O Que Está em Jogo na Tailândia
17 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo de Yuriko Koike no Project Syndicate, disputas entre dois grupos na Ásia, o que está provocando os problemas na Tailândia
Yuriko Koike é uma ex-ministra de defesa do Japão e presidente do Partido Liberal Democrática daquele país e sempre se dedicou à análise de problemas geopolíticos da região. Ninguém mais qualificada do que ela para permitir uma análise dos problemas que estão provocando os distúrbios na Tailândia, pequeno país democrático que passa por uma fase crucial. Ela escreveu um artigo, como faz usualmente, para o Project Syndicate, que não é isenta, pois adota uma posição claramente a favor dos países democráticos, mantendo-se crítica com relação à China que ganha maior importância econômica no mundo, e amplia seus investimentos nas suas posições militares. Mas permite avaliar o que está em jogo nas atuais disputas.
Para quem conhece a Tailândia, além de sua riqueza cultural que atrai muitos turistas de todo o mundo, é um país que veio avançando economicamente e mantém uma tradição democrática, que está atualmente em risco. Sendo um país tropical, apresenta muitas semelhanças com alguns Estados do Norte/Nordeste do Brasil, inclusive nos alimentos de que dispõem, tanto vegetais e frutas, como frutos do mar, contando com um clima quente que é amenizado pelas chuvas intensas, conhecidas como monções. Tem um regime político monárquico parlamentar democrático.
Desde a primeira vitória eleitoral do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra (apesar deste nome tailandês, ele era de origem chinesa) em 2001, que permitiu que os menos favorecidos locais estivessem no poder, com prejuízo para a elite que dominava o país, com a ajuda dos militares.
Quando ele foi reeleito com maior apoio popular, acabou sendo derrubado, com o Supremo Tribunal daquele país declarando que seu partido estava extinto forçando a sua fuga para o exterior. Não se pode afirmar que a corrupção existia, como em muitos países emergentes do ponto de vista político.
Quando os militares voltaram para os quartéis, na nova eleição foi eleita Yingluck Shinawatra, sua irmã, uma executiva de uma empresa de comunicações de Thaksin, tornando-se primeira-ministra com grande maioria parlamentar. Ela, com seu pragmatismo, propôs um projeto de anistia tentando uma convivência de grupos antagônicos, inclusive do ex-primeiro-ministro que a antecedeu, acusado de assassinato.
A oposição lançou uma onda de protestos nas ruas e, para tentar acalmar estes movimentos, antecipou as eleições parlamentares, o que é usual nestes regimes, visando resolver com as eleições os impasses em que se situam. Com a possibilidade de que Thaksin volte ao poder pelo voto, a oposição está boicotando estas eleições.
Como a Tailândia é importante no Sudeste Asiático, mantendo bons relacionamentos com Miyanmar, e é centro comercial com os vistos Camboja, Laos e Vietnã, este país acaba sofrendo pressões da China como do bloco dos países democráticos, que inclui interesses dos Estados Unidos, do Japão e seus aliados regionais.
A autora do artigo expressa sua opinião que as elites tailandesas procuram preservar o seu poder de forma permanente, minando tendências democráticas. Os políticos da oposição tailandesa, muitos deles treinados em boas academias ocidentais, podem ser convencidos que estão forçando demais a situação que pode colocar não só a Tailândia como a região em risco.
Ela acredita que a situação se assemelha com o da Turquia, sendo indispensável falar claramente em favor do regime democrático. Existem ajustes de parte a parte a serem promovidos na Tailândia, pois nenhum político pode ser considerado santo.
Ela entende que se a Tailândia tiver que solicitar o socorro e a arbitragem da China, haverá grandes prejuízos para os regimes democráticos, que terão que ser responsabilizados pela falta de apoio aos tailandeses eleitos democraticamente.
Estas situações críticas se repetem em muitos países do Sudeste Asiático, que, melhorando o seu padrão econômico, aspiram por maiores liberdades democráticas, como é natural.