importações, agravando a situação da balança comercial.
É positiva a declaração do seu empenho pessoal em manter o controle da inflação, bem como dos gastos públicos, contando com a colaboração do setor privado nos investimentos indispensáveis, que são muitos e foram adequadamente listados. Muitos deles estão, infelizmente, atrasados, dadas as dificuldades conhecidas de gestão que continuam emperrando a boa execução dos mesmos.
Dilma Rousseff duraante discurso em Davos
O que parece que está acontecendo mais recentemente é que fatos como a exploração do petróleo e gás do xisto nos Estados Unidos estão tornando relativamente custosas as produções como do pré-sal, que, segundo o discurso, podem ampliar a produção brasileira, permitindo sua exportação e gerando recursos que serão destinados ao financiamento da melhoria da educação. Mas, se os seus custos não forem competitivos com os derivados do xisto, haverá dificuldades para tanto.
Também, os preços da energia estão mais baixos em outros países, fazendo com que empreendimentos que utilizam muito combustível no Brasil fiquem menos competitivos. Se estes empreendimentos não tiverem condições para concorrer com os de outros países, dificilmente os empresários locais como estrangeiros se sentirão animados para efetuar seus investimentos, ainda que os diálogos com o governo venham a melhorar, o que é importante.
Não se anunciou nenhuma medida que tenha a possibilidade de provocar um ponto de inflexão na produção local, notadamente na industrial, ainda que na agropecuária esteja ocorrendo melhoras, que deverão aumentar com a infraestrutura de escoamento mais competitiva.
Os investidores estrangeiros só efetivarão a sua participação, inclusive na infraestrutura, se eles tiverem retornos convidativos que são proporcionados por suas utilizações eficientes, melhores dos que os possíveis em outros países. Muitas concorrências recentes estão sendo animadoras, atendendo uma insuficiência de infraestrutura, cuja defasagem está sendo corrigida, mas os prazos para as concessões são longas e necessitam contar com atividades competitivas com relação aos efetuados em países concorrentes.
Ainda que as melhorias marginais sempre acabem ajudando, parece que no atual mundo que está iniciando a sua recuperação as concorrências serão mais acirradas, havendo necessidade de significativas elevações de produtividade, além das usuais capacitações dos recursos humanos, que também são relevantes.
Se uma visão mais clara desta inflexão fosse fornecida, a apresentação poderia contar com poder de convencimento maior, pois os avanços marginais que estão sendo obtidos parecem de conhecimento dos analistas que informam os que precisam decidir, utilizando o seu espírito animal.
Não havendo perspectivas de melhorias substanciais dos retornos dos investimentos, parece difícil que o atual clima de desconfiança possa ser superado, ao que se somam as informações negativas disseminadas pelas oposições. Mesmo com muitos aspectos positivos, o conjunto parece que necessita entusiasmar as tomadas de decisões, pois boas oportunidades existem em todo o mundo que começa a se recuperar, inclusive em outros países emergentes.
Davos tem uma só pergunta para Dilma.
E Dilma terá que responder uma pergunta que não quer calar: se o governo do PT não está conseguindo organizar uma Copa do Mundo, para a qual teve sete anos de prazo, como vai recolocar a economia nos trilhos, com tantos problemas, em apenas um ano? Faltando seis meses para o evento, não dá mais para colocar a culpa na FIFA, na Imprensa ou no “negativismo”. É estádio que não ficará pronto. É aeroporto de lona. É o esquema de segurança que oferece tudo, menos segurança. Querem um exemplo? O estádio Mané Garrincha, construído na Capital Federal, deveria ter um túnel que passaria por baixo da Esplanada dos Ministérios, chegando ao Centro de Convenções, onde ficaria a Imprensa. Não saiu do papel, apesar do superfaturamento da obra, que chegou a R$ 1,4 bilhão. Em Brasília, nem mesmo o túnel que desafoga a região do aeroporto está pronto. Talvez fique. Talvez não. Dilma é a responsável diante de Davos.
“Nós já sabíamos que isso aconteceria… Falei outras vezes que o Brasil não tem condições de fazer a Copa do Mundo. Vai ser difícil, o Brasil vai passar vergonha…O Brasil tem muita coisa para fazer, como colégio, na saúde e presidio, e não campos de futebol para a Copa do Mundo. Vai tanto dinheiro só para um mês…” – Rivaldo, 41 anos, pentacampeão do mundo em entrevista à Jovem Pan.
Caro Jose da Silva,
O Brasil não foi sempre assim e mesmo assim chegamos onde estamos. Que poderia ser melhor ninguém duvida, mas estes problemas existem por todos os países, principalmente quando estes grande eventos são pontuais. Lamentavelmente, participei de alguns no exterior, em países desenvolvidos como emergentes, e os custos são altos havendo também muitas coisas estranhas. Mas, pense no que V. poderia contribuir para melhorar o quadro, pois somente critir falhas é muito fácil.
Paulo Yokota